domingo, 19 de agosto de 2012
A FÚRIA DA AVALIAÇÃO, OU, QUEM NOS AJUDA A PENSAR
Gosto muito de quem me ajuda a pensar. E não foram raras as vezes que António Guerreiro, com a sua coluna AOPÉDALETRA no jonal Expresso, me tem ajudado a pensar sobre diversos assuntos da minha vida ou da vida de todos nós.
Por isso estou-lhe muito grato.
Na semana passada o tema era a avaliação, tema que me provoca e sempre provocou imensa brotoeja.
Sempre achei, enquanto professor, que nada do que fazia podia caber em nenhuma grelha de avaliação. Sempre achei que quem vale a pena, seja professor ou outra coisa qualquer, é quem vive aquém, além de todas as grelhas, quem se porta mal e não se verga perante o sistema, quem se borrifa para os relatórios e ama, ama, ama aquilo que ensina e faz de todo esse amor uma imensa dádiva ao mundo.
E encontrei por aí este cartoon que retrata muito bem todo o processo da avaliação que o António Guerreiro tão bem aborda neste texto seu que reproduzo.
"Para os epistemólogos, a avaliação é um gesto metodológico sofisticado, que releva de uma ciência. Mas a avaliação como prática do aparelho — como aquela a que todos os trabalhadores e instituições estão hoje submetidos — é outra coisa: uma ideologia poderosa e um mecanismo puramente gestionário. Sirva de exemplo a avaliação que o Governo mandou fazer às Fundações, cuja supervisão todos reconhecem como necessária, para que não se tronem instituições especializadas em extorquir dinheiro. A Fundação da Universidade de Lisboa foi avaliada com 7,8 pontos (numa escala de 0 a 100), e até a Gulbenkian ficou a meio da escala. Os resultados — qualquer pessoa de bom senso estará de acordo — estão errados, porque errados estão certamente alguns critérios. Mas o erro maior está no cerne da ideologia da avaliação, que tudo reduz ao mensurável. Medindo, calculando, numerando e comparando, os avaliadores imaginam-se a fazer um trabalho científico. Tão científico que nenhuma décima escapa à medição apuradíssima.
Os avaliadores são uma seita e a sua mística é a ordem quantitativa pela qual tudo acede a um estado estatístico e entra num ranking. Mas como sabem que o seu trabalho não é interno a um saber, eles precisam que os avaliados (que, por sua vez, são os avaliadores dos outros) lhes outorguem legitimidade, que a creditação seja ao mesmo tempo coerciva e consentida. Esse consentimento tácito é obtido através da autoavaliação que os avaliados são convidados a fazer e que lembre o ritual da autocrítica que era imposto nos regimes comunistas. Pela autoavaliação, o sujeito avaliado confessa os seus pecados, incrimina-se a si próprio, denuncia as suas inclinações menos produtivas. Tudo isso para responder às eternas injunções da burocracia e também para assumir uma cumplicidade estratégica com os avaliadores em posição de mestres."
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Atual, Portugal, 11.8.2012.
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2 comentários:
A avaliação dos professores passa, sem sombra de dúvidas, pela paixão que estes introduzem na sua prática, pela maneira como cativa os alunos, por lhes mostrar os encantos da leitura, a magia da matemática... por mostrar aos alunos que a escola é uma instituição cheia de vida, onde se aprende, mas onde acima de tudo se é feliz!
Como professora já fui avaliada, a nota que tive... o que me faz realmente feliz é saber que os meus alunos gostam da professora que têm e que na escola passamos bons momentos juntos!!!
Quanto à "papelada", já fui rotulada como a "esquecida" ou a que entrega tudo na data limite, mas de uma coisa sei nunca me esqueço nem esquecerei de dar aulas, porque amo a minha profissão.
"Sempre achei, enquanto professor, que nada do que fazia podia caber em nenhuma grelha de avaliação. Sempre achei que quem vale a pena, seja professor ou outra coisa qualquer, é quem vive aquém, além de todas as grelhas, quem se porta mal e não se verga perante o sistema, quem se borrifa para os relatórios e ama, ama, ama aquilo que ensina e faz de todo esse amor uma imensa dádiva ao mundo."
Gostei tanto de vir aqui ler!
Lídia
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