quarta-feira, 8 de julho de 2009
ALDA LARA (Angola)
ALDA LARA (1930-1962)
TESTAMENTO
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhamdo algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
ALDA LARA vei muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Freqüentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império
Declamadora,chamou a atenção para os poetas africanos.
O poema publicado acima ouvi-o pela primeira vez na voz do meu querido amigo, jornalista, comentador de econimia e amante de poesia Nicolau Santos.
Gosto muito de dizer que se um homem das bandas da economia gosta de dizer poesia, talvez este mundo tenha uma pequena esperança de salvação...
Antes de vir aqui estava precisamente a ler sobre Alda Lara.
ResponderEliminarEste poema ainda não conhecia.
Obrigada!