segunda-feira, 22 de julho de 2013
50 ANOS DE "OS VAMPIROS"
Uma festa muito bela na Aula Magna de Lisboa, no último sábado, com Xico Fam,nhais, Manuel Freire, João Afonso, Pedro Fragoso, Luís Pasrtor, Lusdes Guerra, Rogério Cardoso Pires, Vox Ensemble e mais este que se assina.
sábado, 20 de julho de 2013
segunda-feira, 8 de julho de 2013
ENTRE SONHO E FRICÇÃO
O Ondjaki é daquelas pessoas que mal conhecemos inauguramos logo uma longa amizade como dizia o O'Neill. Há nele uma alegria, uma enorme generosidade e um tão imediato desejo de companheirismo que nos deixa completamente rendidos.
Nos jornais que se guardam e acumulam para ler um dia em que se tenha tempo, apanhei uma entrevista ao JL de há tempos. E respiguei esta frase a propósito dos dias difíceis:
"Há dias em que me apetecia simplesmente que as coisas estivessem já num melhor rumo Não só para Angola mas para o mundo todo. Mas entre utopia e desencantamento, vamos dançando, falando. Entre sonho e fricção vamo contornando."
sexta-feira, 5 de julho de 2013
ANA BISCAIA - PRÉMIO NACIONAL DE ILUSTRAÇÃO
A minha amiga ANA BISCAIA ganhou o Prémio Nacional de Ilustração com "A CADEIRA QUE QUERIA SER SOFÁ".
Parabéns! Ela merece muito. É uma pessoa invulgar e uma ilustradora muito talentosa e que trabalha muito à margem do lugar comum.
E eu fico duplamento satisfeito porque temos um projectinho para um livro um bocadinho maluco que vai começar a ser trabalhado lá para Setembro.
E parabéns também ao Adelino Castro, esditor da LÁPIS DE MEMÓRIAS, pelo risco que assume e pelo prazer em fazer livros para quem gosta de livros.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
PELO MENOS UM BOM POEMA
A minha amiga Ana Margarida Cruz, professora de Filosofia em Vila Nova de Poiares, faz da página do Facebook uma forma delicada e entusiasmante de falar das suas paixões. E a sua maior paixão é a poesia e a leitura. Temos isso em comum Andamos sempre a roubar coisas um ao outro para lhes dar ainda maior divulgação.
Roubei-lhe esta citação de Goethe e esta ilustração de André da Loba. tenho a certeza de que muito mais opesoas as vão também levar.
Bem haja Ana Margarida.
"Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras sensatas"
Goethe
Ilustração DE André da Loba
Roubei-lhe esta citação de Goethe e esta ilustração de André da Loba. tenho a certeza de que muito mais opesoas as vão também levar.
Bem haja Ana Margarida.
"Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras sensatas"
Goethe
Ilustração DE André da Loba
segunda-feira, 1 de julho de 2013
PORQUE A LIBERDADE OFENDE
ELA É TÃO LIVRE QUE UM DIA SERÁ PRESA. "PRESA POR QUÊ?". "POR EXCESSO DE LIBERDADE". "POR EXCESSO DE LIBERDADE". "MAS ESSA LIBERDADE É INOCENTE?".. "É". "ATÉ MESMO INGÉNUA". "ENTÃO, POR QUÊ A PRISÃO?" "PORQUE A LIBERDADE OFENDE".
Clarice Lispector
Descobri a Clarice há alguns anos. A leitura tem estas coisas, a imensa felicidade de descobrir, de vez enquando, novos autores que nos acrescentam, que nos trazem uma nova inquietação, úm novo júbilo, um olhar mais profundo sobre as coisas da vida,um poucoquinho mais de felicidade.
Clarice teve uma exposição maravilhosa na Gulbenkian. Clarice está na moda. Algumas modas irritam-me. Já vi fazerem-se modas á volta de coisas de circunstância, poetas de leva-e-traz, coisas breves que passam e não deixam marca na praia do coração.
