(para o António Pinho Vargas)
Sou impuro.
Ponto.
Dado a mestiçagens.
Ponto.
Sou cambota de automóvel.
Pássaro.
Palmeira.
Durmo sonos de esmeralda
e de pimenta.
Tenho um heterónimo
lunar
pronto a implodir
nas cordilheiras do Sul.
Inclino o tempo
que me é dado
ao riso dos meninos
e ao lamento pungente
dos violinos perdidos
no centro
da escuridão.
Todo o silêncio me é música.
Toda a geometria é o meu lugar.
Todos os lugares
acordam no meu peito.
(“Elogio dos peixes das pedras e dos simples”, José Fanha)
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
UMA CANÇÃO DIFERENTE
Um dia o Pedro Osório telefonou-me. Era para fazermos uma canção. Queria levar a Lúcia, filha do Carlos Alberto Moniz e da Maria do Amparo ao Festival da Canção da RTP. Nem hesitei. Conhecia a Lucinha quase de bébé. Nem hesitei.
Queríamos fazer uma canção diferente do que era costume nos anos 90. Com outra estaleca. Não foi fácil fazer a letra porque trabalhar com o Pedro Osório é um previlégio mas o seu rigor e a sua exigência vão até ao mais pequeno pormenor.
A canção chamou-se "O MEU CORAÇÃO NÃO TEM COR". Era uma festa. Não fast-food musical mas música profundamente popular.
Inesperadamente ganhou o Festival da RTP cá em Portugal e foi ao Eurofestival em Oslo onde a Lúcia encantou toda a gente com a sua extrema simpatia e o som do cavaquinho com que andava por toda a parte.
Tornou-se numa das favoritas e teve a melhor classificação de todas as canções portuguesas que até hoje concorreram ao Festival da Eurovisão. Nunca foi gravada em disco. Vá-se lá saber porquê. Mas fica aqui. Para que a ouça quem quiser.
Queríamos fazer uma canção diferente do que era costume nos anos 90. Com outra estaleca. Não foi fácil fazer a letra porque trabalhar com o Pedro Osório é um previlégio mas o seu rigor e a sua exigência vão até ao mais pequeno pormenor.
A canção chamou-se "O MEU CORAÇÃO NÃO TEM COR". Era uma festa. Não fast-food musical mas música profundamente popular.
Inesperadamente ganhou o Festival da RTP cá em Portugal e foi ao Eurofestival em Oslo onde a Lúcia encantou toda a gente com a sua extrema simpatia e o som do cavaquinho com que andava por toda a parte.
Tornou-se numa das favoritas e teve a melhor classificação de todas as canções portuguesas que até hoje concorreram ao Festival da Eurovisão. Nunca foi gravada em disco. Vá-se lá saber porquê. Mas fica aqui. Para que a ouça quem quiser.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

Bartolomeu é um amigo de Minas Gerais, escritor com vasta e maravilhosa obra virada para a infância e a juventude.
Anda por escolas e bibliotecas a contar histórias, a espalhar ternura e a semear versos. Até já passou pelas "Palavras Andarilhas" em Beja. É dos nossos.
Vale a pena visitá-lo e conhecer-lhe a arte. Segue uma amostra a seguir. Para mais pode espreitar-se a morada: http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeuqueiros/
TINHA SÓ DUAS PERNAS
"Meu pai dirigia um caminhão muito grande e bonito. Viajava para longe, levando manteiga para as cidades que só produziam pão. Bom Destino tinha pão e manteiga. Passava dias distantes e voltava trazendo uma carroceria de notícias.
Eu ficava impressionado como era grande o mundo do meu pai.Ele colocava um travesseiro sobre seus joelhos, me assentava em cima e me entregava o volante para eu dirigir. Naquele tempo eu não sabia nem frear meus pensamentos. Tinha só duas pernas; imagina dirigir um caminhão com dez rodas.
Depois, como seria possível eu aprender a dirigir, se minha alegria eram as paisagens! No caminhão havia um espelho de lado. Eu apreciava ver meu pai olhando para a frente e correndo os olhos sobre o que estava atrás. Nesses momentos ele possuía muitos olhares.".
