segunda-feira, 24 de agosto de 2015

CARLOS ALBERTO MACHADO


Carlos Alberto Machado , (1954) poeta, dramaturgo, romancista, ensaista, trabalha nas áreas do teatro, animação e gestão cultural.



DESCULPA DESCULPA



(para a Mulher Azul)



Desculpa desculpa
nem sei o teu nome
só olhei para ti deitada
na via do infante
quinze de agosto
mil novecentos e noventa e nove
olhei várias vezes sem perceber
olhei-te pois e estavas azul
sobretudo no rosto e nos pés
cuspida na valeta
(ó mãe os carros cospem?)
noutras circunstâncias diria olá!
agora assim azul e a pulsação quase nada
qual era a tua cor antes do azul?
se ainda receberes a tempo este telegrama
responde-me por favor
o apartado está no verso.


1 comentário:

  1. Mto bom! Lembrei-me de um poema de minha autoria que aqui, humildemente, deixo:

    (AS)SIMETRIAS

    Ambas se sentaram sem dar por isso
    Ela procurou uma cadeira e em silêncio desdobrou a cabeça
    A outra enroscou memórias cansadas e ali se sentou no lancil da calçada
    Ela fixou o olhar esquálido na transparência velada da parede da sala
    A outra deslizou o indicador na areia enegrecida do chão que pisava
    Ela deambulou sentada pelo dia de ontem e encontrou nada
    A outra procurou um caminho na chuva que a terra engolia sem ver
    Ela recuou no tempo e quedou-se ali mesmo rente à brisa do mar
    A outra fixou os olhos no frio descalço das noites passadas
    Ela experimentou o sal da maresia trazida ao encontro do peito
    A outra sentiu o rugido da vida vivida sempre a balançar
    Ela limpou a saliva cuspida de pena por não saber sonhar
    A outra sentiu o lancil debaixo da coxa a tentar penetrar
    Ela perdeu os sentidos e tombou da cadeira para o fundo do mar.
    Ambas marcaram encontro para a meia-noite.

    Sara Loureiro

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