quarta-feira, 23 de julho de 2008

A CIDADE DE PALAGUIN

Na cidade de Palagüin
o dinheiro corrente eram olhos de crianças.
Em todas as ruas havia um bordel
e uma multidão de prostitutas
frequentava aos grupos casas de chá.
Havia dramas e histórias de era uma vez
havia hospitais repletos:
o pus escorria da pora para as valetas.
Havia janelas nunca abertas
e prisões descomunais sem portas.
Havia gente de bem a vagabundear
com a barba crescida.
Havia cães enormes e famélicos
a devorar mortos insepultos e voantes.
Havia três agências funerárias
em todos os locais de turismo da cidade.
Havia gente a beber sofregamente
a água dos esgotos e das poças.
Havia um corpo de bombeiros
que lançava nas chamas gasolina.

Na cidade de Palagüin
havia crianças sem braços e desnudas
brincando em parques de pântanos e abismos.
Havia ardinas a anunciar
a falência do jornal que vendiam;
havia cinemas: o preço de entrada
era o sexo de um adolescente
(as mães cortavam o sexo dos filhos
para verem cinema).
Havia um trust bem organizado
Para a exploração do homossexualismo.
Havia leiteiros que ao alvorecer
distribuíam sangue quente ao domicíio.
Havia pobres a aceitar como esmola
Sacos de ouro de trezentos e dois quilos.
E havia ricos pelos passeios
implorando misericórdia e chicotadas.


Na cidade de Palagüin
havia bêbados emborcando ácidos
retorcendo-se em espasmos na valeta.
Havia gatos sedentos
a sugar leite nos seios das virgens.
Havia uma banda de música
que dava concertos com metralhadoras;
havia velhas suicidas
que se lançavam das paredes para o meio da multidão.
Havia balneários públicos
Com duches de vitríolo – quente e frio
- a população banhava-se frequentes vezes.

Na cidade de Palagüin
havia Havia HAVIA ...

Três vezes nove um milhão.


Carlos Eurico da Costa

3 comentários:

  1. Não conhecia este poema.
    Saio daqui com uma dor no peito....

    Obrigada pela partilha
    Um beijo

    ResponderEliminar
  2. Cara amiga,
    este comentário e outros que deixou, fazem-me sentir que esta viagem pelos poetas fora de moda é útil a alguém

    Obrigado e continue a aparecer.
    JFanha

    ResponderEliminar
  3. Fanha
    É util a muita gente, eu fiquei com qualquer coisa parecida com uma dor no peito. Este poema é muito forte.

    ResponderEliminar