Um caminho de areia solta conduzindo a parte
nenhuma. As árvores chamavam-se casuarina,
eucalipto, chanfuta. Plácidos os rios também
tinham nomes por que era costume designá-los.
Tal como as aves que sobrevoavam rente o matagal
e a floresta rumo ao azul ou ao verde mais denso
e misterioso, habitado por deuses e duendes
de uma mitologia que não vem nos tomos e tratados
que a tais coisas é costume consagrar-se. Depois,
com valados, elevações e planuras, e mais rios
 entrecortando a savana, e árvores e caminhos,
 aldeias, vilas e cidades com homens dentro,
 a paisagem estendia-se a perder de vista
 até ao capricho de uma linha imaginária. A isso
 chamávamos pátria. Por vezes, de algum recesso
obscuro, erguia-se um canto bárbaro e dolente,
  o cristal súbito de uma gargalhada, um soluço
  indizível, a lasciva surdina de corpos enlaçados.
  Ou tambores de paz simulando guerra. Esta
  não se terá feito anunciar por tal forma
  remota e convencional. Mas o sangue adubou
  a terra, estremeceu o coração das árvores
  e, meus irmãos, meus inimigos morriam. Uma
  só e várias línguas eram faladas e a isso,
  por estranho que pareça, também chamávamos pátria.
Rui Knopfli
Lindo!
ResponderEliminarObrigada, José Fanha
Um beijo
Mais um poema que me tocou!
ResponderEliminarBom fim-de-semana :)
Beijos muitos,