tag:blogger.com,1999:blog-21425516871473796502024-03-13T14:54:58.721+00:00Queridas BibliotecasJOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.comBlogger1302125tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-63335092901602518342016-08-31T14:28:00.002+01:002016-08-31T14:28:18.800+01:00COSTA ANDRADE<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Su7yQ6rqv0w/V8LGS1dSIzI/AAAAAAAAIyk/lTW-nxBNM0g_KyxV_WXbudsOlzswrZkGACLcB/s1600/0000771_terra-de-acacias-rubras-poemas-costa-andrade_550.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-Su7yQ6rqv0w/V8LGS1dSIzI/AAAAAAAAIyk/lTW-nxBNM0g_KyxV_WXbudsOlzswrZkGACLcB/s320/0000771_terra-de-acacias-rubras-poemas-costa-andrade_550.jpeg" width="217" height="320" /></a></div><br />
Costa Andrade (1936-11009)<br />
<br />
Combatente pela liberdade em Angola, autor de poesia e ficção, artista plástico, deputado pelo MPLA em Luanda.<br />
<br />
<br />
Depois de fazer o liceu no Huambo e no Lubango, frequentou a Faculdade de Arquitectura de Lisboa. Criou, com Carlos Erverdosa, a Colecção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, que tenho vindo a divulgar, e que desempenhou um papel decisivo na divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa, especialmente da literatura angolana.<br />
<br />
CONTRATADOS<br />
<br />
À hora do sol posto<br />
as rolas traçam<br />
desenhos de feitiços sinuosos<br />
<br />
caminhos sob a calma das mulembas<br />
<br />
e abraços de segredos e silêncios<br />
<br />
<br />
...longe ... muito longe<br />
um risco brando<br />
acorda os ecos dos quissanjes<br />
vermelho como o fogo das queimadas<br />
com imagens de mucuisses e luar<br />
<br />
Canções que os velhos cantam<br />
murmurando<br />
...e nos homens cansados de lembrar<br />
a distância vai calando mágoas<br />
<br />
renasce em cada braço <br />
a força de um secreto entendimento <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-6Qwf7fUxIHk/V8LGY_Nv14I/AAAAAAAAIyo/_oIsq9IT5VInA-5MxIeTHuwqp5BD-aRLgCLcB/s1600/costa%2Bandrade1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-6Qwf7fUxIHk/V8LGY_Nv14I/AAAAAAAAIyo/_oIsq9IT5VInA-5MxIeTHuwqp5BD-aRLgCLcB/s320/costa%2Bandrade1.jpg" width="320" height="286" /></a></div>JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-35297517689427190252016-08-21T14:08:00.001+01:002016-08-21T14:08:27.841+01:00MANUEL DOS SANTOS LIMA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-43AW685X-IY/V2bqivNgpyI/AAAAAAAAIqk/tdE55y5G02AcEmgn645MFhxQNIYl-QR6wCLcB/s1600/digitalizar0001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-43AW685X-IY/V2bqivNgpyI/AAAAAAAAIqk/tdE55y5G02AcEmgn645MFhxQNIYl-QR6wCLcB/s320/digitalizar0001.jpg" /></a></div><br />
Continuando a interrompida visita à poesia publicado em pequnos cadernos pela Casa dos Estudantes do Império, no caso presente em 1961.<br />
<br />
Manuel dos Santos Lima é o fundador em 1960 e primeiro comandante do Exército Popular de Libertação, braço armado do MPLA.<br />
Teendo entrado em rotura com a orientação do MPLA, regressou à Europa, estudou a Suiça, foi professor em Universidades do Canadá, Nova York, Paris, entre outras. <br />
<br />
Poeta e romancista um pouco esquecido, tenho o orgulho de o conhecer e de poder dizer que somos profundamente amigos.<br />
<br />
ESCRAVOS<br />
<br />
Os homens acharam-se de peito ao relento,<br />
sem terra,<br />
sem caminho,<br />
sem destino,<br />
homens sozinhos<br />
acorrentados no terreiro<br />
com os caminhos incógnitos do universo<br />
traçados nos rostos atónitos,<br />
homens de peito ao relento,<br />
quissanges dispersos<br />
nas insónias do mar.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-h3255xS7SYw/V7mma_HPKzI/AAAAAAAAIxw/lk8BPZ_XnHEA03KCduQdl_PYri_n3aykwCLcB/s1600/0%252C%252C18295085_404%252C00.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-h3255xS7SYw/V7mma_HPKzI/AAAAAAAAIxw/lk8BPZ_XnHEA03KCduQdl_PYri_n3aykwCLcB/s320/0%252C%252C18295085_404%252C00.jpg" width="320" height="180" /></a></div>JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-46105235816866310452016-06-21T22:20:00.000+01:002016-06-21T22:20:04.135+01:00JOSÉ CRAVEIRINHA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-mXzhkLLV-g4/V2cMA83FDrI/AAAAAAAAIrg/K5VLoWxnWfsDSN-OXQiHjVoAfX4Ugtn4QCLcB/s1600/chigubo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-mXzhkLLV-g4/V2cMA83FDrI/AAAAAAAAIrg/K5VLoWxnWfsDSN-OXQiHjVoAfX4Ugtn4QCLcB/s320/chigubo.jpg" /></a></div><br />
Outro dos livrinhos da CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO, onde aparecem alguns dos extraordinários poemas do início da carreira de José Craveirinha que, quanto a mim, é um dos maiores poetas da língua portuguesa do séc. XX.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-L9OBor5NnQU/V2cMJOcSG9I/AAAAAAAAIro/AsUHDrO_0R8e9HkfsbJQEEL12Q8Jfr43QCLcB/s1600/Craveirinha%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-L9OBor5NnQU/V2cMJOcSG9I/AAAAAAAAIro/AsUHDrO_0R8e9HkfsbJQEEL12Q8Jfr43QCLcB/s320/Craveirinha%2B2.jpg" /></a></div>Grito negro<br />
<br />
Eu sou carvão!<br />
E tu arrancas-me brutalmente do chão<br />
e fazes-me tua mina, patrão.<br />
Eu sou carvão!<br />
E tu acendes-me, patrão,<br />
para te servir eternamente como força motriz<br />
mas eternamente não, patrão.<br />
Eu sou carvão<br />
e tenho que arder sim;<br />
queimar tudo com a força da minha combustão.<br />
Eu sou carvão;<br />
tenho que arder na exploração<br />
arder até às cinzas da maldição<br />
arder vivo como alcatrão, meu irmão,<br />
até não ser mais a tua mina, patrão.<br />
Eu sou carvão.<br />
Tenho que arder<br />
queimar tudo com o fogo da minha combustão.<br />
Sim!<br />
Eu sou o teu carvão, patrão.JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-13403420299508515042016-06-19T22:09:00.000+01:002016-06-19T22:09:59.894+01:00VIRIATO DA CRUZ<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-wszOuX0lNiE/V2cKCNb-6-I/AAAAAAAAIrU/oYuQ1ghfZNQamQFjL_OStRwiDDevNE5pQCLcB/s1600/VC.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-wszOuX0lNiE/V2cKCNb-6-I/AAAAAAAAIrU/oYuQ1ghfZNQamQFjL_OStRwiDDevNE5pQCLcB/s320/VC.jpg" /></a></div><br />
