segunda-feira, 6 de julho de 2009

MANOEL de BARROS (Brasil)



MANOEL DE BARROS (1916)


BORBOLETAS

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens
e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta –
Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras
do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças
do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do
que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que
os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do
ponto de vista de uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.


MANOEL DE BARROS é bacharel em direito viveu em Nova York e é actualmente criador de gado na zona do pantanal onde vive.

Poeta pouco conhecido até tarde, a sua obra "estoirou" a partir dos anos 80 e é hoje reconhecido como uma voz única e fundamental na poesia brasileira.

A sua poesia é doce, quase infantil e aparentemente ingénua, embora se pressinta nas suas descontruções de forma e sentido uma erudição funda mas cristalina e aberta ao diálogo com o leitor.

Foi para mim uma das mais belas descobertas poéticas dos últimos anos.

A publicação da sua obra em Portugal deve-se às Quasi edições.

3 comentários:

  1. muito bonito, gosto muito deste poema, vou procurar Manoel de Barros na Biblioteca e nas livrarias.

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  2. Devo-te (também) o conhecimento deste Poeta que me fascina.

    Obrigada.

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  3. pois assim se ensaia fotografar o perfume, o silêncio (quase) e o perdão !

    (Ensaios Fotográficos, Record, 2000)

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