Mas a moda de Clarice é uma moda muito boa e que eu espero que perdure. porque ler Clarice é uma festa para a inteligência.
"ELA ACREDITAVA EM ANJO E, PORQUE ACREDITAVA, ELES EXISTIAM" ("A hora da estrela", Clarice Lispector)
quinta-feira, 27 de junho de 2013
AS CASAS PARA USAR E AS CASAS PARA NÃO MEXER
E aqui fica um texto do próximo 2º volume do "DIÁRIO INVENTADO DE UM MENINO JÁ CRESCIDO"
AS CASAS PARA USAR E AS CASAS PARA NÃO MEXER
A minha mãe levava-me às vezes a visitar uma senhoras que têm casas onde não se pode mexer em nada. Só se pode ver.
Todas as coisas que existiam nessas casas eram coisas muito caras. Os candeeiros cheios de vidrinhos, as cortinas cheias de cordões, as mesas cheias de tacinhas, as tacinhas cheias de dourados e tudo tão cheio de coisas que nem podia dar um espirro com medo de estragar alguma daquelas coisas.
Essas casas estavam muito limpas. Tão limpas que nem eram casas. Eram só limpeza. Tinham cheiro a cera e havia sempre plásticos em cima dos sofás, e tapetes pobrezinhos em cima de tapetes mais ricos e naperons em cima das televisões.
Nós entrávamos, víamos tudo, estava visto, “Que lindo, que lindo!”, dizia a minha mãe. E depois ela e a dona da casa iam conversar para a cozinha.
Eu, como não sabia o que é que havia de fazer, punha-me a pensar e ficava cheio de pena daquelas casas. Tinham sempre os estores fechados e lá dentro só havia sombras e cheiro a remédio para as baratas e por isso eram casas muito tristes. Não viam o sol e a lua, não ouviam gargalhadas, nem espirros, nem meninos a chorar, nem mães a cantar para os filhos adormecerem.
Quando eu for grande quero ter uma casa sem plásticos por cima dos sofás. Uma casa onde possa pular e, às vezes, rebolar pelo chão e adormecer num sofá quando o sol começa a ir-se embora. Quero uma casa com cheiros de comida e de pessoas, onde se possa tocar e mexer. Porque, se ninguém mexer nelas, as casas ficam muito tristes e podem até morrer.
AS CASAS PARA USAR E AS CASAS PARA NÃO MEXER
A minha mãe levava-me às vezes a visitar uma senhoras que têm casas onde não se pode mexer em nada. Só se pode ver.
Todas as coisas que existiam nessas casas eram coisas muito caras. Os candeeiros cheios de vidrinhos, as cortinas cheias de cordões, as mesas cheias de tacinhas, as tacinhas cheias de dourados e tudo tão cheio de coisas que nem podia dar um espirro com medo de estragar alguma daquelas coisas.
Essas casas estavam muito limpas. Tão limpas que nem eram casas. Eram só limpeza. Tinham cheiro a cera e havia sempre plásticos em cima dos sofás, e tapetes pobrezinhos em cima de tapetes mais ricos e naperons em cima das televisões.
Nós entrávamos, víamos tudo, estava visto, “Que lindo, que lindo!”, dizia a minha mãe. E depois ela e a dona da casa iam conversar para a cozinha.
Eu, como não sabia o que é que havia de fazer, punha-me a pensar e ficava cheio de pena daquelas casas. Tinham sempre os estores fechados e lá dentro só havia sombras e cheiro a remédio para as baratas e por isso eram casas muito tristes. Não viam o sol e a lua, não ouviam gargalhadas, nem espirros, nem meninos a chorar, nem mães a cantar para os filhos adormecerem.
