segunda-feira, 3 de agosto de 2015
ACREDITO
Tenho de confessar que sou admirador do escritor David Machado e um leitor atento e entusiasta da sua obra quer seja do lado do romance quer seja do lado da literaturainfanto-juvenil.
Aliás, acaba de ser reconhecida a sua qualidade como romancista, tendo sido um dos 12 vencedores do Prémio da União Europeia para a Literatura para autores em início de carreira, com o romance "Índice Médio de Felicidade".
Quando falo de literatura infanto-juvenil é preciso sublinhar a palavra literatura. Tem sido costume olhar para a literatura infanto-juvenil como uma sub-literatura. Uma coisa menor.
Disto têm culpa os que misturam literatura e historinhas de 3 o pataco, por vezes com linhaqs narrativas muito bem intencionadas e cheias de estrelinhas, e peixinhos e outros inhos que tal. Disto tem também culpa quem não se preocupa com a qualidade da sua escrita pensando que, se é para crianças, qualquer coisa serve.
David Machado é um autor de literatura infanto-juvenil na linha de Matilde Rosa Araújo, Manuel António Pina ou António Torrado.
Este seu último livro, feito a meias com o excelente ilustrador que é Alex Gozblau, é uma verdadeira pérola.
As palavras são poucas. Talvez tudo se possa resumir a uma palavra: "Acredito". O resto é um encanto para a vista e um feixe de rios por onde o menino e o pai ou a mãe podem caminhar para dentro da poesia, na construção dos valores humanos indispensáveis ao crescimento dos nossos meninos.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
50 NOVAS PROFISSÕES PARA COMBATER O DESEMPREGO
A editora Lápis de Memórias do meu amigo Adelino de Castro é, como outras, uma pequena editora,que trabalha aquém da lógica devoradora dos best-sellers
Por isso, pode publicar outras coisas pelo prazer de as dar a ler a públicos que caminham por outros atalhos.
Este livrinho é divertidíssimo. Os autores, Pedro e Rodrigo Monteiro inventam 50 novas profissões impossíveis, improváveis, deliciosas.
No entanto, muito mais do que uma brincadeira, as "50 novas profissões" constituem simultaneamente uma séria crítica ao lodo social em que refocilam os sacerdotes da nova miséria neoliberal.
O GESTOR DE TRALHA DE GARAGEM
O INSTRUTOR DE LANÇAMENTO DE SEIXOS
A MAQUILHADORA DE CHUPÕES
O TREINADOR DE APANHA-BOLAS
O VIGILANTE DE PEIXINHOS VERMELHOS
O RECOLECTOR DE CUECAS
O GUIA DE CÃES CEGOS
& etc etc etc...
Por isso, pode publicar outras coisas pelo prazer de as dar a ler a públicos que caminham por outros atalhos.
Este livrinho é divertidíssimo. Os autores, Pedro e Rodrigo Monteiro inventam 50 novas profissões impossíveis, improváveis, deliciosas.
No entanto, muito mais do que uma brincadeira, as "50 novas profissões" constituem simultaneamente uma séria crítica ao lodo social em que refocilam os sacerdotes da nova miséria neoliberal.
O GESTOR DE TRALHA DE GARAGEM
O INSTRUTOR DE LANÇAMENTO DE SEIXOS
A MAQUILHADORA DE CHUPÕES
O TREINADOR DE APANHA-BOLAS
O VIGILANTE DE PEIXINHOS VERMELHOS
O RECOLECTOR DE CUECAS
O GUIA DE CÃES CEGOS
& etc etc etc...
quinta-feira, 23 de julho de 2015
A ANJA DO HÁLITO AZUL
Há amigos em relação aos quais a distância não reduz em nada o carinho que nos une e, neste caso especial, a a amizade, a admiração. É o caso destes dois.