"O olho de vidro do meu avô", Bartolomeu Campos de Queirós
Eu ficava impressionado como era grande o mundo do meu pai.Ele colocava um travesseiro sobre seus joelhos, me assentava em cima e me entregava o volante para eu dirigir. Naquele tempo eu não sabia nem frear meus pensamentos. Tinha só duas pernas; imagina dirigir um caminhão com dez rodas.
Depois, como seria possível eu aprender a dirigir, se minha alegria eram as paisagens! No caminhão havia um espelho de lado. Eu apreciava ver meu pai olhando para a frente e correndo os olhos sobre o que estava atrás. Nesses momentos ele possuía muitos olhares.".
"O olho de vidro do meu avô", Bartolomeu Campos de Queirós
domingo, 25 de novembro de 2007
MIGUEL TORGA NA VENDA DO PINHEIRO
Na Escola EB 23 da Venda do Pinheiro está a decorrer a comemoração dos 100 anos do nascimento de Miguel Torga, organizada com o entusiasmo e a dedicação da Jacqueline Duarte, coordenadora da Biblioteca.
Participação especial da Fernanda Frazão a contar de uma forma muito especial um conto dos "Bichos".
Participação especial da Fernanda Frazão a contar de uma forma muito especial um conto dos "Bichos".
sábado, 24 de novembro de 2007
PARABÉNS
Ontem, a BIBLIOTECA DE ALCOBAÇA fez anos. Que pena não ter podido lá ir. É um espaço caloroso, cheio de luz, aberto à fantasia das palavras e à imaginação dos cenários.
Parabéns Madalena. Parabéns Claudia.
Como algumas outras espalhadas pelo país, esta Biblioteca faz muito com poucos meios e um grande entusiasmo.
Se tivessem mais meios, mais apoio, se este país descobrisse que sem um grande salto nos hábitos de leitura em Portugal não há desenvolvimento económico, nem requalificação profissional, nem cidadania sólida... Isso é que era uma grande prenda de anos para todos nós.
Parabéns Madalena. Parabéns Claudia.
Como algumas outras espalhadas pelo país, esta Biblioteca faz muito com poucos meios e um grande entusiasmo.
Se tivessem mais meios, mais apoio, se este país descobrisse que sem um grande salto nos hábitos de leitura em Portugal não há desenvolvimento económico, nem requalificação profissional, nem cidadania sólida... Isso é que era uma grande prenda de anos para todos nós.
PABLO NERUDA
I
Porque é que os imensos aviões
não passeiam com os seus filhos?
Qual é o pássaro amarelo
que enche o ninho de limões?
Porque é que não ensinam
a tirar mel do sol aos helicópteros?
Onde é que a lua cheia
deixou~o seu saco nocturno de farinha?
V
Que guardas na tua bossa?
perguntou o camelo à tartaruga.
E a tartaruga perguntou:
E tu, que conversas tens com as laranjas?
Terá mais folhas uma pereira
que em Busca do Tempo Perdido?
Porque se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
VIII
Que coisa irrita os vulcões
que cospem fogo, frio e fúria?
Porque é que Cristóvão Colombo
não pôde descobrir a Espanha?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não se choram
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis
que correm até à tristeza?
Pablo Neruda, “Livro das perguntas” (1974),
Tradução José Fanha
Porque é que os imensos aviões
não passeiam com os seus filhos?
Qual é o pássaro amarelo
que enche o ninho de limões?
Porque é que não ensinam
a tirar mel do sol aos helicópteros?
Onde é que a lua cheia
deixou~o seu saco nocturno de farinha?
V
Que guardas na tua bossa?
perguntou o camelo à tartaruga.
E a tartaruga perguntou:
E tu, que conversas tens com as laranjas?
Terá mais folhas uma pereira
que em Busca do Tempo Perdido?
Porque se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
VIII
Que coisa irrita os vulcões
que cospem fogo, frio e fúria?
Porque é que Cristóvão Colombo
não pôde descobrir a Espanha?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não se choram
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis
que correm até à tristeza?
Pablo Neruda, “Livro das perguntas” (1974),
Tradução José Fanha
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
MEMÓRIAS - 1977
Da gaveta onde guardo as memórias boas repesquei este disco. Um single. Veja-se só quem participou na sua gravação e produção. Quase todos grandes e queridos amigos hoje em dia.