Quando eu for grande quero ter uma casa sem plásticos por cima dos sofás. Uma casa onde possa pular e, às vezes, rebolar pelo chão e adormecer num sofá quando o sol começa a ir-se embora. Quero uma casa com cheiros de comida e de pessoas, onde se possa tocar e mexer. Porque, se ninguém mexer nelas, as casas ficam muito tristes e podem até morrer.
terça-feira, 25 de junho de 2013
NOTÍCIAS DE UM PAÍS ONDE SE LÊ
Aqui vos trago notícias de um país onde se lê. Um país que, por vezes, parece clandestino porque os jornais não falam dele. E muitos dos nossos dirigentes nem sabem que existe E, às vezes, nem sabem que existe leitura.
O "DIÁRIO INVENTADO DE UM MENINO JÁ CRESCIDO" (que já vai na sua 7ª edição - a imagem já vem atrasada) foi um livrinho feito com um enorme prazer e que já tem a continuação à vista. São histórias de quando eu era menino escritas para as minhas filhas, para lhes contar como era na infância este pai, e que o meu filho mais velho ilustrou como trabalho de final do curso Superior de Pintura.
É claro que nem tudo aconteceu como vem contado. Quem conta um conto acrescenta um ponto. Mas essa viagem à memória da infância é um exercício que me dá um imenso prazer, como ainda o dá a procura da forma de contar que bem respeite essa memória e estabeleça possíveis pontes entre infâncias e tempos diferentes.
Recebo agora uma bela notícia: o "Diário" foi o livro mais requisitado durante o ano no Centro de Recursos da EB23 da Venda do Pinheiro. É claro que o facto de o Centro de Recursos se chamar "Poeta José Fanha" dá uma ajudinha a esta popularidade. Mas quem merece todos os elogios é a professora bibliotecária Jacqueline Duarte, uma daquelas fantásticas professoras que vão muito para além de todas as metas no trabalho de promoção do livro e da leitura. Bem haja.
terça-feira, 18 de junho de 2013
LEMBRO-ME
É cada vez maior a importância de preservar e transmitir memória num tempo que devora cada vez mais rapidamente o passado, mesmo o passado próximo. E quando se esquece o passado ficamos sem chão para construir o futuro
Neste caso, o meu amigo João Pedro Messéder faz um trabalho simples, liso, comovente e tão importante que é o de dirigir-se: a um público já nascido e crescido num país onde as liberdades democráticas são uma realidade - cada vez mais ameaçadas, é certo, apesar de duramente conquistadas pela luta do povo ao longo de quarenta e oito anos de ditadura salazarista e machista.
E dirige-se a esse público para contar desse país antes da democracia e da liberdade, desse tempo cinzento e burro da ditadura. E vem dizer-nos de que é que se lembra, das pequenas e das grandes coisas, para que todos possam ler melhor estes dias que nos são dados viver e em que ideias e factos e momentos estão ancorados nas esperanças e nos medos de quem viveu o antes e o depois.
A editora é a LÁPIS DE MEMÓRIAS do Adelino Castro e a ilustradora é a fantástica ANA BISCAIA. Tudo amigos.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
IF I HAD A HAMMER
Sabe bem lembrar esta canção criada por Pete Seeger e aqui cantada pelos PETER, PAUL AND MARy.
Foi um hino das lutas pelos direitos civis na América.
Hoje em que os professores estão a romper o medo atávico e a partir para uma luta tão justa como urgente, volta a ser importante lembrar, como nesta canção, que :
It's the hammer of justice
It's the bell of freedom
It's the song about love between
my brothers and my sisters
If I Had A Hammer
If I had a hammer
I'd hammer in the morning
I'd hammer in the evening
All over this land
I'd hammer out danger
I'd hammer out a warning
I'd hammer out love between
My brothers and my sisters ah-aaah
All over this land
If I had a bell
I'd ring it in the morning
I'd ring it in the evening
All over this land
I'd ring out danger
I'd ring out a warning
I'd ring out love between
My brothers and my sisters ah-aaah
All over this land.
If I had a song
I'd sing it in the morning
I'd sing it in the evening
All over this land
I'd sing out danger
I'd sing out a warning
I'd sing out love between
My brothers and my sisters ah-aaah
All over this land.
