sexta-feira, 23 de julho de 2010
COISAS DE POETA
Há algumas semanas dei comigo a fazer horas. A ter horas para fazer. Ou melhor, a ter horas para não fazer nada. E mergulhei no espaço maravilhoso e raro da minha infância que é o Jardim da Estrela.
Andei por ali, meio vagabundo, a deixar que o verde me entrasse pelos olhos, a gozar o esplendor das ávores e arbustos, das flores, da relva e das sombras, da brisa e dos risos das crianças. E foi muito bom porque é sempre bom mergulhar nos jardins da cidade e porque é tão raro fazê-lo nesta vida ofegante que levo e muitos de nós levamos.
Era o princípio de uma tarde sábadado daquelas que fazem de Lisboa uma cidade mágica. Há muito que não gozava de um momento de tão tranquila entrega.
A dado momento parei encantado frente a um arbusto grande carregado de umas flores de que ainda não consegui saber o nome. São brancas e grandes, com um palmo de comprimento e a forma de sinos alongados.
Parecia uma chuva de flores... Pensei que lhes podia chamar "campainhas do céu".
Parado à frente daquelas flores começavam as palavras a bailar-me na cabeça à procura de formar esse comboiinho por vezes inquieto e revolto, por vezes doce e amável, a que se chama poema.
De tão distraído, nem reparei numa menina de 8/9 anos que arrancava uma daquelas belíssimas flores. Reparei depois na jovem avó que me sorria pouco à vontadde como quem pedisse desculpa do rapinanço da neta.
Eu sorri à menina de dentro do meu devaneio e disse-lhe que levava na mão uma campainha do céu. A menina atirou a flor pelo ar e comentou desinteressada: "Isto é mas é um espanador!"
Fui andando a pensar que a poesia não é tão fácil de abraçar cmo eu gostava. E a lembrar-me daquela magnífica frase do Maio de 68: "Cuidado: Os ouvidos têm paredes!"
A flor é linda, mas tem um nome muito pouco poético: trombeta! Entre este e o espanador, prefiro as tuas "campainhas do céu" :)
ResponderEliminarQuem sabe a menina um dia olhe a flor com um olhar igual ao teu.
Beijinho.
Uma Brugmansia aurea, da família Solanáceas
ResponderEliminarTambém chamadas: Belas-noites :)
Querido Zé Fanha,
ResponderEliminarDeixou-me ainda com mais saudades dos passeios dados pelo jardim da Estrela, no tempo da faculdade...
E, a poesia que também nasce das flores transparece neste Post.
Fique bem.
Um sorriso :)
O nome popular desta flor é bem mais bonito: Cálice-de-Vénus, como me ensinou minha mãe.
ResponderEliminarCumprimento com apreço.
Graça
(Consultora assídua do seu blog, a partir de Coimbra)