O Zé Rodrigues, excelente escultor e desenhador é um amigo de há muitos anos. Cheguei a editar uma serigrafia maravilhosa sobre um desenho feito no dia do massacre de Santa Cruz
O Nuno Higino é um escritor muito delicado que tem desenvolvido uma obra discreta na ária infanto-juvenil que eu muito aprecio e que embora pouco nos tenhamos cruzado é sempre com especial emoção ´que trocamos um abraço.
Este livrinho é uma preciosidade que embora já tenha 13 anos de edição, só agora mão amiga a que muito agradeço me tenha feito chegar.
O Zé Rodrigues fez uns desenhos e desafiou o Nuno Higino para inventar uma história a partir desses desenhos. O grafismo é de JoséMiguel Reis, a edição é da Cenateca de Marco de Canavezes.
O resultado é uma pérola. Uma obra de arte. Quem consewguir encontrar vai ficar um bocadinho mais confortado com a vida.
Bem hajam, queridos amigos.
O Zé Rodrigues, excelente escultor e desenhador é um amigo de há muitos anos. Cheguei a editar uma serigrafia maravilhosa sobre um desenho feito no dia do massacre de Santa Cruz
O Nuno Higino é um escritor muito delicado que tem desenvolvido uma obra discreta na ária infanto-juvenil que eu muito aprecio e que embora pouco nos tenhamos cruzado é sempre com especial emoção ´que trocamos um abraço.
Este livrinho é uma preciosidade que embora já tenha 13 anos de edição, só agora mão amiga a que muito agradeço me tenha feito chegar.
O Zé Rodrigues fez uns desenhos e desafiou o Nuno Higino para inventar uma história a partir desses desenhos. O grafismo é de JoséMiguel Reis, a edição é da Cenateca de Marco de Canavezes.
O resultado é uma pérola. Uma obra de arte. Quem consewguir encontrar vai ficar um bocadinho mais confortado com a vida.
Bem hajam, queridos amigos.
terça-feira, 23 de junho de 2015
SOU APENAS UM POETA PERDENDO-SE NA TARDE
O Rui Namorado, é um belo poeta tão discreto quando interveniente e certeiro. Coimbrão, da geração das lutas académicas de 62, companheiro de homens como Manuel Alegre e Fernando Assis Pacheco . Sobrinho do grande nome da poesia neo-realista portuguesa que foi Joaquim Namorado.
Acabou de publicar "Os dias imensos" na editora "Lápis de memórias" do meu amigo Adelino Castro. Ainda há quem ligue à poesia neste país! Obrigado Adelino. E obrigado Rui pela tua bela escrita.
FUGA
o quintal nos meus olhos como oferenda verde
a penumbra do fim da tarde deposita-se ao de leve
no repouso tranquilo do olhar
uma leve brisa de outono amarelece os minutos
se eu fosse navegador diria agora adeus
no cais mais íntimo do último porto
mas sou apenas um poeta perdendo-se na tarde
sem índias nem américas, gravado na europa
labirinto de povos e cidades, lugar de livros e de catedrais
sou apenas um bosque, alguém esquecido
das cóleras mais frias da esperança
um ligeiro arrepio do vento ao fim da tarde
se os violoncelos encontrassem ainda o segredo das lágrimas
e pudessem despi-los sem violência nem ternura
para que eu ouvisse os castanheiros fartarem-se do vento
se as guitarras subissem as largas avenidas do terror
como quem rasga as margens da tristeza
e vai ainda mais longe no coração das horas
talvez eu pudesse inventar sílabas de descanso
evitar cuidadosamente o poema como se me fosse embora
e colher a tarde como planície sem vícios nem marés
Acabou de publicar "Os dias imensos" na editora "Lápis de memórias" do meu amigo Adelino Castro. Ainda há quem ligue à poesia neste país! Obrigado Adelino. E obrigado Rui pela tua bela escrita.