<br />
Nos anos 50 e 60 a CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO, em Lisboa, foi um lar onde vinham habitar estudantes das colónias africanas portuguesas. Transformou-se num lugar de troca de ideias entre muitos dos que viriam a ser os dirigentes dos movimentos de libertação de Angola, Guiné - Cabo Verde e Moçambique.<br />
<br />
Foi também um lugar onde cresceu a literatura africana em língua portuguesa e onde publicaram pela primeira vez poetas e escritores que são hoje marcos fundamentais da literatura lusófona de origem africana.<br />
<br />
Vou aqui fazer um passeio por alguns dos livrinhos de poesia publicados então pela CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO e editados de novo há pouco pela UCCLA.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-RpA3BR79rnU/V2buZwKkrCI/AAAAAAAAIq8/GFibumRSYbYJjAxenMbmTnzwTC9A-npbQCLcB/s1600/Viriato%2Bda%2BCruz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-RpA3BR79rnU/V2buZwKkrCI/AAAAAAAAIq8/GFibumRSYbYJjAxenMbmTnzwTC9A-npbQCLcB/s320/Viriato%2Bda%2BCruz.jpg" /></a></div><br />
<br />
NAMORO<br />
<br />
<br />
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado<br />
e com a letra bonita eu disse ela tinha<br />
um sorrir luminoso tão quente e gaiato<br />
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas<br />
espalhando diamantes na fímbria do mar<br />
e dando calor ao sumo das mangas.<br />
sua pele macia - era sumaúma...<br />
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas<br />
tão rijo e tão doce - como o maboque...<br />
Seu seios laranjas - laranjas do Loge<br />
seus dentes... - marfim...<br />
Mandei-lhe uma carta<br />
e ela disse que não.<br />
<br />
Mandei-lhe um cartão<br />
que o Maninjo tipografou:<br />
"Por ti sofre o meu coração"<br />
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO<br />
E ela o canto do NÃO dobrou.<br />
<br />
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete<br />
pedindo rogando de joelhos no chão<br />
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,<br />
me desse a ventura do seu namoro...<br />
E ela disse que não.<br />
<br />
Levei à avó Chica, quimbanda de fama<br />
a areia da marca que o seu pé deixou<br />
para que fizesse um feitiço forte e seguro<br />
que nela nascesse um amor como o meu...<br />
E o feitiço falhou.<br />
<br />
Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,<br />
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,<br />
paguei-lhe doces na calçada da Missão,<br />
ficamos num banco do largo da Estátua,<br />
afaguei-lhe as mãos...<br />
falei-lhe de amor... e ela disse que não.<br />
<br />
Andei barbado, sujo, e descalço,<br />
como um mona-ngamba.<br />
Procuraram por mim<br />
" - Não viu...(ai, não viu...?) Não viu Benjamim?"<br />
E perdido me deram no morro da Samba.<br />
<br />
para me distrair<br />
levaram-me ao baile do sô Januário<br />
mas ela lá estava num canto a rir<br />
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário<br />
<br />
Tocaram uma rumba dancei com ela<br />
e num passo maluco voamos na sala<br />
qual uma estrela riscando o céu!<br />
E a malta gritou: "Aí Benjamim!"<br />
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim<br />
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-53230096545754473512016-06-04T19:56:00.001+01:002016-06-04T19:56:57.823+01:00COME SORVETES VELHA COME SORVETESNo ano passado o Manuel Alberto Valente, finalmente, publicou a sua poesia que andava perdida em publicações mais que esgotadas e inéditos guardados na gaveta.<br />
<br />
Só nos resta agradecer e desejar que não se fique por aqui.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-jYE-rX0KGE0/V1MjJEP85uI/AAAAAAAAIoo/wBHlAoDLk74pnyOThVa06bcv8SnXm0AmgCLcB/s1600/MA%2BVal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-jYE-rX0KGE0/V1MjJEP85uI/AAAAAAAAIoo/wBHlAoDLk74pnyOThVa06bcv8SnXm0AmgCLcB/s320/MA%2BVal.jpg" /></a></div><br />
Come sorvetes velha come sorvetes<br />
que a morte chega mais cedo doi que pensas<br />
bem melhor será partires toda fresquinha por dentro<br />
com tanto fogo aceso nas paredes de Maio<br />
<br />
Além disso ficas mais bonita (tu que já és <br />
de uma criança) com a bolacha esguia <br />
a arrefecer-te os dedos frios e a língua<br />
a saltitar na palidez dos lábios<br />
<br />
come sorvetes velha come sorvetes que <br />
tirando os chocolates donosso tio<br />
Fernando Pessoa<br />
os sorvetes são a melhor metafísica<br />
e tornam os dentes incrivelmente brancos<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-6XXEOMm0Ets/V1MjxNQSBQI/AAAAAAAAIo0/sDW1fTMfUd4YwazDxiiLG_EFVDBIUagMwCLcB/s1600/MA%2BValente.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-6XXEOMm0Ets/V1MjxNQSBQI/AAAAAAAAIo0/sDW1fTMfUd4YwazDxiiLG_EFVDBIUagMwCLcB/s320/MA%2BValente.jpg" /></a></div>JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-10409412712416281132016-05-07T11:57:00.000+01:002016-05-07T11:57:08.976+01:00LUÍS FILIPE CASTRO MENDES<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-WN6snagEHx8/VwVRKOr1UnI/AAAAAAAAIhk/2oyPXExJppAMq2_GmwuWKMjD8SZxOuRfA/s1600/ulisses.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-WN6snagEHx8/VwVRKOr1UnI/AAAAAAAAIhk/2oyPXExJppAMq2_GmwuWKMjD8SZxOuRfA/s320/ulisses.jpg" /></a></div><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-NL7mOuJ6T70/VwVRXC_IH7I/AAAAAAAAIho/RTatPiVXHjs7YYoKSJUBWAI28sQMoFIfw/s1600/lfcm.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-NL7mOuJ6T70/VwVRXC_IH7I/AAAAAAAAIho/RTatPiVXHjs7YYoKSJUBWAI28sQMoFIfw/s320/lfcm.jpg" /></a></div>JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-9020977868639947582016-04-29T13:08:00.001+01:002016-04-29T13:08:28.997+01:00POETAS DE ABRIL E ABRIL, MARIA TERESA HORTA <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-KN4-8xg7ncs/VyNOr26gLzI/AAAAAAAAIlo/sigSEGBgwTojwPMH1OYvHb_G-Vj6ZTtvgCLcB/s1600/t%2Bhorta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-KN4-8xg7ncs/VyNOr26gLzI/AAAAAAAAIlo/sigSEGBgwTojwPMH1OYvHb_G-Vj6ZTtvgCLcB/s320/t%2Bhorta.jpg" /></a></div><br />
