segunda-feira, 31 de março de 2008

TAPIÉS


Antoni Tapiés, pintura.

ANTONI TAPIÉS

Deus existe
e dança no seu gesto largo
ao largo da penúria
dos metais unívocos.

Deus sorri
contente
mergulhando as mãos no barro.
Tu serás de terra e ocre
tu de fogo
tu de cinzas e silêncio
tu raiz ou mel ou ave.

Deus te deu a porta e a laranja.
Abrirás a porta.
Teu será o fruto
a curva
o sumo.
Correrás o labirinto.
Tomarás para ti a lama
os trapos
e as paixões.

Seguirás em busca
da turfa do poema.

José Fanha, "Elogio dos peixes, das pedras e dos simples"

MATISSE - JAZZ

Henri Matisse, "Tobogan" da série "Jazz"

domingo, 30 de março de 2008

O JAZZ DE MATISSE

O jazz sopra
e a tesoura do olhar
recorta
bailarinas.

O jazz
arrasta as luzes
da cidade
engole espadas
beija
brevemente
o voo
dos trapezistas.

O jazz deita-se
na cama
do pintor
empresta-lhe uma asa
inspira-lhe o olhar
das águias
convida-o
à paz
redonda
de dois seios
de mulher.

O jazz instala-se
nos dedos
desarruma
a alma
coloca
na mais urgente
ordem do dia
toda a gama dos azuis.


José Fanha, "Elogio dos peixes, das pedras e dos simples"

sábado, 29 de março de 2008

ZÉ VIANA



Coisas da vida... Aqui estou eu com seis anos, a desenhar uma casa sob o olhar terno e divertido do José Viana.


Eu viria a ser arquitecto (muito pouco praticante). Mais importante: viria a ter o privilégio de me cruzar várias vezes nas teias da amizade com este grande actor e pintor que foi o Zé Viana.


sexta-feira, 28 de março de 2008

MÁRIO DE CARVALHO

"A literatura foi-me entregue. tenho a obrigação de a devolver sem estragos."

Mário de Carvalho, O Público, 28 de Março


O Mário será, quanto a mim, o escritor vivo que melhor usa e trabalha a nossa língua. Por isso, é particularmente comovente esta sua afirmação feita com a humildade que faz dele um homem grande e discreto.

quarta-feira, 26 de março de 2008

PALMELA


Contiuando a desfiar memórias e locais onde tenh estado a contar histórias ou a dizer poesia.

Na Biblioteca Municipal de Palmela

segunda-feira, 24 de março de 2008

MEDOS, FOBIAS, OBSESSÕES


Uma vida não nos chega para tudo o que gostaríamos de fazer, de visitar, de amar.

Há momentos em que temos de fazer escolhas. Não se pode fazer tudo bem. É preciso criar prioridades. A poesia e a sua divulgação ganharam um ligeiro avanço ao resto. Além disso, há actividades como as artes plásticas que são demasiado absorventes para se fazerem em part-time.

Às vezes dava-me para "bonecar". Ultimamente menos. Há uns anos andava a inventar uns bicharocos engraçados. Este foi parar à capa da Revista de "Psicologia" que abordava o tema dos "Medos, fobias, obsessões". 1989. Já lá vai algum tempo...

REVISTA "PSICOLOGIA"


domingo, 23 de março de 2008

FRANCISCO MENDES


"Perdigão perdeu a pena..." de Camões, braço dado com a música de "Chico Fininho" do Rui Veloso. Uma pequena aventura bem sucedida.
Ao piano e fora da fotografia estava o António Palma.
Valeu a pena juntar o velho e o novo. Quando se arrimam bem sai uma festa bonita.
Conhecia o Francisco de quando ele ainda andava de calções. Do Mendes pai, Carlos, cantor e arquitecto, sou amigo e fui companheiro da escola de belas Artes, de sonhos, de desilusões e de cantigas.
Agora tive a felicidade de andar à volta da poesia com o Francisco por palcos inesperados, em S. João da Madeira.
Um animador fantástico. Um comunicador invulgaríssimo. Um ser humano de primeria água.
Viva o Chico! Vivá nós!viva a poesia!

quarta-feira, 19 de março de 2008

A POESIA FAZ VOAR

Poesia e versos não são a mesma coisa. Os versos rimam, fazem rir, sorrir, concordar, discordar... Mas a poesia faz voar. E os meninos sabem tão bem caminhar com os seus passos pequeninos sobre a matéria da poesia.

