A poesia tem modas Há poetas de quem fica bem falar-se e ter-se opiniões definitivas em certos locais e em certas páginas de jornal mesmo quando não se leu a sua obra.
Eu gosto de lembrar os poetas de quem não se fala muito. Poetas. Sabem, meus amigos, o que são poetas? Gente perigosa. gente que cabe mal nos fatos por medida.
Este é um dos poetas de que se fala muito pouco e de que eu gosto de lembrar.
A PULGA
Um ponto somente
é este animal
que pouco se vê
e muito se sente.
E a gente não gosta
da pulga.
Porquê?
A pulga,
afinal,
só de animais gosta
e gosta
da gente.
A gente que o diga…
Gosta, morde e pica.
Mas que rica
amiga!
Pica
por ser má?
Pica
por prazer?
Lá prazer terá,
sabe-se isso bem…
mas, se a pulga
pica,
é para comer,
não mata ninguém.
O pobre animal
precisa de sangue…
Mas é natural
que a gente se zangue.
Quem dera apanhá-la,
mordê-la,
pisá-la!
Vai a gente ver
e ela
já se foi…
e sempre a morder.
Será que ela
julga
que aquilo não dói?
E assim é a pulga:
maluca, malvada,
mas tão pequenina,
ladina e rabina,
que a acho engraçada.
Leonel Neves, “O elefante e a pulga”, Livros Horizonte
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