A falta de luz nestes dias enche muita gente de escuridão, de desespero, do sentimento de falhanço na vida. Estamos no reverso do 25 de Abril em que todas as portas se abriam à nossa frente.
"Adivinhar o presente
isso é que é mais complicado
tem o acesso bloqueado"
Sérgio Godinho, do álbum "Mútuo consentimento"
Sei pouco de política. Sei apenas das pessoas e das suas emoções. E este país está emocionalmente nas lonas.
Os nossos governantes continuam a dar cabo do país na sequência de outros que começaram a dar cabo do país,em colaboração com aqueles que ganham muito com este miserável esfrangalhanço que já dura há anos.
É claro que eles dão cabo da vida a muita gente com etes cortes na saúde, nas reformas,etc, etc. Mas não creio que fiquem muito preocupados. Porque essa muita gente junta não tem cara nem nome. Talvez fosse diferente se vissem o rosto de cada um dos pobres naufragados nos naufrágios que tão laboriosamente lhes têm provocado.
Olho por vezes para as fotografias destes governantes e penso que até talvez não sejam más pessoas. Têm famílias, pais e mães, filhos. Um ou outro terá a sua ou o seu amante. Leituras muito poucas, naturalmente. Vão ao futebol. Até talvez tenham alguns sentimentos subtis embora embotados. Gostam sobretudo de aparecer muito lustrosos nos noticiários. Alguns arranjam-se bem na vida. Outros nem por isso. Vários deles devem ser até uns tipos porreiros para os copos.
Não creio é que sejam tão inteligentes que tenham inventado sozinhos toda esta escuridão. Alguém os ensinou. Alguém os comanda. Eles não são más pessoas. Talvez apenas pouco dotados. Bons paus mandados. Muito obedientes mas sem nenhumas ideias próprias.
Por isso deixo aqui as palavras de António Nova, Reitor da Universidade de Lisboa, citado por Nicolau Santos, no Expresso de hoje, dia 16:
"Precisamos de ideias novas que nos deem um horizonte de futuro. Precisamos de alternativas. Há sempre alternativas. A arrogância do pensamento inevitável é o contrário da liberdade.E nestes estranhos dias, duros e difíceis, podemos prescindir de tudo, mas não podemos prescindir nem da Liberdade nem do Futuro."
Abraços tantos
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ResponderEliminarTenho-me muitas vezes questionado sobre os constrangimentos que se colocam, nos nossos tempos, a todos o que o intentam, renovar ideias, dar-se à criação, José. Em todos os lugares, em todos os domínios. Parece-me que, cada vez mais, a criação é recriação e inovar é renovar. No Prado? No Guggenheim? No Uffiz?i Em Orsay? Pensei, muito tempo, que estivessem aí. Nas cenas de pecado e tentação de Hieronymus Bosch, por exemplo. Mas até esse pegou na estética artística da antiguidade clássica para a recriar.
ResponderEliminarE as palavras? O que se se tem feito com elas e sobre elas? Não traduzem a libertação do imaginário criador de cada um, sempre erigido sobre as leituras prévias?
Urgem, quiçá, novos paradigmas e confio que este blog dê o mote. Parabéns!
O maior e mais preocupante paradigma da sociedade actual tem um único nome: individualismo.
ResponderEliminarCada um per si e nada mais. Os políticos governantes de que fala José Fanha até podem ser tipos porreiros para isto ou para aquilo, mas não é com tipos porreiraços que se constrói o futuro de um país. Falta-lhes uma, duas, três, muitas qualidades sem as quais tudo o resto fica vazio e sem sentido.
Por onde anda o carácter, o espírito de solidariedade...? Não deviam ser os "grandes" do poder a darem o exemplo?
P.S.) Gostei muito deste texto.
os pensamentos que nos deixa, dariam de si um bom político. a política não é só economia. e tem tido pouco de poesia. e de esperança. mas de momento, tem demasiadamente pouco.
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