FACE A
EU SOU PORTUGUÊS AQUI
Voz: José Fanha - Guitarra: Pedro Caldeira Cabral
FACE B
TERRA MÃE
Letra: Dulce Fanha - Música: Joaquim Gil Nave
Vozes: Adelaide Ferreira, Argentina Rocha, Fernando Tordo, Luísa Basto, Paulo Carvalho
Acústicas e arranjo: Júlio Pereira
Flauta: Rão Kyao
Acordeão: Helder Reis
Baixo: Paulo Godinho
Bateria: Vítor Mamede
Fotos: Rui Pacheco
Arranjo gráfico: Manuel Botelho
FACE A
EU SOU PORTUGUÊS AQUI
Voz: José Fanha - Guitarra: Pedro Caldeira Cabral
FACE B
TERRA MÃE
Letra: Dulce Fanha - Música: Joaquim Gil Nave
Vozes: Adelaide Ferreira, Argentina Rocha, Fernando Tordo, Luísa Basto, Paulo Carvalho
Acústicas e arranjo: Júlio Pereira
Flauta: Rão Kyao
Acordeão: Helder Reis
Baixo: Paulo Godinho
Bateria: Vítor Mamede
Fotos: Rui Pacheco
Arranjo gráfico: Manuel Botelho
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
ESCOLA EB 1 DA PÓVOA DA GALEGA
Vou lá de vez em quando visitar a minha amiga Ana França, visitar o espaço mágico que ela criou na Biblioteca da Escola.
Há escolas em que a magia acontece quando as pessoas despenteiam o dia-a-dia e desatam a trabalhar na margem de cá da alegria.
Sempre que lá passo levo poemas e histórias. Desta vez foram as "CANTIGAS & CANTIGOS" e "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU". (Os pássaros bisnaus não descansam!)
Há escolas em que a magia acontece quando as pessoas despenteiam o dia-a-dia e desatam a trabalhar na margem de cá da alegria.
Sempre que lá passo levo poemas e histórias. Desta vez foram as "CANTIGAS & CANTIGOS" e "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU". (Os pássaros bisnaus não descansam!)
terça-feira, 20 de novembro de 2007
ESCOLA EB 1 JI DO ALTO DO MOINHO, SEIXAL
Há escolas onde entramos e o trabalho feito pelos professores com os meninos é de tal qualidade que nos faz pensar que crescer pode ser uma coisa luminosa se nos deixarem voar em vez de nos criarem justificações, avaliações, reuniões e outras atrapalhações que matam a beleza do ensino no ovo.
Nem todas as escolas são assim tão capazes de contornar a burocracia cínica com que as querem estrangular. Nem todos os professores são assim tão disponíveis para o milagre que pode e devia ser sempre ensinar. Mas a Escola do Alto do Moinho no Seixal é comoventemente assim.
E foi comovido que fiquei ao entrar nesta Escola, ao falar com os meninos, ao partilhar com eles histórias, poemas e palavras, e ao ver o trabalho feito à volta de dois livros meus, "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU" e "O DIA EM QUE A MATA ARDEU", onde se contam as maldades feitas por uma horrível família de pássaros Bisnaus.
Resolvi trazer para aqui as colagens de dois destes meninos que é uma forma pequenina de lhes agradecer a eles e aos professores o muito que me ofereceram a mim.
Nem todas as escolas são assim tão capazes de contornar a burocracia cínica com que as querem estrangular. Nem todos os professores são assim tão disponíveis para o milagre que pode e devia ser sempre ensinar. Mas a Escola do Alto do Moinho no Seixal é comoventemente assim.
E foi comovido que fiquei ao entrar nesta Escola, ao falar com os meninos, ao partilhar com eles histórias, poemas e palavras, e ao ver o trabalho feito à volta de dois livros meus, "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU" e "O DIA EM QUE A MATA ARDEU", onde se contam as maldades feitas por uma horrível família de pássaros Bisnaus.
Resolvi trazer para aqui as colagens de dois destes meninos que é uma forma pequenina de lhes agradecer a eles e aos professores o muito que me ofereceram a mim.
Subscrever:
Mensagens (Atom)