I got a hammer
And I got a bell
I got a song to sing
All over this land
It's the hammer of justice
It's the bell of freedom
It's the song about love between
My brothers and my sisters
All over this land
All over this land
All over this land
All over this land
All over this land
Foi um hino das lutas pelos direitos civis na América.
Hoje em que os professores estão a romper o medo atávico e a partir para uma luta tão justa como urgente, volta a ser importante lembrar, como nesta canção, que :
It's the hammer of justice
It's the bell of freedom
It's the song about love between
my brothers and my sisters
If I Had A Hammer
If I had a hammer
I'd hammer in the morning
I'd hammer in the evening
All over this land
I'd hammer out danger
I'd hammer out a warning
I'd hammer out love between
My brothers and my sisters ah-aaah
All over this land
If I had a bell
I'd ring it in the morning
I'd ring it in the evening
All over this land
I'd ring out danger
I'd ring out a warning
I'd ring out love between
My brothers and my sisters ah-aaah
All over this land.
If I had a song
I'd sing it in the morning
I'd sing it in the evening
All over this land
I'd sing out danger
I'd sing out a warning
I'd sing out love between
My brothers and my sisters ah-aaah
All over this land.
I got a hammer
And I got a bell
I got a song to sing
All over this land
It's the hammer of justice
It's the bell of freedom
It's the song about love between
My brothers and my sisters
All over this land
All over this land
All over this land
All over this land
All over this land
terça-feira, 11 de junho de 2013
ACHIMPA
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A minha amiga, Catarina Sobral é uma jovem e excelente ilustradora, se se pode chamar ilustração em estrito senso ao que ela faz. Mas também não vale a pena discutir essas minudências. É bom É diferente. É pessoal E é muito divertido.
Com "Achimpa" a Catarina ganhou o prémio SPA para livros infantis. Viva! Parabéns.
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E se querem saber o que é Achimpa leiam o livro. partilhem-no. Vale a pena. É uma beleza. Num formato invulgar. Numa aposta da editora Orfeu Mini na qalidade.

sábado, 8 de junho de 2013
QUANDO O SOL ESTÁ A BRILHAR
quarta-feira, 5 de junho de 2013
AS FOLHAS MORTAS

Farto-me de falar de Prévert. Foi um dos meus primeiríssimos amores na poesia. Volta e meia volto a ele. À poesia, às colagens, às canções.
E aqui ficam uma colagem e uma canção que é daquelas raras e maravilhosas canções que me ajudam a reconciliar-me comigo e com o mundo. Uma canção de amor, uma canção sobre o fim do amor, aqui cantada por uma imensa senhora da canção: Juliette Gréco.

domingo, 2 de junho de 2013
A DEMOCRACIA E O CAPITALISMO

Há pessoas que devemos ouvir, pessoas que nos ajudam a pensar melhor as razões do lugar desconfortável que esta sociedade nos vai reservando.
Uma dessas pessoas é o meu querido amigo, o Profeeor Boeventura Sousa Santos.
Reproduzo o artigo dele na última VISÃO sobre democracia e capitalismo. Explicado assim paraece tão fácil E se calhar é mesmo fácil. Mas não para todos certamente..
"A relação entre democracia e capitalismo foi sempre uma relação tensa, senão mesmo de contradição. O capitalismo só se sente seguro se governado por quem tem capital ou se identifica com as suas "necessidades", enquanto a democracia é o governo das maiorias que nem têm capital nem razões para se identificar com as "necessidades" do capitalismo, bem pelo contrário. O conflito é distributivo: a pulsão para a acumulação e concentração da riqueza por parte dos capitalistas e a reivindicação da redistribuição da riqueza por parte dos trabalhadores e suas famílias. A burguesia teve sempre pavor de que as maiorias pobres tomassem o poder e usou o poder político que as revoluções do século XIX lhe concederam para impedir que tal ocorresse. Concebeu a democracia liberal de modo a garantir isso mesmo, através de medidas que mudaram no tempo mas mantiveram o objetivo: restrições ao sufrágio, primazia absoluta do direito de propriedade individual, sistema político e eleitoral com múltiplas válvulas de segurança, repressão violenta de atividade política fora das instituições, corrupção dos políticos, legalização dos lóbis. E sempre que a democracia se mostrou disfuncional, manteve-se aberta a possibilidade do recurso à ditadura, o que aconteceu muitas vezes.
