FOTOGRAFIA DE 11 DE SETEMBRO
Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns.
mais acima, mais abaixo.
A fotografia deteve-os na vida
e agora preserva-o
sobre a terra rumo à terra.
Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.
Ainda estão ao alcance do ar,
no âmbito dos lugares
que acabaram de se abrir.
Só duas coisas posso por eles fazer:
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.
Wislawa Szyborska
(“Instante”, ed. Relógio d’Água, tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves)
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