<br />
MULHERES DE ABRIL<br />
<br />
Mulheres de Abril<br />
somos<br />
mãos unidas<br />
<br />
certeza já acesa<br />
em todas <br />
nós<br />
<br />
Juntas formamos<br />
fileiras<br />
decididas<br />
<br />
ninguém calará<br />
a nossa<br />
voz<br />
<br />
Mulheres de Abril<br />
somos<br />
mãos unidas<br />
<br />
na construção<br />
operária<br />
do país<br />
<br />
Nos ventres férteis<br />
a vontade<br />
erguida<br />
<br />
de um Portugal<br />
que JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-61765903562441242762016-04-27T08:00:00.000+01:002016-04-27T08:00:13.263+01:00POETAS DE ABRIL EM ABRIL: JOAQUIM PESSOA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-dSC3zftDHaw/VxgYG09wwiI/AAAAAAAAIlA/bZu3FMBTA-syGCNquD6Q7K2te_R_K_0lACLcB/s1600/jOAQUIM%2BpESSOA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-dSC3zftDHaw/VxgYG09wwiI/AAAAAAAAIlA/bZu3FMBTA-syGCNquD6Q7K2te_R_K_0lACLcB/s320/jOAQUIM%2BpESSOA.jpg" /></a></div><br />
<br />
RUAS DE LISBOA<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
veias que o meu sangue abraça<br />
e põe cravos de ansiedade <br />
na lapela de quem passa.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
onde perco o coração.<br />
Poema diz a verdade!<br />
Diz a verdade canção!<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
amanhecendo a firmeza<br />
duma ponte entre a saudade<br />
e um Abril à portuguesa.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
onde vingo as minhas asas.<br />
O meu nome é liberdade<br />
e moro em todas as casas.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
praças da minha alegria<br />
onde antes da claridade<br />
era noite todo o dia.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
onde o velho é sempre novo:<br />
as ruas não têm idade<br />
porque são todas do povo.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
becos de ganga puída.<br />
Oficinas da verdade<br />
dos operários desta vida.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
janelas do meu olhar<br />
onde os pardais da amizade<br />
à tarde vêm poisar.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
rasgadas por minha mão.<br />
A gente passa à vontade<br />
quando pisa o nosso chão.<br />
<br />
Ruas da minha cidade<br />
Aonde eu quero morrer<br />
Com cravos de eternidade<br />
Dos meus olhos a nascer.<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-24375601077922163742016-04-26T05:00:00.000+01:002016-04-26T05:00:24.241+01:00ABRIL NOS POETAS DE ABRIL: JOSÉ JORGE LETRIAComoveme-me muito este poema do meu muito querido amigo José Jorge Letria. É muito importante guardar a memórica fantástica dersses dias e contar vezes sem conta como foi viver ao vivo esses dias no centro do mais furacão da nossa vida.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-R_NjfbSwK5E/Vwl6wMZnsJI/AAAAAAAAIjA/aX3g08QRaQMXizZrYWGZcL4AlBTfg35Og/s1600/jj%2Bletria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-R_NjfbSwK5E/Vwl6wMZnsJI/AAAAAAAAIjA/aX3g08QRaQMXizZrYWGZcL4AlBTfg35Og/s320/jj%2Bletria.jpg" /></a></div><br />
O QUE AQUELA NOITE ME QUIS DAR<br />
<br />
<br />
Eu não estava em casa nessa noite, filho,<br />
nem podia estar. Estava nas ruas com os<br />
[soldados<br />
que rumavam às rádios e aos quartéis,<br />
[engalanados<br />
de sombra e de júbilo, a ver o que aquela<br />
[noite<br />
ia dar, o que a nossa liberdade prometia<br />
[ser.<br />
E tu, filho, tinhas a idade rumorejante<br />
desse Abril embalado por uma canção do<br />
[Zeca.<br />
Como posso eu explicar-te tudo aquilo<br />
que tu nasceste para aprender, para viver?<br />
Eu estava aquartelado no meu silêncio<br />
de pétalas, sílabas e marés, no meu dédalo<br />
de vozes embriagadas pelo vento,<br />
na coragem errante das pelejas da infância<br />
e pouco ou nada sabia do mistério desse<br />
[mês<br />
capaz de transformar em assombro as<br />
[nossas vidas.<br />
Sim, sou eu neste retrato antigo,<br />
a receber em festa os exilados, os que <br />
[chegavam<br />
com grinaldas de cantigas e a flor de uma<br />
[ilusão<br />
bordada a sangue e espuma no capote das<br />
[nocturnas caminhadas.<br />
Sim, sou eu a escrever a primeira<br />
[reportagem<br />
do primeiro de muitos dias em que o<br />
[tempo<br />
deixou de contar, em que os relógios<br />
se tornaram corolas de paixão e riso<br />
na lapela larga da alegria desta pátria.<br />
<br />
Eu não estava em casa nessa noite, filho,<br />
estava a afinar o coração pelo tom<br />
das mais belas melodias que alguém pode<br />
[aprender<br />
para dar a quem ama a paz de um sono<br />
sem tormento.<br />
<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-36739815897580253382016-04-25T04:00:00.000+01:002016-04-25T04:00:00.940+01:00POETAS DE ABRIL EM ABRIL: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-rb43KrcYSvk/VxgXHlcAt3I/AAAAAAAAIk4/jPdmeJw52S0PsFeSmpcQkB2hHmUtibZ_wCLcB/s1600/sOPHIA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-rb43KrcYSvk/VxgXHlcAt3I/AAAAAAAAIk4/jPdmeJw52S0PsFeSmpcQkB2hHmUtibZ_wCLcB/s320/sOPHIA.jpg" /></a></div><br />
25 DE ABRIL<br />
<br />
<br />
<br />
Esta é a madrugada que eu esperava<br />
O dia inicial inteiro e limpo<br />
Onde emergimos da noite e do silêncio <br />
E livres habitamos a substância do tempo<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-68678835971775422802016-04-21T22:51:00.000+01:002016-04-21T22:51:08.945+01:00POETAS DE ABRIL EM ABBRIL: DE NOVO MANUEL ALEGRE<br />
