terça-feira, 31 de julho de 2012

PALAVRAS ROUBADAS AOS LIVROS


Leio quase sempre de lápis na mão. Para guardar esses pequenos momentos de luz que os escritores nos oferecem e que nos fazem reflectir, olhar para as coisas de um ângulo inesperado.

Sublinhar, deixando nas páginas lidas os comentários surgidos no momento, as reflexões ou as emoções que não queremos perder, serve-nos também para dar mais consistência à leitura, deixar marca dela, permitir voltar a ela apen em torno das ideias que especialmente nos comoveram.

Fazer este trabalho de leitura é agarrar o efémero, fazer da leitura uma passagem de tempo que guarda um pedaço desse tempo na memória e que fica registada nas margens dos livros lidos.

E aqui vai uma dessas frases apanhadas com uma rede de apanhar asas e sentidos.

“- CUIDADO, MINHA NETA. ESCREVER É PERIGOSA VAIDADE. DÁ MEDO AOS OUTROS."

“A confissão da leoa” , Mia Couto

terça-feira, 24 de julho de 2012

DAS ESTÁTUAS AO QUOTIDIANO



Venho falar-vos de Eduardo Salavisa que se define a si próprio como desenhador do quotidiano. Na sua vida de professor desenvolveu o diário gráfico como instrumento educacional para encorajar os alunos a desenhar.


Encontrei-o há dias. Ou melhor, reencontrei-o. Não sabia que nos tínhamos cruzado nos exames de uma disciplina que assustava os menos dotados dos que andavam na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (como eu andei e onde me formei em Arquitectura).

A disciplina era Desenho de Estátua. Fiz 3 vezes o exame (que durava 16 horas, 4 manhãs), dois para entrar na Escola, mais 1 no final do 1º ano. O professor era Mestre Lagoa Henriques.

As estátuas a desenhar eram sorteadas em cada exame. Não havia muitas. Meia dúzia, talvez. A mim calhou-me sempre a Vénus de Milo. Acabei por saber desenhá-la de cor em todas as posições possíveis. Infelizmente, desenhar nunca foi arte que desenvolvesse especialmente.


O Eduardo publicou vários livros cm os seus desenhos. São os Diários de Viagens que aconselho fortemente os meus amigos a procurarem e mergulharem neles como num prazer muito especial.

O blog dele vale muito a pena visitar e por lá ficar a "viajar" pelos seus desenhos.

http://diario-grafico.blogspot.pt/


sexta-feira, 20 de julho de 2012

FALAR DE LIVROS


Repetir o mesmo texto em dois blogs em que participo, parece um pouco pretensioso. No entanto, penso que os leitores de um e outro talvez não sejam coincidentes.

A Leitura é uma paixão minha. E a reflexão escrita sobre essa mesma Leitura constitui um exercício que muito prezo e me ajuda a melhor entender e absorver o lido. Esse exercício tenho-o trazido a público no blog "7leitores" em conjunto com vários outros leitores "obsessivos".

Escrevi este textinho a propósito desse mesmo exercício e tenho a esperança que possa interessar também a leitores que sejam frequentadores deste blog e não do outro.


(Com muita admiração e amizade a Helena Vasconcelos e Eugénio Lisboa)


Receio muito o exercício da opinião, sobretudo quando se torna "profissional" e de olho gordo posto na gorjeta; quando procura criar poder e influência sob a capa da reflexão e da especialização; quando vive das modas, ou seja, do negócio de circunstância; quando usa as cinco estrelas, quatro garfos, três parafusos e meio, uma qualquer tabela classificativa; quando intencionalmente magoa, exclui, ignora.

Exemplos destes lemos larga e regularmente nas páginas de crítica literária, musical, cinematográfica, teatral, de artes plásticas, etc,dos nossos jornais.

"O intelectual, o mandarim universitário, o rato de biblioteca não frequenta a escola da bravura.”, afirma Georges Steiner.

("Quatro entrevistas com Georges Steiner", Ramin Jahanbegloo, Ediçõs Fenda, Lisboa, 2006)


Quando falo de livros falo de uma leitura conduzida de dentro da minha vida. Um encontro humilde e apaixonado, sem outras preocupações que não as de permitir que essa leitura me acrescente. E há um rio que corre do livro lido ao meu encontro , um rio por onde circulam pequenas luzes que me vão iluminar hoje e amanhã e depois.

Citado por Harold Bloom ("Ler" Junho 2012), afirmava Oscar Wilde que: "A crítica literária é a única forma civilizada de autobiografia".



