quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

LITANIA PARA ESTE NATAL



(Foto Henry Cartier Bresson)


Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite á meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos vir pedir contas do nosso tempo.


David Mourão-Ferreira

4 comentários:

  1. Imagino a ternura de DMF a escrever este poema.
    Imagino a tua força, quase a gritá-lo, se o declamasses...
    Obrigada por tanta ternura aqui.

    Beijos

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  2. Fanha,

    Palavras para olharmos para dentro e para fora de nós! Saberíamos dar contas do nosso tempo? E que contas daríamos? Dá que pensar...

    Obrigada por este soberbo momento de leitura de palavras que doem.

    Um beijo

    Rita

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  3. José Fanha,
    Um poema extraordinário, o qual gostaria imenso de o ouvir declamar, na sua forma sentida e muito particular.
    Desejo-lhe um 2009 positivo, com muitos desejos concretizados!

    Beijo grande e um sorriso :)

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  4. José Fanha,
    gosto muito da escrita de «David M-Ferreira». Obrigada.

    um Fantástico 2009! lhe desejo.

    um grande abraço e o meu sorriso :)
    mariam

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