FUGA
o quintal nos meus olhos como oferenda verde
a penumbra do fim da tarde deposita-se ao de leve
no repouso tranquilo do olhar
uma leve brisa de outono amarelece os minutos
se eu fosse navegador diria agora adeus
no cais mais íntimo do último porto
mas sou apenas um poeta perdendo-se na tarde
sem índias nem américas, gravado na europa
labirinto de povos e cidades, lugar de livros e de catedrais
sou apenas um bosque, alguém esquecido
das cóleras mais frias da esperança
um ligeiro arrepio do vento ao fim da tarde
se os violoncelos encontrassem ainda o segredo das lágrimas
e pudessem despi-los sem violência nem ternura
para que eu ouvisse os castanheiros fartarem-se do vento
se as guitarras subissem as largas avenidas do terror
como quem rasga as margens da tristeza
e vai ainda mais longe no coração das horas
talvez eu pudesse inventar sílabas de descanso
evitar cuidadosamente o poema como se me fosse embora
e colher a tarde como planície sem vícios nem marés
sexta-feira, 19 de junho de 2015
PÁTRIA MINHA
Há escritores que constituem um marco, um pólo,uma referência imprescindível. E são-no pela sua obra, pela sua vida, pela autoridade da sua palavra, pelo seu posicionamento de ético na sociedade. Foram-no José Afonso e José Saramago. São-no Lídia Jorge e Manuel Alegre.
É preciso ouvir Manuel Alegre quando levanta a voz e quando fala em nome de todos nós, do nosso passado e da possibilidade de termos um futuro. Quando fala em nome da PÁTRIA.
PÁTRIA MINHA
Entre nós e o futuro há arame farpado
levaram o que se via além de nós
não resta mais que a ponta do nariz
como esperar agora o inesperado?
Somos do Sul e o saldo somos nós
contra o bezerro de oiro o teu quadrado
o poema tem de ser o teu país.
Entre nós e amanhã há uma taxa de juro
uma empresa de rating Bruxelas Berlim
entre hoje e o futuro há outra vez um muro
resgate é a palavra que nos diz
tens de explodir o não dentro do sim
não te feches em torres de marfim
o poema tem de ser o teu país.
Toutinegras virão cantar contigo
e os melros que se escondem nas vogais
e o morse aflito e rouco da perdiz
nas sílabas que avisam do perigo
e as lanças das consoantes e os sinais
por dentro das palavras que mais
do que palavras são o teu país.
Oiço dizer Europa mas Europa
é uma nau a chegar ao nunca visto
Flor de la Mar: e o Mundo em tua boca.
Navegação: madre das cousas. Isto
é Europa. País no mar. E vento à popa.
Não este não arrisco logo existo
de cócoras à espera de uma sopa.
Um cheiro de jasmim a brisa nos salgueiros
entre nós e o futuro um silêncio nos diz.
O saldo somos nós: trinta dinheiros.
Pátria minha quem foi que te não quis?
Entre nós e o futuro a terra e a raiz
e a Flor de la Mar e os velhos marinheiros
e o poema onde respira o teu país.
É preciso ouvir Manuel Alegre quando levanta a voz e quando fala em nome de todos nós, do nosso passado e da possibilidade de termos um futuro. Quando fala em nome da PÁTRIA.
PÁTRIA MINHA
Entre nós e o futuro há arame farpado
levaram o que se via além de nós
não resta mais que a ponta do nariz
como esperar agora o inesperado?
Somos do Sul e o saldo somos nós
contra o bezerro de oiro o teu quadrado
o poema tem de ser o teu país.
Entre nós e amanhã há uma taxa de juro
uma empresa de rating Bruxelas Berlim
entre hoje e o futuro há outra vez um muro
resgate é a palavra que nos diz
tens de explodir o não dentro do sim
não te feches em torres de marfim
o poema tem de ser o teu país.