Veja-se este trabalho colectivo da Escola do 1º Ciclo de Fundo de Vila, S. João da Madeira com a professora Salomé, feito depois de uma conversa à volta de "A criança e a vida". Lembram-se desse livrinho de poemas de crianças organizados pela Maria Rosa Colaço?

O que é uma borboletaa?
É uma princesa com asas.

O que é um pássaro?
É uma flauta do ar.

O que é um livro?
É uma televisão em pausa.

O que é um cometa?
É uma bola maluca desvairada no ar.

O que é uma gota de água?
É uma lágrima de uma nuvem magoada.

domingo, 9 de março de 2008

LITERATURA

"Todos procuram um final feliz (...), procuram o que é banal e insosso, o que é ligeiro e efeminado: recusam-se a fazer literatura"

In, "O Último Leitor", David Toscana

sábado, 8 de março de 2008

LÍDIA A MULHER TATUADA E OS SEUS ACTORES TATUADOS

Em 1973, no 1º Acto Clube de Teatro em Algés formou-se um grupo de teatro muito, muito especial e particularmente delirante chamado “LÍDIA A MULHER TATUADA E OS SEUS ACTORES AMESTRADOS”.

Os fundadores eram o Carlos Manuel Rodrigues, o Carlos Cabral, a Maria de S. José lapa, a Clara Joana, este que se assina, José Fanha, e o Luís Fernando Machado. faziam parte do grupo autores, actores, alguns que nem por isso, namoradas várias, amigos fixes e diversos ocasionais.

Ainda em 73 fizemos um memorável espectáculo intitulado “Aventuras de Zé Pateta o bom cidadão nos entrefolhos do Treme-Treme”.

O Grupo sofreu as crises que sofrem todos os grupos. Saíram uns, entraram outros. Entre os que entraram estava o Vítor Valente que mais tarde viria a fundar o Realejo no Porto.

O segundo e último espectáculo julgo que se estreou antes do 25 de Abril de 74 e foi apresentado nos primeiros meses da festa inquieta e maravilhosa que se lhe seguiu. Chamava-se: “Zé do Telhado – 150 anos de amor e aventuras”.

A “Lídia” foi talvez uma experiência única no teatro português. O caos era total e, apesar disso ou talvez por causa disso, fazia-se um teatro profundamente inquieto e vivo.

As influências vinham de tudo e de todos, desde a revista até ao Grand Guignol, de Jarry ao “Bread and Puppet”, dos Marx Brothers ao “Living Theatre” ao teatro mexicano de guerrilha. Tudo o que calhava. Rasgavam-se todas as composturas e convenções e a festa era garantida. Quem o fazia divertia-se à bruta. Quem o via, diz-se, divertia-se ainda mais.

Ficam aqui duas fotografias do Verão de 74.

LÍDIA A MULHER TATUADA


1974 José Fanha e Vítor valente

LÍDIA A MUHER TATUADA


1974 Vítor valente e Maria de S. José Lapa

domingo, 2 de março de 2008

EU SEI QUEM SOU

"TODAS AS HISTÓRIAS ESTÃO AQUI NA MINHA CABEÇA, TODA UMA BIBLIOTECA DE PALAVRAS; A HISTÓRIA DO MEU POVO, DA MINHA ALDEIA, DA NOSSA DOR, TUDO AQUI DENTRO DA MINHA CABEÇA. EU SEI QUEM SOU."

General Tomás Arroyo em

"O Velho Gringo" de Carlos Fuentes