domingo, 2 de novembro de 2008
QUALQUER COISA
Pintura de Rolando Sá Nogueira
QUALQUER COISA
(Sobre pinturas de Rolando Sá Noqueira)
Os pintores, caro amigo,
sabes como são?
Qualquer coisa lhes serve
de argumento ou de comboio
para partirem através de turbulências
ou banquetes coloridos.
Qualquer coisa os amotina:
um sussurro de água,
uma lâmina de vento,
um madeiro enegrecido que recorda
o teatro de uma vida ardendo.
Qualquer coisa violeta ou ambarina os leva
ao centro das cabeças descentradas.
Qualquer coisa cor de terra ou mel
os faz descarrilar.
Qualquer promessa de lua
os faz sair a voar ao fim da tarde:
um rasto antigo de números de music-hall,
um cão de olhos líquidos,
uma folha de amoreira,
uma música trepando
pela arquitectura dos ossos
à beira da eternidade.
Qualquer breve cornucópia lhes entorna
um pássaro improvável
na profundeza dos olhos
e deixa um barquinho a navegar
na perfeição dessas mãos
da criança de asas verdes
que os habita.
José Fanha
(do lirvo inédito "Marinheiro de outras luas)
Os poetas, caro amigo,sabes como são? Qualquer coisa lhes serve...
ResponderEliminarTão bonito, Fanha.
Um beijo.
Que bonito,
ResponderEliminar"Qualquer breve cornucópia lhes entorna
um pássaro improvável
na profundeza dos olhos "
boa semana, José Fanha.
um grande abraço
e um sorriso :)
mariam
José Fanha,
ResponderEliminarLindo poema!
"Qualquer promessa de lua os faz sair a voar ao fim da tarde..."
Abraço grande e muitos sorrisos :))
Com palavras belas
ResponderEliminartambém se resiste
ao tempo que faz
Brinquemos com os barquinhos, então...
ResponderEliminarAbraço
Belíssimo poema. o poeta a cruzar-se com os motivos - je tiens le motif je tiens le motif, gritava Cézanne pintando e pintando montanhas Sainte Victoire.
ResponderEliminarDia 29 de novembro na Byblos, Amoreiras, às 18h45, será lançado meu livro de poesia A Tela do Mundo, que ao seu modo invade, sob o signo da livre, cavalo à solta, palavra poética os ateliers de múltiplos pintores contemporâneos: V. da Silva, Helena Almeida, Júluio Resende, Antonio López, Tàpies, Chagall, Graça Morais e muitos outros. Se este comentário chegar ao José Fanha, que há muito admiro em variegadas facetas, muito gostaria de deixar aqui o vivíssimo convite para honrar-me com a sua presença.
luís filipe pereira
www.lippepereira.blogspot.com