Não serão muitos os poemas em que Sophia de Mello Breyner Andersen traz a intimidade dos afectos para a mesa da poesia.
A sua poesia visita mais os terrenos dos mitos e da polis. Brilha nela uma altivez, um limpeza das palavras que nunca se perde mesmo quando raramente se aproxima de temas mais pessoais e reservados.
TU DORMES
Tu dormes embalado nos rochedos
E aos meus ouvidos vem falar o vento.
Escuto, busco, chamo e não respondes,
E todo o mundo se tornou fantasma.
Estou fechada, suspensa, prisioneira
Queria voltar para fora, para o dia
Ressurgir, respirar, tornar a ver,
Mas todo o mundo se tornou fantasma.
E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.
Pássaros brancos cortam as janelas,
Anémonas cintilam nos rochedos:
Terror de estar sozinha e de escutar
Com este tempo morto entre os meus dedos.
Tudo pelo melhor
ResponderEliminarque já tarda
Abraço