Um belíssimo sonetoque juntam a guerra, o trabalho e a luta pela liberdade<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-FuDhFQHbscs/Vwl5DN7ixCI/AAAAAAAAIiw/7otgC3xBcMYbm3P6uC1wlU-WV9sxQ2Q9w/s1600/m%2Balegre.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-FuDhFQHbscs/Vwl5DN7ixCI/AAAAAAAAIiw/7otgC3xBcMYbm3P6uC1wlU-WV9sxQ2Q9w/s320/m%2Balegre.jpg" /></a></div><br />
AS MÃOS<br />
<br />
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.<br />
Com mãos tudo se faz e se desfaz.<br />
Com mãos se faz o poema - e são de terra.<br />
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.<br />
<br />
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.<br />
Não são de pedras estas casas, mas<br />
de mãos. E estão no fruto e na palavra<br />
as mãos que são o canto e são as armas.<br />
<br />
E cravam-se no tempo como farpas<br />
as mãos que vês nas coisas transformadas.<br />
Folhas que vão no vento: verdes harpas.<br />
<br />
De mãos é cada flor, cada cidade.<br />
Ninguém pode vencer estas espadas:<br />
nas tuas mãos começa a liberdade.<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-41449434424681810152016-04-19T22:40:00.000+01:002016-04-19T22:40:04.699+01:00POETAS DE ABRIL EM ABRIL: MANUEL ALEGREManuel Alegre é o poeta da minha geração, a voz que ilumina os estudantes e dá força e poesia à sua revolta cada vez mais intensa a partir de 68. <br />
<br />
Este belíssimo poema que é um dos primeiros de "Praça da Canção" é todo ele um programa do que é a poesia da revolta.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-w6cm97Bn1TY/Vwl2zNvG-wI/AAAAAAAAIig/plf8zxUbG8Ahh95zWdwyizIZel42nHP4Q/s1600/m%2Belegre%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-w6cm97Bn1TY/Vwl2zNvG-wI/AAAAAAAAIig/plf8zxUbG8Ahh95zWdwyizIZel42nHP4Q/s320/m%2Belegre%2B2.jpg" /></a></div><br />
BICICLETA DE RECADOS<br />
<br />
Bicicleta de Na minha bicicleta de recados<br />
eu vou pelos caminhos.<br />
Pedalo nas palavras atravesso as cidades<br />
bato às portas das casas e vêm homens espantados<br />
ouvir o meu recado ouvir minha canção.<br />
Na minha bicicleta de recados<br />
eu vou pelos caminhos.<br />
Vem gente para a rua a ver a novidade<br />
como se fosse a chegada<br />
do João que foi à Índia<br />
e era o moço mais galante<br />
que havia nas redondezas.<br />
Eu não sou o João que foi à Índia<br />
mas trago todos os soldados que partiram<br />
e as cartas que não escreveram<br />
e as saudades que tiveram<br />
na minha bicicleta de recados<br />
atravessando a madrugada dos poemas.<br />
Desde o Minho ao Algarve<br />
eu vou pelos caminhos.<br />
E vêm homens perguntar se houve milagre<br />
perguntam pela chuva que já tarda<br />
perguntam pelos filhos que foram à guerra<br />
perguntam pelo sol perguntam pela vida<br />
e vêm homens espantados às janelas<br />
ouvir o meu recado ouvir minha canção.<br />
Porque eu trago notícias de todos os filhos<br />
eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos<br />
e um cesto carregado de vindima<br />
eu trago a vida<br />
na minha bicicleta de recados<br />
atravessando a madrugada dos poemas.JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-7542539905322687092016-04-16T12:03:00.000+01:002016-04-16T12:03:01.149+01:00POETAS DE ABRIL EM ABRIL: DE NOVO ARY DOS SANTOSEnm Abril trago aqui os poetas de Abril, talvez pelo lado menos bombástico ou menos conhecido.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-koF48J_G7qE/VweQqIa8gnI/AAAAAAAAIiM/XI_WZn_7jYM0NmGssW9pm9Wb0tCeQRlSQ/s1600/ary%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-koF48J_G7qE/VweQqIa8gnI/AAAAAAAAIiM/XI_WZn_7jYM0NmGssW9pm9Wb0tCeQRlSQ/s320/ary%2B2.jpg" /></a></div><br />
(imagem reproduzida de carantoonha.blogspot)<br />
<br />
INFÂNCIA<br />
<br />
Não minha mãe. Não era ali que estava.<br />
Talvez noutra gaveta. Noutro quarto.<br />
Talvez dentro de mim que me apertava<br />
contra as paredes do teu sexo-parto<br />
<br />
A porta que entretanto atravessava<br />
talhada no teu ventre de alabastro<br />
abria-se fechava dilatava.<br />
Agora sei: dali nunca mais parto.<br />
<br />
Não minha mãe. Também não era a sala<br />
nem nenhum dos retratos de família<br />
nem a brisa que a vida já não tem.<br />
<br />
Talvez a tua voz que ainda me fala...<br />
... o meu berço enfeitado a buganvília...<br />
Tenho tantas saudades, minha mãe!JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-58134159440562591132016-04-13T11:54:00.000+01:002016-04-13T11:54:00.923+01:00POETAS DE ABRIL EM ABRIL: ARY DOS SANTOSPara celebrar Abril aqui vão alguns poemas dos poetas de Abril. E começamos com Ary.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-ZtHFhNy6aSo/VwePKUBpnAI/AAAAAAAAIiA/CFh7oR8XexosmKa6k5tlbyfXZckP_zWHA/s1600/ARY.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-ZtHFhNy6aSo/VwePKUBpnAI/AAAAAAAAIiA/CFh7oR8XexosmKa6k5tlbyfXZckP_zWHA/s320/ARY.jpg" /></a></div><br />
<br />
ARTE PERIPOÉTICA<br />
<br />
<br />
Aristóteles, visita<br />
<br />
da casa de minha avó,<br />
<br />
não acharia esquisita<br />
<br />
esta forma de estar só<br />
<br />
esta maneira de ser<br />
<br />
contra a maneira do tempo<br />
<br />
esta maneira de ver<br />
<br />
o que o tempo tem por dentro.<br />
<br />
Aristóteles diria<br />
<br />
entre dois goles de chá<br />
<br />
que o melhor ainda será<br />
<br />
deixar o tempo onde está<br />
<br />
pô-lo de perto no tema<br />
<br />
e de parte na poesia<br />
<br />
para manter o poema<br />
<br />
dentro da ordem do dia.<br />
<br />
Aristóteles, visita<br />
<br />
da casa da minha avó,<br />
<br />
não acharia esquisita<br />
<br />
esta forma de estar só.<br />
<br />
Ele sabia que o poeta<br />
<br />
depois de tudo inventado<br />
<br />
depois de tudo previsto<br />
<br />
de tudo vistoriado<br />
<br />
teria de fazer isto<br />
<br />
para não continuar<br />
<br />
com que já estava acabado<br />
<br />
teria de ser presente<br />
<br />
não futuro antecipado<br />
<br />
não profeta não vidente<br />
<br />
