quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
AGARRADOS A UM VERSO
(Do livro "Imagens das Idades do Mundo" de Francisco de Holanda)
Às vezes, os meninos dizem-me que eu tenho cara de Pai Natal. E eu sorrio. Porque gosto de me imaginar a habitar essa figura ternurenta e generosa, saída da bruma das lendas e que veio desabar neste Natal com que vestimos a velha festa do Solstício de Inverno e celebramos a alegria de nascer e renascer vezes sem conta.
Se eu fosse o Pai Natal não ia comprar prendas ao Centro Comercial. Nem carrinhos, nem bonecas, nem perfumes, nem canetas douradas, nem gravatas às riscas, nem telemóveis, nem consolas, nem nada disso.
Se eu fosse o Pai Natal levava um verso a cada um. Por que, agarrados a um verso podemos sobreviver às intempéries da vida.
Dava um verso de Neruda a cada desempregado, um de David Mourão-Ferreira a todas as mulheres sem amor, um de Florbela Espanca aos homens distraídos, um de Lorca aos poetas que deixaram secar a maravilha das palavras, um de Cesário aos condutores da Carris com olhos cheios de Tejo, um de Vinícius aos alcoólicos anónimos que dançam sobre o chão da sua imperfeição, um de Sebastião da Gama a cada professor que não se deixa encerrar em 4 paredes e três relatórios, um de Prévert aos gatos que caminham como imperadores no alto dos telhados, um de José Craveirinha a todos os cantores de RAP, um de Gomes Leal aos que naufragam em caixotes pelos cantos da cidade, um de Ferlinghetti aos saxofones que nos fazem subir ao céu, um de Ruy Belo aos que acreditam que ainda tudo é possível, um de Eugénio aos que choram abraçados a uma macieira, um de Sophia aos que habitam o esplendor do mar, e um da Matilde Rosa Araújo a todas as crianças do mundo.
FELIZ NATAL
E assim ficámos com um "poetário" de leitura obrigatória.
ResponderEliminarObrigado Pai Fanha Natal!
obrigada Fanha!
ResponderEliminareste "poetário", como diz zmsantos, agarrou-me mesmo. e vi o verde do tejo, pelos olhos de cesário, e senti o amor de mourão ferreira, a resistência na alma pelo neruda, deixei-me levar pelo eugénio, acreditei como ruy belo e sebastião e vinícius, mergulhei no oceano de sofia e vi-me galgar até ao sul, senti o cheiro do apelo às raízes de craveirinha... e com vontade de conhecer gomes leal e ferlingheti. deixei-me enfim embalar neste belo presente de natal.
um abraço e feliz natal. (a Elsa)
Obrigada, por um presente tão original e que faz tanta falta! Realmente, há versos e poetas para cada situação e isso reconforta-nos.
ResponderEliminarFeliz Natal e um 2010 muito brilhante de luz e paz.
Obrigada, há de facto um livro escrito para cada ideia e um poeta para cada um de nós!!!
ResponderEliminarQue Bom...
Beijinhos com estrelinhas de Natal
"Agarrados a um verso podemos sobreviver às intempéries da vida" - tu o dizes e eu confirmo. De todos os que nos sugeres, hoje guardo um de Eugénio. Os outros virei colher tempo fora.
ResponderEliminarDesejo-te uma época de luz e paz.
Beijos.
Obrigado pelo imaginario poetico. Com Jose Fanha, tambem nos sentimos agarrados, presos na viagens poeticas que nos proporciona.
ResponderEliminarFeliz Solsticio de Inverno!
E como farias o mundo mais feliz! E não é que tens mesmo carinha de pai-natal, bonacheirão e ternurento, que nos faz acreditar que os sonhos até podem ser possíveis?
ResponderEliminarObrigada Pai Natal!
beijinhos
(adorei conhecer as tuas filhotas no jantar do Zeca)
Feliz Natal, José Fanha!
ResponderEliminarUm grande beijinho.
Eu sabia...o Pai Natal é um poeta!
ResponderEliminarQuerido Zé Fanha,
ResponderEliminarEterno Poeta... Muito obrigada por esta prenda tão especial!
Um Natal cheio de Alegria e Luz também para si, filhas e filho.
Beijo grande,