quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A PORTA


Faz por agora 25 anos que escrevi "A Porta". Ainda é hoje, entre tudo o que escrevi, o livro que mais me entusiasma e emociona.

Tem muito que ver com uma infância e uma juventude em que saltitei de casa em casa e em que sonhava com uma onde ficasse, uma casa amiga, um sítio de consolo, onde coubesse tudo o que as palavras e a imaginação podiam fazer acontecer.

O meu grande amigo João Mota gostou do texto, transformei-o em texto de teatro e o João encenou-o com o talento que todos lhe admiramos. Fui ver um enaio há 15 dias e chorei que nem uma Madalena. Estou ansioso pela estreia no próximo sábado dia 1

É um texto que não tem uma idade-alvo. Ou melhor tem todas todas as idades-alvo. É dos 5 aos 555 anos.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

ECONOMIA, POESIA E AMIZADE



Sempre que me meto com a falta de sensibilidade e cultura dos gestores e dos economistas recebo um mail ou um SMS do meu amigo Nicolau Santos a embrar-me que há economistas que lêem poesia e até há os que escrevem e dizem poesia como ele próprio.

É uma excepção, penso eu. Mas talvez não seja único. Talvez haja outros economistas e gestores que têm outros caminhos para entender o mundo que não sejam apenas as estatísticas e os computadores.

A página semanal do Nicolau no supolemento de economia do Expresso é uma exemplo delicioso em que ele sempre junta poesia ao seu comentário sobre economia.

E eu gosto de lhe dizer que enquanto houver uma economista que goste de poesia, há uma réstea de esperança para este mundo tão tristemente neo-liberalizado.

E aqui deixo um poema do Nicolau do último livro que escreveu a meias com o António Costa Silva.

ANTES ERA A WALL STREET


Nos anos 80 escrevi um poema a dizer:

A Wall Street é uma rua estreita.
E comprida.
Tão comprida que atravessa o meu país.

Nos anos 90 adoptei o poema.

A Castellana é uma avenida larga.
E comprida.
Tão comprida que atravessa o meu país.

Agora está na altura de escrever:
O Bundestag é um edifício muito grande.
E pesado.
Tão pesado que esmaga o meu país.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

MÃOS NO CHÃO E PÉS NO AR


Com o excelente amigo e músico Daniel Completo fizemos um livro de canções e poemas para crianças dos 3 aos 11/12 anos.

O livro saiu há 4 ou 5 dias. O espectáculo já está na estrada há pouco mais de um mês.

Quem quiser adquirir o livro pode fazê-lo atrabés do site abaixo e ser-lhe-á enviado pelo correio.


http://www.cantodascores.com/#!livros/mainPage

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

POETAS & MAÇONS - ALMEIDA GARRETT


Almeida Garrett, personagem de grande dimensão intelectual, literária e política.

Grande vulto do romantismo português, poeta e dramaturgo, político liberal, conhece a prisão, exilado várias vezes, criador do Teatro Nacional D. Maria II e do Conservatório, dedicando-se com empenho às actividades maçónicas.



A um Amigo

Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos próprios deste dia.
E que de os ver tão singelos,
Tão simples como eu, não ria:
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que suceda à flor.

Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

POETAS & MAÇONS - MARQUESA DE ALORNA

A Marquesa de Alorna, poetisa conhecida por "Alcipe", foi uma intelectual de rara dimensão, com reconhecimento em Portugal e na Europa do séc. XVIII.

Atribui-se-lhe a introdução em Portugal da chamada Maçonaria de Adopção. conspiradora contra Napoleão, e mostrou ser um alto espirito a que Alexandre Herculano chamou a Madame Staël portuguesa e grande vulto das nossas letras na transição do velho para o novo regime.



Se me aparto de ti, Deus da bondade,
Que ausência tão cruel! Como é possível
Que me leve a um abismo tão terrível
O pendor infeliz da humanidade!

Conforta-me, Senhor, que esta saudade
Me despedaça o coração sensível;
Se a teus olhos na cruz sou desprezível,
Não olhes para a minha iniquidade!

À suave esperança me entregaste,
E o preço de teu sangue precioso
Me afiança que não me abandonaste.

Se, justo, castigar-me te é forçoso,
lembra-te que te amei, e me criaste
para habitar contigo o Céu lustroso!