mas aço bem temperado<br />
<br />
cachorro ferrando o dente<br />
<br />
na canela do passado<br />
<br />
adaga cravando a ponta<br />
<br />
no coração do sentido<br />
<br />
palavra osso furando<br />
<br />
pele de cão perseguido.<br />
<br />
Aristóteles, visita<br />
<br />
da casa da minha avó,<br />
<br />
não acharia esquisita<br />
<br />
esta forma de estar só<br />
<br />
esta maneira de riso<br />
<br />
que é a mais original<br />
<br />
forma de se ter juízo<br />
<br />
e ser poeta actual.<br />
<br />
Aristóteles, visita<br />
<br />
da casa da minha avó,<br />
<br />
também diria antes só<br />
<br />
do que mal acompanhado<br />
<br />
antes morto emparedado<br />
<br />
em muro de pedra e cal<br />
<br />
aonde não entre bicho<br />
<br />
que não seja essencial<br />
<br />
à evasão da palavra<br />
<br />
deste silêncio mortal.JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-68442243545694748362016-04-10T22:57:00.000+01:002016-04-10T22:57:00.167+01:00VLADIMIR HOLANConheci textos deste poeta checo traduzidos excelemtemente por Eugénio de Andrade. Em Paris comprei uma antologia de poemas de Holan em francês. Daí traduzi alguns poemas alguns dos quais pedi ao Jorge Listopad que comparasse com os originais.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-cJn6WvqgDAQ/VwQ1Czb3zeI/AAAAAAAAIhU/qToyY7NrMo89SVnJuKTsHrDBGwHPERuEQ/s1600/transferir%2B%25285%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-cJn6WvqgDAQ/VwQ1Czb3zeI/AAAAAAAAIhU/qToyY7NrMo89SVnJuKTsHrDBGwHPERuEQ/s320/transferir%2B%25285%2529.jpg" /></a></div><br />
EXISTEM<br />
<br />
Existem livros <br />
que se abrem sozinhos.<br />
A alma também faz amor. Eis o instante<br />
Em que os mortos reencontram o que não nasceu…<br />
<br />
Mas ao longe, lá fora, <br />
há mais homens do que homem,<br />
mas ao longe, lá fora,<br />
há mais universo que Deus.<br />
<br />
(Tradução José Fanha)JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-69101729997872599522016-04-07T22:52:00.000+01:002016-04-08T12:21:06.308+01:00PIEDAD BONETT<br />
Gosto muito e aprendo muito a traduzir poetas de outras línguas. Aqui é o caso de Piedad Bonett, Colombiana, também já traduzida por Nuno Júdice.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-2yNoNSNDzmY/VwQzuPiRUAI/AAAAAAAAIhI/yWz4mD-w5FsZHdxYFM66txFVevIgYszLg/s1600/transferir%2B%25284%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-2yNoNSNDzmY/VwQzuPiRUAI/AAAAAAAAIhI/yWz4mD-w5FsZHdxYFM66txFVevIgYszLg/s320/transferir%2B%25284%2529.jpg" /></a></div><br />
DO REINO DESTE MUNDO<br />
<br />
Falo <br />
da menina desfigurada pelo fogo<br />
e dos seios erguidos e doces como janelas de luz,<br />
do menino cego a quem a mãe descreve uma cor<br />
inventando palavras,<br />
do beijo leporino nunca dado,<br />
das mãos que não chegaram a saber que um chuvisco é frágil <br />
como o pescoço de um pássaro,<br />
do idiota que olha o caixão em que será enterrado o seu pai.<br />
Falo de Deus, perfeito como um círculo, e todo poderoso e<br />
justo e sábio. <br />
<br />
(Tradução de José Fanha)JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-2935674313570281392016-04-04T15:19:00.000+01:002016-04-04T15:19:03.557+01:00MANUAL DE DESPEDIDA PARA MULHERES SENSÍVEIS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-N_5NAFjBemU/VwJnMNnyd1I/AAAAAAAAIgg/HnGIoU5IU4E54b12EBCOvEaD3PKH9B9zw/s1600/FP.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-N_5NAFjBemU/VwJnMNnyd1I/AAAAAAAAIgg/HnGIoU5IU4E54b12EBCOvEaD3PKH9B9zw/s320/FP.jpg" /></a></div><br />
<br />
É importante passar palavra. No último livro de Filipa Leal mora a poesia. Se lerem alhguma opinião assim-assim nalgum jornal, não liguem. Os jornais trazem muitas vezes opiniões à toa. Ocupam o espaço assim-assim ou pior ainda.<br />
Por isso vos digo: <br />
peguem neste livro intitulado "VEM À QUINTA-FEIRA" e leiam-no. Fala de pessoas, fala do amor, fala da da separação, fala da distãncia, fala do pai e da mãe, fala de um país. É poesia viva. Não se esqueçam: leiam este livro.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-Xi_KFzyY2DM/VwJlfjNvCFI/AAAAAAAAIgU/pAyu2odZLYQKiytqm_0ZYAdYbXPkIOiJA/s1600/Vem%2BFL.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-Xi_KFzyY2DM/VwJlfjNvCFI/AAAAAAAAIgU/pAyu2odZLYQKiytqm_0ZYAdYbXPkIOiJA/s320/Vem%2BFL.jpg" /></a></div><br />
Ser digna na partida, na despedida, dizer adeus com jeito,<br />
não chorar para não enfraquecer o emigrante, <br />
mesmo que o emigrante seja o nosso irmão mais novo,<br />
dobrar-lhe as camisas, limpar-lhe as sapatilhas <br />
com um pano húmido, ajudá-lo a pesar a mala que não pode levar mais de vinte quilos<br />
(quanto pesará o coração dele? E o meu?)<br />
três pares de sapatos, um jogo de lençóis, o corta-vento,<br />
oferecer-lhe a medalha que a Mãe usava sempre que partia <br />
e que talvez não tenha usado quando partiu para sempre,<br />
ter passado o dia à procura da medalha pela casa toda<br />
(ninguém sai mais daqui sem a medalha, ninguém sai mais daqui),<br />
pensar que a data escolhida para partir é a da morte da Mãe,<br />
pensar que a Mãe não está comigo para lhe dobrar as camisas <br />
e mesmo assim não chorar, nunca chorar, <br />
mesmo que o Pai esteja a chorar, mesmo que estejam todos a chorar.<br />
tomar umas merdas, se for preciso:uns calmantes, uns relaxantes, <br />
uns anti-oxidantes para não chorar; andar a pé para não chorar,<br />
apanhar sol para não chorar, jantar fora para não chorar,<br />
conhecer gente, <br />
mas gente animada, pintar o cabelo e esconder as brancas, <br />
que os grisalhos são mais chorões. dizer graças para não por também <br />
os amigos a chorar, os amigos gostam de nós é a rir, ver<br />
séries cómicas <br />
até cair, acordar mais cedo para lhe fazer torradas antes da viagem, <br />
com manteiga, com doce de mirtilo, com tudo o que houver <br />
no frigorífico, <br />
e não pensar que nunca mais seremos pequenos outra vez,<br />