Toutinegras virão cantar contigo
e os melros que se escondem nas vogais
e o morse aflito e rouco da perdiz
nas sílabas que avisam do perigo
e as lanças das consoantes e os sinais
por dentro das palavras que mais
do que palavras são o teu país.
Oiço dizer Europa mas Europa
é uma nau a chegar ao nunca visto
Flor de la Mar: e o Mundo em tua boca.
Navegação: madre das cousas. Isto
é Europa. País no mar. E vento à popa.
Não este não arrisco logo existo
de cócoras à espera de uma sopa.
Um cheiro de jasmim a brisa nos salgueiros
entre nós e o futuro um silêncio nos diz.
O saldo somos nós: trinta dinheiros.
Pátria minha quem foi que te não quis?
Entre nós e o futuro a terra e a raiz
e a Flor de la Mar e os velhos marinheiros
e o poema onde respira o teu país.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
CARLOS PINHÃO
É importante guardar memória. Das coisas boas e também das coisas más.
Conheci o Carlos Pinhão, homem bom, sempre com um sorriso na cara. Jornalista da Bola e escritor de histórias e poemas para crianças.
Contou-me o Vítor Serpa, director do velho e magnífico jornal desportivo, que o Pinhão fartava-se de dizer aos jovens que por ali se iniciavam que deviam ler poesia se queriam ser bons jornalistas desportivos. A poesia trata de emoções. O desporto trata também de emoções.
E aqui fica uma lição talvez inesperada mas que sublinha que a poesia tem a ver com tudo. Mesmo com tudo. E coitados dos que não o entenderem...
RECADO À FORMIGA
Aqui para nós
que a cigarra não nos scuta
pára um bocadinho
com essa labuta.
Qualquer dia
ó desgraçada
tens o celeiro cheio
e não tens mais nada.
Conheci o Carlos Pinhão, homem bom, sempre com um sorriso na cara. Jornalista da Bola e escritor de histórias e poemas para crianças.
Contou-me o Vítor Serpa, director do velho e magnífico jornal desportivo, que o Pinhão fartava-se de dizer aos jovens que por ali se iniciavam que deviam ler poesia se queriam ser bons jornalistas desportivos. A poesia trata de emoções. O desporto trata também de emoções.
E aqui fica uma lição talvez inesperada mas que sublinha que a poesia tem a ver com tudo. Mesmo com tudo. E coitados dos que não o entenderem...
RECADO À FORMIGA
Aqui para nós
que a cigarra não nos scuta
pára um bocadinho
com essa labuta.
Qualquer dia
ó desgraçada
tens o celeiro cheio
e não tens mais nada.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
O ESCAFANDRO QUE EU TECI PARA TI
À
Gosto de descobrir poetas. Hoje em dia, as pequenas edições multiplicam-se e a maior parte das livrarias deixaram de ser lugar de poesia e deixaram mesmo, em muitos casos, de ser lugar de literatura.
O meu amigo Nicolau Santos insiste em divulgar poesia na sua página do suplemento de Economia do Expresso. E fá-lo de uma forma diversa, divulgando os consagrados e também os novos. Não é a primeira vez que descubro poetas que não conhecia através dele. Por isso tenho de lhe agradecer comovidamente. Se não é a única é das muito poucas páginas dos jornais que publicam poesia. Bm hajas, car´ssimo Nicolau.
Apanhei há alg7mas semanas este poema de José Luís Costa que aqui entendi partilhar.
Gosto de descobrir poetas. Hoje em dia, as pequenas edições multiplicam-se e a maior parte das livrarias deixaram de ser lugar de poesia e deixaram mesmo, em muitos casos, de ser lugar de literatura.
O meu amigo Nicolau Santos insiste em divulgar poesia na sua página do suplemento de Economia do Expresso. E fá-lo de uma forma diversa, divulgando os consagrados e também os novos. Não é a primeira vez que descubro poetas que não conhecia através dele. Por isso tenho de lhe agradecer comovidamente. Se não é a única é das muito poucas páginas dos jornais que publicam poesia. Bm hajas, car´ssimo Nicolau.