No imediato pós-guerra, muito poucos países tinham democracia, vastas regiões do mundo estavam sujeitas ao colonialismo europeu que servira para consolidar o capitalismo euro-norte-americano, a Europa encontrava-se devastada por mais uma guerra provocada pela supremacia alemã, e, no Leste, consolidava-se o regime comunista que se via como alternativa ao capitalismo e à democracia liberal. Foi neste contexto que surgiu o chamado capitalismo democrático, um sistema assente na ideia de que, para ser compatível com a democracia, o capitalismo deveria ser fortemente regulado, o que implicava a nacionalização de setores-chave da economia, a tributação progressiva, a imposição da negociação coletiva e até, como aconteceu na então Alemanha Ocidental, a participação dos trabalhadores na gestão das empresas. No plano científico, Keynes representava, então, a ortodoxia económica e Hayek a dissidência. No plano político, os direitos económicos e sociais foram o instrumento privilegiado para estabilizar as expectativas dos cidadãos e defendê-las das flutuações constantes e imprevisíveis dos "sinais dos mercados". Esta mudança alterava os termos do conflito distributivo mas não o eliminava. Pelo contrário, tinha todas as condições para o acirrar logo que abrandasse o crescimento económico, o que se registou nas três décadas seguintes. E assim sucedeu.
Desde 1970, os Estados centrais têm vindo a gerir o conflito entre as exigências dos cidadãos e as exigências do capital, recorrendo a um conjunto de soluções que gradualmente foram dando mais poder ao capital. Primeiro, foi a inflação, depois, a luta contra a inflação acompanhada do aumento do desemprego e do ataque ao poder dos sindicatos, a seguir, o endividamento do Estado em resultado da luta do capital contra a tributação, da estagnação económica e do aumento das despesas sociais decorrentes do aumento do desemprego e, finalmente, o endividamento das famílias, seduzidas pelas facilidades de crédito concedidas por um setor financeiro finalmente livre de regulações estatais, para iludir o colapso das expectativas a respeito do consumo, educação e habitação.
Até que a engenharia das soluções fictícias chegou ao fim, com a crise de 2008, e se tornou claro quem tinha ganho o conflito distributivo: o capital. Prova disso: o disparar das desigualdades sociais e o assalto final às expectativas de vida digna da maioria (os cidadãos) para garantir as expectativas de rentabilidade da minoria (o capital financeiro). A democracia perdeu a batalha mas só não perderá a guerra se as maiorias perderem o medo, se revoltarem dentro e fora das instituições e forçarem o capital a voltar a ter medo, como sucedeu há 60 anos."
quarta-feira, 29 de maio de 2013
ESCULTURAS PARA HABITAR... OU TALVEZ NÃO

O Arquitecto Calatrava tem deixado a marca do seu magnífico desenho pelas grandes cidades do mundo. É um excepcional criador de objectos urbanos. Um escultor de espaços arquitectónicos.
Eu que sou arquitecto não praticante, mas arquitecto, não posso deixar de admirar os objectos de Calatrava, entre os quais a Estação do Oriente no Parque das Nações. Não gosto de lhes chamar arquitectura mas escultura urbana.
Explico. Também sou utente e com muita frequência da Estação. Não a vejo só de fora. Uso-a. No Verão e sobretudo no Inverno. Deixo inúmeras vezes o carro no estacionamento e tenho de percorrer centenas de metros e várias escadas rolantes para chegar às bilheteiras e às plataformas para apanhar o comboio.