cheios de Mãe e de Pai no quarto ao lado,<br />
cheios de emprego no quarto ao lado, quando ainda existia Portugal.<br />
<br />
É tanto o que se pede a um ser humano no século vinte e um<br />
Que morra de medo e de saudade no aeroporto Francisco Sá <br />
Carneiro.<br />
Mas que não chore.JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-57160995583339780792016-03-31T22:10:00.000+01:002016-03-31T22:10:01.627+01:00VEM À QUINTA-FEIRA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-UkVW93IO_XI/VvcG3kmaSvI/AAAAAAAAIfk/Y2OLgKW5MUYVNPmJbKyFgeV3xmQYNmb7w/s1600/Vem%2BFL.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-UkVW93IO_XI/VvcG3kmaSvI/AAAAAAAAIfk/Y2OLgKW5MUYVNPmJbKyFgeV3xmQYNmb7w/s320/Vem%2BFL.jpg" /></a></div><br />
Filipa Leal, poeta de cuja poesia gosto muito, acaba de publicar um novo livro. Vale a pena lê-lo. É preciso lê-lo. As suas palavras entretecem mantinhas de reflão a partir de momentos do quotidiano de uma forma tão delicada que até parece fácil escrever assim.<br />
<br />
Mas, quando mergulhamos na sua escrita percebemos com encanto como é denso e elaborado o seu ofício de palavras.<br />
<br />
Bem haja, minha amiga.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-mSSha8d-v4o/VvcGuh0u1qI/AAAAAAAAIfg/rYuYvFfY0xoOMRMrE3vtv4TMWZK3nP9TQ/s1600/Filipa%2BLeal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-mSSha8d-v4o/VvcGuh0u1qI/AAAAAAAAIfg/rYuYvFfY0xoOMRMrE3vtv4TMWZK3nP9TQ/s320/Filipa%2BLeal.jpg" /></a></div><br />
VEM À QUINTA -FEIRA<br />
<br />
<br />
Vem à Quinta-feira.<br />
<br />
É quase fim-de-semana e podemos, talvez, beber uma cerveja<br />
ao cair da tarde, enquanto planeamos a viagem a Paris. E se Paris<br />
for muito caro - sei que isto não está fácil - podemos ir a Guimarães<br />
assistir a um concerto, que ouvir é a maneira mais pura de calar.<br />
<br />
Vem à Quinta-feira.<br />
<br />
A seguir, temos ainda a Sexta e talvez me esperes à porta do emprego,<br />
e talvez fiques para Sábado e Domingo, e talvez o mundo pare<br />
de acabar tão depressa.<br />
<br />
Vem à Quinta-feira.<br />
Mas não venhas nesta, vem na próxima.<br />
Nesta, tenho um compromisso que não posso adiar, é um compromisso<br />
profissional - sabes que isto não está fácil - e talvez nos dê hipótese de irmos<br />
a Paris ou a Guimarães. Vem na próxima, que eu preciso de tempo<br />
para arranjar o cabelo, para arranjar o coração,<br />
para elaborar a lista do que me falta fazer contigo.<br />
<br />
Vem à Quinta-feira e não te demores.<br />
Enquanto te escrevo, já fui elaborando a lista<br />
(sabes como gosto de pensar em tudo<br />
ao mesmo tempo)<br />
e afinal o que me falta fazer contigo <br />
não é caro:<br />
- viajar de auto-caravana,<br />
- dançar pela Estrada Nacional,<br />
- ver-te chorar.<br />
Choras tão pouco. Ainda bem que estás contente.<br />
<br />
Vem à Quinta-feira.<br />
<br />
Se não pudermos ir a Paris ou a Guimarães, não te preocupes.<br />
Vem na mesma, que eu vou apanhando as canas-da-índia, as fiteiras,<br />
eu vou recolhendo a palha e reunindo cordas e lona.<br />
Já estive a aprender no Youtube como se faz uma cabana.<br />
Vem na mesma, que eu vou procurando um lugar seguro.<br />
Vem na mesma porque a cabana, como a casa, só funciona com amor<br />
- ou, pelo menos, é o que diz o Youtube.<br />
<br />
Temos ainda tanto para fazer.<br />
Por isso, se algum dia voltares, meu amor, volta numa Quinta.JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-37599725815714627202016-03-28T18:58:00.000+01:002016-03-28T18:58:03.793+01:00JOÃO DAMASCENODa poesia de João Damasceno (1955-2010) conhecia um poema apenas, publicado na antologia "Sião". Agora chegou-me pela mão do meu amigo António Cravo, o livro "Corpo Cru". <br />
<br />
A sua poesia é uma pedrada que nos atinge com força inesperada. Uma voz notável e completamente ignorada e que aqui vai aparecer com frequência, por certo.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Em terra de cegos quem tem um olho é rei;<br />
quem tem os dois é frequentemente abatido<br />
<br />
<br />
----<br />
<br />
<br />
Afirmávamos o delírio<br />
dissemos palavras nuas,<br />
provocámos a crise nas onsciências assustadas<br />
<br />
Éramos os descobridorea das auroras negras<br />
que transportam no seie e enlouquecem os espíritos<br />
<br />
Desdenhámos da natureza,<br />
Perguntámos-lhe os limites<br />
<br />
Introduzimos as dúvidas que geram crimes,<br />
explorámos a angústia<br />
<br />
Depois era frio:<br />
a cabeça recolhida entre os joelhos, fitávamos a costura das calçasJOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-45946525068858771742016-03-25T10:43:00.000+00:002016-03-25T10:43:37.067+00:00DANIEL MAIA-PINTO RODRIGUESConhecia muito mal a poesia de Daniel Maia-pinto Rodrigues e a ele não o conhecia de todo.<br />
<br />
Sabia-o frequentador das muitas tertúlias de poesia do Porto (entre as quais a famosa do café Pinguim.<br />
<br />
Conhecemo-nos na Poesia à Mesa em S. João da Madeira. E foi amizade à primeira vista. Vou desatar a conhecer melhor a sua poesia. E darei aqui nota disso.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-Hr8UL8rwtzM/VvUVYw874UI/AAAAAAAAIfA/NWLK_FmrJqQzmANYY83aZd_SUuekZYPug/s1600/DanielMaiaPintoRodrigues.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-Hr8UL8rwtzM/VvUVYw874UI/AAAAAAAAIfA/NWLK_FmrJqQzmANYY83aZd_SUuekZYPug/s320/DanielMaiaPintoRodrigues.jpg" /></a></div><br />
SINGULAR TEMPO PLURAL<br />
<br />
Em Outubro passado<br />
saí à noite com a cunhada de um amigo<br />
o que me pareceu sexualmente correcto.<br />
<br />
Tratava-se o espécime de alguém bem alinhavado<br />
o que também me pareceu sexualmente correcto.<br />
<br />
Levei-a a jantar a um bonito restaurante<br />
trocámos umas ideias<br />
trocámos uns olhares<br />
engraçámos com os pontos em comum<br />
e tudo estava a correr bem.<br />
