segunda-feira, 3 de novembro de 2014

TEJO


Passei à beira Tejo. Há muito que não nos encontrávamos. Ficámos à conversa. Pouco tempo que esta vida que levamos não nos deixa parar muito.

Mas logo me veio à cabeça o O'Neill. O primeiro poeta das minhas leituras de adolescente. E que me ficou para sempre. Cheguei a saber a obra dele quase toda de cor. Da cuore. Do coração.



O Tejo Corre no Tejo


Tu que passas por mim tão indiferente,
no teu correr vazio de sentido,
na memória que sobes lentamente,
do mar para a nascente,
és o curso do tempo já vivido.

Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!

Por isso, à tua beira se demora
aquele a saudade ainda trespassa,
repetindo a lição, que não decora,
de ser, aqui e agora,
só um homem a olhar para o que passa.

Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!

Um voo desferido é uma gaivota,
não é um voo da imaginação;
gritos não são agoiros, são a lota…
Vá, não faças batota,
deixa ficar as coisas onde estão…

Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!

Tejo desta canção, que o teu correr
não seja o meu pretexto de saudade.
Saudade tenho, sim, mas de perder,
sem as poder deter,
as águas vivas da realidade!

Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!


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