Além deste percurso longo e doloroso para quem tem hérnias discais como eu e uma mala de rodinhas para levar por ali fora e por ali acima, acresce o extremo incómodo das plataformas. São lindas. Mas o vento, o frio e a chuva fustigam quem tem de esperar pelo comboio. Tem sido o meu caso vezes sem conta.
É claro que a Estação foi feita para a Expo 98 que se inaugurou em pleno Verão e tinha uma utilização muito intensa.
Mas não era apenas para isso. Era e é para continuar no tempo. E aí é que a porca torce o rabo.
Sempre entendi a Arquitectura como uma forma de arte para habitar. O arquitecto tem de responder a várias ordens de problemas, técnicos, de desenho,de inserção no espaço urbano, de resposta aos programas de utilização, de procura dessa conjunção que faz as obras raras que é a de juntar beleza e conforto.
Um dos mais fantásticos e delirantes textos sobre este tema chama-se "Se os impressionistas fossem dentistas". Woody Allen no seu melhor. Vale a pena lê-lo e pensar que aquele dentista que fazia obras de arte na boca das pessoas sem querer saber do seu conforto tem uma atitude semelhante à de alguns artistas que esquecem o seu público e as respectivas necessidades.
A Estação do Oriente é bonita vista de fora. Muito incómoda por dentro. Não me parece uma obra de arte boa para habitar. A não ser para os sem abrigo que a partir das 22/23h00 estendem papelão, velhos cobertores e mantas nas longas bancadas e ali dormem enrolados na solidão, no álcool, nos cães. De madrugada têm de sair. Às vezes, quando chego tarde, vejo-os nas tarefas de fazer a cama. Outras vezes chego tão cedo que ainda estão a beber o primeiro bagaço e a partir para os seus descaminhos na cidade.
Tremo sempre ao vê-los. Mas dou graças por terem ao menos esta morada e peço que o Deus dos comboios vele sempre pelo seu sono.

segunda-feira, 27 de maio de 2013
EU NÃO QUERO VOLTAR À MINHA VIDA
Devo confessar que nunca fui um daqueles exdrúxulos e deslumbrados apreciadores da poesia de Adília Lopes.
Talvez porque sempre fui contra a corrente das modas de ocasião. Talvez porque frequentei muito e continuo a frequentar poetas como Cesariny, Prévert, Breton e outros que caminharam com outro fôlego, outro programa e outro construído olhar sobre a coisa da escrita.
A moda Adília Lopes tem esmorecido ultimamente. Os deslumbrados mudam de negócio periodicamente e desviam-se para outras novidades. Às vezes até fazem de conta que nem se lembram de quem ela é e das loas que lhe teceram.
E eu, como sou um homem livre, até da carga dos possíveis preconceitos, e que estou sempre disponível para me deixar tomar pela força de um poema, dei, pela primeira vez, com um poema de Adília Lopes que me agarrou pela garganta e me virou do avesso.
Fiquei feliz porque encontrar um bom poema é sempre uma festa. E tenho de agradecer ao meu amigo Nicolau Santos que continua um belíssimo trabalho de divulgação da poesia portuguesa nos seus artigos sobre economia no jornal Expresso
Cá vai mais um abraço, meu caro Nicolau, já que os abraços não se gastam como os tostões.
A ELISABETH FOI-SE EMBORA
(com algumas coisas de Anne Sexton)
Eu que já fui do pequeno almoço à loucura
eu que já adoeci a estudar morse
e a beber café com leite
não posso passar sem a Elisabeth
porque é que a despediu senhora doutora?