Falava eu das castas e tradições<br />
do vinho que bebíamos<br />
quando, sentindo-lhe o bouquet<br />
ao dar um gole em grã seigneur<br />
o estafermo do líquido<br />
me entrou para os pulmões, circunstância infeliz<br />
que provocou de imediato<br />
imponente e borrifada engasgadela<br />
mesmo ali à frente da carinha dela<br />
o que francamente me pareceu<br />
sexualmente incorrecto.<br />
<br />
Mais tarde, quando já tinha<br />
a algum custo recuperado o élan<br />
fui com ela dar uma volta pela linha costeira.<br />
Durante o passeio,<br />
disse-me que estava a gostar muito<br />
de ouvir os Roxette<br />
o que me pareceu sexualmente correcto.<br />
Depois abordou a política.<br />
explicou-me que já não era<br />
mas que tinha sido daquele partido<br />
que agora, por sinal, está bastante partido<br />
no mau sentido do termo.<br />
<br />
Foi logo a seguir que me falou do mar.<br />
Disse-me que o mar, poucos quilómetros adiante<br />
era lindo!<br />
Eu estava já a afiambrar as ideias<br />
e não tardava muito ia entrar naquela fase<br />
em que nos armamos em carapau.<br />
Mas naqueles poucos quilómetros<br />
que faltavam para o sítio<br />
onde o mar é lindo<br />
o carro ficou sem bateria.<br />
Ainda esgrimi, atrapalhado<br />
um incómodo diálogo com o démarreur<br />
mas o carro, pois sim, já dali não saiu<br />
o que, convenhamos<br />
foi de todo sexualmente incorrecto.<br />
<br />
Passou-se uma semana, um mês<br />
sucederam-se os outubros<br />
e, talvez pelo que se passou naquela noite<br />
mas creio que não, as nossas vidas<br />
levaram rumos diferentes.<br />
<br />
Através do tempo<br />
quando levo alguém a ver<br />
o sítio onde o mar é lindo<br />
fico com a sensação<br />
de que é sempre um pouco depois.<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-61966432419136609542016-03-20T23:57:00.001+00:002016-03-20T23:57:22.188+00:00ANGÉLICA FREITAS<br />
E aqui fica uma poeta brasileira invulgar, publicada em Portugal pela editora douda correria do Nuno Moura.<br />
<br />
~<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-NPQsn1PmMgk/Vu84iY3-cjI/AAAAAAAAIeg/zkLZ7ZJAsIg4eCwIVK15DHbvnMixrUflw/s1600/angelicafreitas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-NPQsn1PmMgk/Vu84iY3-cjI/AAAAAAAAIeg/zkLZ7ZJAsIg4eCwIVK15DHbvnMixrUflw/s320/angelicafreitas.jpg" /></a></div><br />
querida angélica<br />
<br />
<br />
querida angélica não pude ir fiquei presa<br />
no elevador entre o décimo e o nono andar e até<br />
que o zelador se desse conta já eram dez e meia<br />
<br />
querida angélica não pude ir tive um pequeno<br />
acidente doméstico meu cabelo se enganchou dentro<br />
da lavadora na verdade está preso até agora estou<br />
ditando este e-mail para minha vizinha<br />
<br />
querida angélica não pude ir meu cachorro<br />
morreu e depois ressuscitou e subiu aos céus<br />
passei a tarde envolvida com os bombeiros<br />
e as escadas magírus<br />
<br />
querida angélica não pude ir perdi meu cartão<br />
do banco num caixa automático fui reclamar<br />
para o guarda que na verdade era assaltante<br />
me roubou a bolsa e com o choque tive amnésia<br />
<br />
querida angélica não pude ir meu chefe me ligou<br />
na última hora disse que ia para o havaí<br />
de motocicleta e eu tive que ir para o trabalho<br />
de biquíni portanto me resfriei<br />
<br />
querida angélica não pude ir estou num<br />
cybercafé às margens do orinoco fui sequestrada<br />
por um grupo terrorista por favor deposite<br />
dez mil dólares na conta 11308-0 do citibank<br />
agência valparaíso obrigada pago quando voltarJOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-73527050819872901382016-02-22T16:27:00.000+00:002016-02-22T16:27:01.060+00:00YAO FENGAinda outro encontro de Cabo Verde. Trata-se de um poeta chinês e professor da Universidade de Macau. Um homem encantador, com grande humor e uma poesia de excepcional qualidade.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-EGChq243gfo/VsH8XaQEwPI/AAAAAAAAIbY/l2x_7MjjqzY/s1600/yang%2Bfeng.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-EGChq243gfo/VsH8XaQEwPI/AAAAAAAAIbY/l2x_7MjjqzY/s320/yang%2Bfeng.jpg" /></a></div><br />
Amsterdã<br />
<br />
<br />
Quando cheguei de carro a Amsterdã<br />
já era meia-noite.<br />
A reputada cidade do sexo<br />
tornava ambíguas as luzes da rua.<br />
Até o rosto do dono da pensão<br />
insinuava prazer.<br />
Mas nada me aconteceu.<br />
O amanhecer refletia-se no rio<br />
e o céu, muito nublado. No Museu Van Gogh,<br />
os girassóis quebravam os raios de sol<br />
para ficar irmanados num vaso.<br />
Na noite distorcida, a terra de trigo,<br />
grávida de luar,<br />
ondulava enlouquecida.<br />
Do auto-retrato do pintor sombrio<br />
retirei uma orelha, de verdade,<br />
e voltei para a rua: todos estavam com<br />
seus órgãos intactos e saudáveis. JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-65674606000442553282016-02-18T16:02:00.000+00:002016-02-15T16:13:53.415+00:00ANA PAULA TAVARES<br />
Mais um encontro em Cabo Verde. Um encontro caloroso com uma poeta angolana de grande qualidade.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-wFUY4yVO9Pg/VsH4l4kCIdI/AAAAAAAAIbM/8w9s6jkz1vk/s1600/Ana%2BPaula.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-wFUY4yVO9Pg/VsH4l4kCIdI/AAAAAAAAIbM/8w9s6jkz1vk/s320/Ana%2BPaula.jpg" /></a></div><br />
<br />
ANA PAULA TAVARES (1952)<br />
<br />
O cercado <br />
<br />
De que cor era o meu cinto de missangas, mãe<br />
feito pelas tuas mãos<br />
e fios do teu cabelo<br />
cortado na lua cheia<br />
guardado do cacimbo<br />
no cesto trançado das coisas da avó<br />
<br />
Onde está a panela do provérbio, mãe<br />
a das três pernas<br />
e asa partida<br />
que me deste antes das chuvas grandes<br />
no dia do noivado<br />
<br />
De que cor era a minha voz, mãe<br />
quando anunciava a manhã junto à cascata<br />
e descia devagarinho pelos dias<br />
