segunda-feira, 7 de abril de 2014

PARA QUÊ POETAS EM TEMPO DE INDIGÊNCIA?

Não sei se os poetas da minha geração têm o cimento humano, ético e estético que faz uma geração literária. Mas têm em comum ter vivido os tempos de mudança e poesia, de sonho e respiração colectiva, de decência e paixão, que foi o 25 de Abril.

O meu amigo Luís Filipe Castro Mendes é um poeta que sempre admirei nas várias facetas e degraus do seu caminho de poeta.

Traz-nos agora um belo livro profundamente desencantado. Belo porque doloroso, porque vai às entranhas, porque também para o Luís Filipe, creio eu, não era nada da bandalheira em que se transformou este país que sonhou para os seus filhos.



Levantar a gola do casaco,
esconder os punhos da camisa já puídos
e defender, com os dentes cerrados, as palavras:
mas quem aguenta mais este murmúrio vão,
que não colhe as flores do mal nem a luz radiosa na própria miséria?
Resistir, como sempre fizeram os humilhados.
Decorar palavras antigas.
Repeti-las, para que não sejam esquecidas,
aos vindouros.



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