que mal me fazia a Elisabeth
a lavar-me a cabeça
não suporto que a senhora doutora me toque na cabeça
eu só venho cá senhora doutora
para a Elisabeth me lavar a cabeça
só ela sabe as cores os cheiros a viscosidade
de que eu gosto nos shampoos
só ela sabe como eu gosto da água quase fria
a escorrer-me pela cabeça abaixo
eu não posso passar sem a Elisabeth
não me venha dizer que o tempo cura tudo
contava com ela para o resto da vida
a Elisabeth era a princesa das raposas
precisava das mãos dela na minha cabeça
ah não haver facas que lhe cortem o
pescoço senhora doutora eu não volto
ao seu antiséptico túnel
já fui bela uma vez agora sou eu
não quero ser barulhenta e sozinha
outra vez no túnel o que fez à Elisabeth?
a Elisabeth era a princesa das raposas
porque me roubou a Elisabeth?
a Elisabeth foi-se embora
é só o que tem para me dizer senhora doutora
com uma frase dessas na cabeça
eu não quero voltar à minha vida
Talvez porque sempre fui contra a corrente das modas de ocasião. Talvez porque frequentei muito e continuo a frequentar poetas como Cesariny, Prévert, Breton e outros que caminharam com outro fôlego, outro programa e outro construído olhar sobre a coisa da escrita.
A moda Adília Lopes tem esmorecido ultimamente. Os deslumbrados mudam de negócio periodicamente e desviam-se para outras novidades. Às vezes até fazem de conta que nem se lembram de quem ela é e das loas que lhe teceram.
E eu, como sou um homem livre, até da carga dos possíveis preconceitos, e que estou sempre disponível para me deixar tomar pela força de um poema, dei, pela primeira vez, com um poema de Adília Lopes que me agarrou pela garganta e me virou do avesso.
Fiquei feliz porque encontrar um bom poema é sempre uma festa. E tenho de agradecer ao meu amigo Nicolau Santos que continua um belíssimo trabalho de divulgação da poesia portuguesa nos seus artigos sobre economia no jornal Expresso
Cá vai mais um abraço, meu caro Nicolau, já que os abraços não se gastam como os tostões.
A ELISABETH FOI-SE EMBORA
(com algumas coisas de Anne Sexton)
Eu que já fui do pequeno almoço à loucura
eu que já adoeci a estudar morse
e a beber café com leite
não posso passar sem a Elisabeth
porque é que a despediu senhora doutora?
que mal me fazia a Elisabeth
a lavar-me a cabeça
não suporto que a senhora doutora me toque na cabeça
eu só venho cá senhora doutora
para a Elisabeth me lavar a cabeça
só ela sabe as cores os cheiros a viscosidade
de que eu gosto nos shampoos
só ela sabe como eu gosto da água quase fria
a escorrer-me pela cabeça abaixo
eu não posso passar sem a Elisabeth
não me venha dizer que o tempo cura tudo
contava com ela para o resto da vida
a Elisabeth era a princesa das raposas
precisava das mãos dela na minha cabeça
ah não haver facas que lhe cortem o
pescoço senhora doutora eu não volto
ao seu antiséptico túnel
já fui bela uma vez agora sou eu
não quero ser barulhenta e sozinha
outra vez no túnel o que fez à Elisabeth?
a Elisabeth era a princesa das raposas
porque me roubou a Elisabeth?
a Elisabeth foi-se embora
é só o que tem para me dizer senhora doutora
com uma frase dessas na cabeça
eu não quero voltar à minha vida

domingo, 19 de maio de 2013
MANUEL RIVAS

No IV Encontro de Escritores Lusófonos que decorreu mais uma vez em Odivelas, conheci vários escritores da Guiné, Cabo Verde, Moçambique, Angola, Brasil. Reencontrei vários amigos, o Ascêncio de Freitas, o João de Melo, entre outros. E conheci um notável escritor e poeta galego, o manuel Rivas de que já li vários livros entre os quais o notável "O lápis do carpinteiro"
O Manolo é daquelas pessoas com quem, mal o conhecemos, inauguramos a palavra amigo, como dizia o O'Neill. Aqui fica um belo poema dele.
