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Alexandra Lucas Coelho dá conta no Público de domingo dia 1 de uma manifestação de poetas em Atenas.
Estou com eles. A posteriori. Mas estou com eles. Contra a troika e a economia que nos domina e maltrata, contra esta Europa que nos quer deixar sem respirar, contra muitas coisas e sobretudo a favor da vida.
Estou com eles nem que seja porque sim. Ou pelo homem. Pelos homens. Pela poesia que é a verdadeira língua da Humanidade.
E recordo o poeta e guionista italiano Tonino Guerra que morreu há poucos dias na casa dos 9o anos. Escrevia no dialecto Romagnolo da sua Romagna. Escreveu guiões que fazem parte da História do Cinema para cineastas como Fellini, Antonioni, Tarkovsky e vários outros.
A Assírio & Alvim publicou 4 livros de poesia de Tonino Guerra. Poemas delicados, subtis, quase diáfanos mas profundamente ligados à terra e às suas forças essenciais.
Aqui fica um dos seus poemas:
CANTO NONO
Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada
pelas raízes das ervas
chegou à biblioteca banhando as palavras santas
guardadas no convento.
Quando tornou o bom tempo,
Sajat-Novà o frade mais jovem
levou os livros todos por uma escada até ao telhado
e abriu-os ao sol para que o ar quente
enxugasse o papel molhado.
Um mês de boa estação passou
e o frade de joelhos no claustro
esperava dos livros um sinal de vida.
Uma manhã finalmente as páginas começaram
a ondular ligeiras no sopro do vento
parecia que tinha chegado um enxame aos telhados
e ele chorava porque os livros falavam.
Tonino Guerra
em O Mel
Tradução de Mário Rui de Oliveira,
Assírio e Alvim, 2004
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