O problema será talvez quando não se tem biografia e só se tem opinião. Mas o pior ainda é quando a ausência de biografia implica a incapacidade de amar e faz com que o opinante se esconda por baixo da capa enganosa de um saber que se a si próprio como único critério de análise.

Eu leio com paixão. E quando a paixão não se solta e os livro nada me acrescenta ao acto de tactear a vida com os dedos, então nem falo desses livros. Secam à nascença. Ficam muito bem guardados na gaveta do esquecimento.

Voltando a Bloom: "Quando somos mais velhos, queremos que a crítica - como o ensino, a leitura, a escrita - não seja apenas humanista, seja também humana. Tem de ser amor à literatura antes de mais nada.

E acrescente-se de novo Georges Steiner:

“Ler não é sofrer mas, falando com propriedade, estarmos prontos a receber em nossa casa um convidado, ao cair da noite.”

Vale a pena ler os grandes leitores. Aprendemos muito com eles. Harold Bloom, Georges Steiner, Eduardo Lourenço.

E eu sei pouco. Mas tenho para a troca.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

EB1 GALEGOS - PENAFIEL


Tempo de pousio e de reviver memórias das muitas escolas por onde passei e de que não dei de imediato notícia mas que guardo com muita ternura no coração.

Aqui estão imagens da EB1 de Galegos



terça-feira, 10 de julho de 2012

A DITADURA EM QUE VIVEMOS


Não tenho dúvida de que vivemos numa ditadura comandada pelos bancos. E lamento as figuras tontas e cegas (ou nem por isso) de muitos dos nossos dirigentes, jornalistas, políticos, sempre dispostos a obedecer aos grandes patrões para ficar com as migalhas que os fazem sentir-se um poucochinho importantes.


(Magritte)

O parágrafo que se segue é o início do artigo semanal do meu amigo Nicolau Santos no Expreeso. Vale a pena ler. E talvez chorar. Ou lutar contra o status quo, sabe-se lá como. Com indignação certamente, com protesto sempre que se justifique, com desobediência civil porventura.

"A banca, grande responsável pela brutal crise que o mundo ocidental está a viver, não aprendeu nada com o tsunami que criou. Continua a ter o mesmo tipo de práticas e comportamentos, os mesmos estímulos perigosos, a mesma falta de ética para com os depositantes, a mesma arrogância e balofa superioridade que nos conduziram até aqui, a mesma divisa - a ganância é boa -."



sábado, 7 de julho de 2012

PERGUNTAS INGÉNUAS


Há muitos lugares comuns que de tanto ser repetidos acabam por parecer verdade. É sempre bom interrogá-los para não andarmos a dizer coisas por encomenda.

Aqui vão algumas dúvidas minhas que, noutro contexto completamente diferente, são da mesma família das que Brecht deixou em muitos dos seus poemas.

PORQUE É QUE A INICIATIVA PRIVADA É MELHOR QUE O ESTADO? E PARA QUEM?

COMO É QUE UM PAÍS PODE SOBREVIVER BEM SEM TER UM GOVERNO EFECTIVO DURANTE 18 MESES COMO A BÉLGICA?

PORQUE É QUE NÃO NOS DIZEM NADA SOBRE O QUE E PASSA NA ISLÂNDIA? E COMO É QUE AQUELE PAÍS SOBREVIVEU - E BEM - À CRISE?

PORQUE É QUE PAÍSES COMO O PERU NÃO PAGARAM A DÍVIDA AO FMI E ENTRARAM NUM CICLO DE DESENVOLVIMENTO?

ÀS VEZES FALAM MUITO EM NÓS. DIZEM QUE NÓS GANHÁMOS. QUE FOMOS ÀS MEIAS FINAIS. QUEM SOMOS NÓS EXACTAMENTE? QUEM DE NÓS É QUE GANHOU? E QUEM PERDEU?

E a última mas talvez a que vai mais fundo na dúvida:

O INVESTIMENTO CRIA MESMO EMPREGO? OU REDUZ?

(Nick Hannauer, multimilionário americano: "Um consumidor de classe média cria muito mais emprego que um capitalista como eu."

Director da emprea alemã IG Metall (há cerca de 25 anos) afirmou que o investimento não cria mais emprego, pelo contrário, suprime-o.)


quinta-feira, 5 de julho de 2012

VALONGO



Muitas turmas de várias escolas, 4ºs anos, no anfiteatro da Biblioteca Municipal de Valongo com escolas de Valongo a que me unem laços de especial afecto.

Fiquei babado. Estou habituado a andar pelo palco. Mas desta vez fiquei pouco à vontade, na plateia, a assistir as meninos que representavam e cantavam textos meus.

A sessão foi uma delícia. Um banho de ternura. E só no final subi ao palco.