<br />
Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe<br />
se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera<br />
p'ra lá do cercado<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
A mãe e a irmã <br />
<br />
<br />
A mãe não trouxe a irmã pela mão<br />
viajou toda a noite sobre os seus próprios passos<br />
toda a noite, esta noite, muitas noites<br />
A mãe vinha sozinha sem o cesto e o peixe fumado<br />
a garrafa de óleo de palma e o vinho fresco das espigas<br />
[vermelhas<br />
A mãe viajou toda a noite esta noite muitas noites<br />
[todas as noites<br />
com os seus pés nus subiu a montanha pelo leste<br />
e só trazia a lua em fase pequena por companhia<br />
e as vozes altas dos mabecos.<br />
A mãe viajou sem as pulseiras e os óleos de proteção<br />
no pano mal amarrado<br />
nas mãos abertas de dor<br />
estava escrito:<br />
meu filho, meu filho único<br />
não toma banho no rio<br />
meu filho único foi sem bois<br />
para as pastagens do céu<br />
que são vastas<br />
mas onde não cresce o capim.<br />
A mãe sentou-se<br />
fez um fogo novo com os paus antigos<br />
preparou uma nova boneca de casamento.<br />
Nem era trabalho dela<br />
mas a mãe não descurou o fogo<br />
enrolou também um fumo comprido para o cachimbo.<br />
As tias do lado do leão choraram duas vezes<br />
e os homens do lado do boi<br />
afiaram as lanças.<br />
A mãe preparou as palavras devagarinho<br />
mas o que saiu da sua boca<br />
não tinha sentido.<br />
A mãe olhou as entranhas com tristeza<br />
espremeu os seios murchos<br />
ficou calada<br />
no meio do dia.<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-46031237667661265172016-02-15T16:01:00.001+00:002016-02-15T16:14:13.166+00:00LUÍS CARLOS PATRAQUIM<br />
Regresso ao Blog com a necessidade crescente de falar dos meus amigos poetas.<br />
<br />
Estive em Cabo Verde, no VI Encontro de Escritores da Lusofonia organizado pela UCCLA. E trago notícias, notícias sérias, notícias importantes, notícias poemas.<br />
<br />
E começo pelo meu m,uito querido amigo LUÍS CARLOS PATRAQUIM, poeta Moçambicano a viver de momento na "Ilha" de Stº António dos Cavaleiros.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-sVDdIRUSaQw/VsH2B8tmBFI/AAAAAAAAIbA/QAbg-jcVRVE/s1600/Patraca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-sVDdIRUSaQw/VsH2B8tmBFI/AAAAAAAAIbA/QAbg-jcVRVE/s320/Patraca.jpg" /></a></div><br />
LUÍS CARLOS PATRAQUIM (1953)<br />
<br />
<br />
MUHÍPITI<br />
<br />
<br />
E onde deponho todas as armas. Uma palmeira<br />
harmonizando-nos o sonho. A sombra.<br />
Onde eu mesmo estou. Devagar e nu. Sobre<br />
as ondas eternas. Onde nunca fui e os anjos<br />
brincam aos barcos com livros como máos.<br />
Onde comemos o acidulado último gomo<br />
das retóricas inúteis. E onde somos inúteis.<br />
Puros objectos naturais. Uma palmeira<br />
de missangas com o sol. Cantando.<br />
Onde na noite a Ilha recolhe todos os istmos<br />
e marulham as vozes. A estatuária nas virilhas.<br />
Golfando. Maconde não petrificada.<br />
É onde estou neste poema e nunca fui.<br />
O teu nome que grito a rir do nome.<br />
Do meu nome anulado. As vozes que te anunciam.<br />
E me perco. E estou nu. Devagar. Dentro do corpo.<br />
Uma palmeira abrindo-se para o silêncio.<br />
E onde sei a maxila que sangra. Onde os leopardos<br />
naufragam. O tempo. O cigarro a metralhar<br />
nos pulmões. A terra empapada. Golfando. Vermelha.<br />
E onde me confunde de ti. Um menino vergado<br />
ao peso de ser homem. Uma palmeira em azul<br />
humedecido sobre a fronte. A memória do infinito.<br />
O repouso que a si mesmo interroga. Ouve.<br />
A ronda e nenhum avião partiu. E onde estamos.<br />
Onde os pássaros são pássaros e tu dormes.<br />
E eu vagueio em soluços de sílabas. Onde<br />
Fujo deste poema. Uma palmeira de fogo.<br />
Na Ilha. Incendiando-nos o nome.<br />
<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142551687147379650.post-64376451250437183432016-01-22T22:34:00.000+00:002016-01-22T22:34:40.177+00:00AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-bWqmUyAe7qQ/VqKudFmS2AI/AAAAAAAAIYg/JgPqxkqTtt0/s1600/transferir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-bWqmUyAe7qQ/VqKudFmS2AI/AAAAAAAAIYg/JgPqxkqTtt0/s320/transferir.jpg" /></a></div><br />
Affonso Romano de Santa'Anna é um excelente poeta brasileiro e autor de literatura para a infância.<br />
<br />
Vai estar no 2º ENCONTRO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL DA LUSOFONIA, de 22 a 27 de Fevereiro na Fundação O Século, antiga Colónia Balnear de O Século em S. Pedro do Estoril.<br />
<br />
CHEGANDO EM CASA<br />
<br />
<br />
Chegando em casa <br />
com a alma amarfanhada <br />
e escura <br />
das refregas burocráticas <br />
leio sobre a mesa <br />
um bilhete que dizia: <br />
<br />
- hoje 22 de agosto de 1994 <br />
meu marido perdeu, deste terraço: <br />
<br />
mais um pôr de sol no Dois Irmãos <br />
o canto de um bem-te-vi <br />
e uma orquídea que entardecia <br />
sobre o mar.<br />
<br />
A PRIMEIRA VEZ QUE ENTENDI<br />
<br />
<br />
A primeira vez que entendi do mundo <br />
alguma coisa <br />
foi quando na infância <br />
cortei o rabo de uma lagartixa <br />
e ele continuou se mexendo. <br />
<br />
De lá pra cá <br />
fui percebendo que as coisas permanecem <br />
vivas e tortas <br />
que o amor não acaba assim <br />
que é difícil extirpar o mal pela raiz. <br />
<br />
A segunda vez que entendi do mundo <br />
alguma coisa <br />
foi quando na adolescência me arrancaram <br />
do lado esquerdo três certezas <br />
e eu tive que seguir em frente. <br />
<br />
De lá pra cá <br />
aprendi a achar no escuro o rumo <br />
e sou capaz de decifrar mensagens <br />
seja nas nuvens <br />
ou no grafite de qualquer muro.<br />
<br />
JOSÉ FANHAhttp://www.blogger.com/profile/06929923926500941662noreply@blogger.com0