sábado, 1 de novembro de 2008
“CHEGA-TE PARA LÁ, SEU PRETO!”
Este era o Rolando Sá Nogueira, o grande professor da minha vida.
“CHEGA-TE PARA LÁ, SEU PRETO!”
O Rolando é muito grande, ensina-me a fazer desenhos e conta-me montes de histórias com a sua voz redonda e forte.
Um dia contou-me que ia num eléctrico cheio de gente e alguém lhe disse: “Chega-te para lá, seu preto!”
Fiquei espantado. Olhei com muita atenção para ele. E era verdade. O Rolando era preto. Mas eu nunca tinha reparado nisso.
Fui para casa, com a minha caixinha de pensar em coisas toda ocupada a pensar como é que era possível eu nunca ter visto uma coisa tão importante...
Se calhar não era uma coisa assim tão importante, tão. Ou então o Rolando não era preto. Só ficou preto quando alguém lhe chamou preto.
Só sei que, no dia seguinte, ele esqueceu-se daquela história, eu esqueci-me que ele era preto e voltámos aos nossos desenhos.
José Fanha
("Diário Inventado de um menino já crescido", ed. Leya-Gailivro)
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4 comentários:
Que história deliciosa!
Deixou-me ainda com mais vontade de ler este livro!..
Obrigada.
Um resto de bom-fim-de-semana.
Beijo grande e um sorriso :)
Delicioso e ternurento, como só tu...
Obrigada.
Beijos
Assim se prova que não existem pretos, nem brancos, nem amarelos, azuis...
O que existe, infelizmente, é uma grande quantidade de pessoas cujo coração cegou...
Pois... não era mesmo importante.
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