
(Desenho - suponho - de Ziraldo)
Somente um em cada cinco portugueses possui nível médio de literacia. O que causa prejuízos directos no potencial de desenvolvimento do país. As conclusões constam de
um estudo apresentado há dias na Gulbenkian.
Na Suécia, a correspondência é de quatro em cada cinco suecos.
Literacia é a capacidade de ler e compreender o que se lê para resolver problemas concretos. Esta aptidão em Portugal, refere o relatório, é muito baixa. "Portugal apresenta os níveis mais baixos de competências de literacia de entre todos os países observados", referiu o coordenador do projecto, Scott Murray.
"O conhecimento e as competências das pessoas, quando postos aos serviço da produção, são um forte motor do crescimento económico e do desenvolvimento social". Mas, segundo os dados disponíveis para Portugal, a literacia tem no nosso país "um valor económico reduzido no mercado de trabalho".
Segundo o relatório "Portugal tem de dedicar muito mais atenção à literacia.", sublinhando que "...o país pagou um preço significativo por não ter aumentado a oferta de competências de literacia ao dispor da economia" e acrescentado que os alunos portugueses "têm poucos incentivos para investir tempo e esforço no aumento do seu nível de literacia".
Iniciativas como o Plano Nacional de Leitura ou as Novas Oportunidades são encorajadas, mas o relatório sustenta que "são insuficientes".
Convidado a comentar o relatório, o economista João salgueiro contrariou a defesa de mais investimento em Educação. "Se há indicador em que não estamos mal é no volume de recursos que dedicamos à Educação e temos dos piores resultados no desempenho". A causa "está no funcionamento do sistema de Educação e no sistema económico".
É óbvio para mim que os nossos dirigentes continuam a ter pouco fundamentadas sobre o que é a literacia e identificando literacia com ensino.
De facto, vencer o grande atraso da literacia em Portugal implica assumir-se este trabalho como desígnio nacional ao nível dos programas políticos, das estratégias mediáticas, do reconhecimento da sua necessidade por parte das nossas elites políticas e empresariais que tradicionalmente são tão avessas a estas questões.
Como muito justamente afirmou a ministra da Educação, Isabel Alçada, é preciso que "toda a sociedade se mobilize para que a melhor oferta de qualificações corresponda a um reconhecimento da parte do tecido empresarial".
Eu acrescentaria que é também necessário que esse tecido empresarial assuma a literacia como uma questão fundamental que não lhe pode ser alheia.
(A partir de elementos retirados de um artigo de ISABEL TEIXEIRA DA MOTA, Jornal de Notícias)
Muito preocupantes estas conclusões mas, infelizmente, não me surpreendem... Desde que os políticos descobriram que a educação era um 'filão' bom de explorar...A degradação acontece porque o paradigma da sociedade está a mudar mas a escola teima em ficar no passado...
ResponderEliminarJá agora, a ilustração é mesmo de Ziraldo!
Um tema mais do que oportuno! Só me tem parecido que a política educativa reinante confunde literacia com letramento, não para bem deste, mas a bem do vazio da tecnologia. Digo isto porque tenho constatado que a palavra literacia, nas acções e formações que por aí andam, anda sempre agarrada às novas tecnologias...
ResponderEliminarPor outro lado, não nos podemos esquecer que o edifício escolar foi literalmente devassado. Os professores foram arrasados e são eles que ensinam a ler, num mundo cada vez mais avesso à leitura... Hoje a autoridade falha até para falar de livros... Repor a autoridade é essencial. Como? Não sei...
Querida Margarida,
ResponderEliminarEstou totalmente de acordo consigo quanto se identifica literatia com novas tecnologias.
Chegámos à televisão em 1958/59 sem ter passado pela alfabetização generalizada.
Chegamos ao computador e à net sem ter passado pela leitura.
Sabendo nós que a net é um meio recente, mal estudado ainda, e que prima pela quantidade de incorrecções, erros e falsidades que veicula, a verdade é que sem um trabalho prévio e fundo relativamente à leitura, pode ser um erro grave chegar à net sem instrumentos para verificar a fiabilidade dos seus conteúdos.
E esses instrumentos são dados, como é óbvio, pela leitura.
Beijinho
O tema é muito actual.Com este vertiginoso desenvolvimento tecnológico assistimos à proporção inversa da falta de tempo para reflexão e ganho em sabedoria.Contudo, assistimos à abertura de imensas janelas do conhecimento que devem ser aproveitadas.
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