SOMOS LO QUE SOÑAMOS SER
Somos lo que soñamos ser
Y ese sueño, no es tanto una meta
Como una energía
Cada día es una crisálida
Cada día alumbra una metamorfosis
Caemos, nos levantamos
Cada día la vida empieza de nuevo
La vida es un acto de resistencia y de reexistencia
Vivimos, revivimos
Pero todos esos tienen la memoria
Somos lo que recordamos
La memoria es nuestro hogar nómada
Como las plantas o las aves emigrantes
Los recuerdos tienen la estrategia de la luz
Van hacia delante
A la manera del remero que se desplaza de espaldas para ver mejor
Hay un dolor parecido al dolor de muelas
A la pérdida física
Y es perder algún recuerdo que queremos
Esas fotos imprescindibles en el álbum de la vida
Por eso hay una clase d melancolía que no atrapa
Sino que nutre la libertad
En esa melancolía como espuma en las olas
Se alzan los sueños.
Manuel Rivas.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
OMELHORAMIGO.BLOGSPOT.COM

Foi o meu amigo Alberto Serra que me avisou: "Vai lá ver o blog! Não percas! Eu vou lá todos os dias!"
E eu fui E gostei. Muito. Mais ainda, agradeço as traduções partilhadas pelo David Vaz Pinto. Traduzir poesia é uma festa e um ofício maravilhoso. Neruda chamava-lhe "Trocar de rosa".
E aqui fica um poema de Gabriel Celaya (1911-1991), poeta espanhol do período do pós-guerra civil, um dos mais destacados representantes do que se chamou a "poesia comprometida".
Tudo vale a pena
Tudo vale a pena.
Espero ansiosamente telegramas que digam,
por exemplo: "Foste aceite", ou: "Boa viagem. Abraços."
Pago o que for preciso por um cognac decente;
perco noites inteiras com uma miúda qualquer.
Tudo vale a pena.
Tudo me arrebata e é isso o que é terrível;
tudo me apaixona e é, ainda assim, tonto;
tudo deveria parecer-me nada,
mas as coisas de nada são a minha vida, o meu tudo.
Tudo vale a pena.
Exibo o capital social do meu negócio
como um pele-vermelha a sua arrogante pena.
É uma miséria; não significa nada;
mas o meu sangue pulsa: vivo, sou feliz.
- Gabriel Celaya
terça-feira, 14 de maio de 2013
O MEU AMIGO PINTO
Já conheço o meu amigo Joaquim Pinto talvez desde antes do 25 de Abril. E quando quero o cabelo bem cortado lá vou a correr pedir assento na sua cadeira e entregar a melena desgranhada à sua arte de cabeleireiro laureado
É um oficial ímpar do seu ofício. Já recebeu muitos prémios. Foi duas vezes campeão europeu de cabeleireiros.
Tem desde sempre o seu estabelecimento (Cabeleireiros Pinto's)na cave do Apolo 70, ali quase ao lado das antigas instalações da RTP.
Cortou o cabelo a muita gente famosa deste país. Artistas de teatro e de televisão, jornalistas, pintores, escritores, políticos, presidentes da República e capitães de Abril. Tem um livro pronto para dar conta justamente de toda essa gente que teve e continua a ter sentada na sua cadeira.
Com eles conversa com uma calma e afabilidade delicadíssimas e uma capacidade invulgar de não magoar ninguém mesmo quando numa e noutra cadeira estão sentados inimigos dos de pantalha, de campanha eleitoral ou mesmo dos figadais.
Já aqui falei dele. E mais hei-de falar. Porque merece sendo um grande profissinal e um maravilhoso ser humano.
Já lá não cortava o cabelo há uns dois anos. Os cabeleireiros comigo não se governam... Mas sempre que lá vou venho mais leve, do cabelo que voou, da conversa e da amizade que me fazem sentir mais confortável e ligeiro neste momento tão pesado e negro em que nos movimentamos por estes tempos.
Grande abraço, Pinto. E talvez desta vez demore menos tempo para levar o meu já reduzido cabelo a visitá-lo outra vez.
domingo, 12 de maio de 2013
PLANTAR A LUA
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