Apanhei há alg7mas semanas este poema de José Luís Costa que aqui entendi partilhar.
sábado, 9 de maio de 2015
LIVRO DE RECLAMAÇÕES
Insisto neste delicioso livrinho.
Yasiko Wing
morreu a primeira vez
e gostou muito.
Quando lá regressou
o preço era quase o triplo
e extensa a fila.
Infignada, Yasiko
chamou o gerente
exigiu livro de reclamações.
Ficou viva a contragosto.
Passava dias à janela
a ver se chovia um piano.
E nunca mais mostrou
a amigos nenhuns
fotos dos sítios que visita.
Yasiko Wing
morreu a primeira vez
e gostou muito.
Quando lá regressou
o preço era quase o triplo
e extensa a fila.
Infignada, Yasiko
chamou o gerente
exigiu livro de reclamações.
Ficou viva a contragosto.
Passava dias à janela
a ver se chovia um piano.
E nunca mais mostrou
a amigos nenhuns
fotos dos sítios que visita.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
YUKI-ONNA BLUES
Razões de uma ausência.
Quando nos metemos a fazer um blog descobrimos que há pessoas, amigos conhecidos e outros desconhecidos que nos lêem.
Ficamos a sentir que temos perante eles uma obrigação.
tenho procurado fazer deste blog sobretudo um lugar de partilha de poesia e de leituras.
No entanto, por vezes, as vidas com as suas economias que matam, tropeçam-nos o passo e fazem-nos perder muito do nosso precioso tempo em coisas muito inúteis e oficiais e financeiras e etc.
Voltei, caros amigos leiores. Não é que me ache um sujeito importante. Mas sinto que em silêncio a nossa comunicação me faz falta.
Obrigado por isso.
Às vezes há um livro ou um poeta que chegam inesperadamente e nos surpreendem.
Este livrinho encontrei-o na livraria "Pó dos Livros". Folhe-o e trouxe-o. Li-o e reli-o. E gostei muito.
Fui saber quem era o autor Renato Filipe Cardoso. Locutor do Porto Canal. Trocámos mensagens muito calorosas.
Um abraço, caro amigo. E mande mais que nós, os da tribo da poesia, agradecemos.
Yasiko Wing
aprecia caminhar descalça
sobre o esquecimento.
Uma vidente adivinhou-lhe
o passado imprevisível
no vidro mágico.
Acidentalmente
Yasiko Wing
sofreu golpes no pé.
A caminho do hospital
a infância ensanguentada
infeccionou.
Quando nos metemos a fazer um blog descobrimos que há pessoas, amigos conhecidos e outros desconhecidos que nos lêem.
Ficamos a sentir que temos perante eles uma obrigação.
tenho procurado fazer deste blog sobretudo um lugar de partilha de poesia e de leituras.
No entanto, por vezes, as vidas com as suas economias que matam, tropeçam-nos o passo e fazem-nos perder muito do nosso precioso tempo em coisas muito inúteis e oficiais e financeiras e etc.
Voltei, caros amigos leiores. Não é que me ache um sujeito importante. Mas sinto que em silêncio a nossa comunicação me faz falta.
Obrigado por isso.
Às vezes há um livro ou um poeta que chegam inesperadamente e nos surpreendem.
Este livrinho encontrei-o na livraria "Pó dos Livros". Folhe-o e trouxe-o. Li-o e reli-o. E gostei muito.
Fui saber quem era o autor Renato Filipe Cardoso. Locutor do Porto Canal. Trocámos mensagens muito calorosas.
Um abraço, caro amigo. E mande mais que nós, os da tribo da poesia, agradecemos.
Yasiko Wing
aprecia caminhar descalça
sobre o esquecimento.
Uma vidente adivinhou-lhe
o passado imprevisível
no vidro mágico.
Acidentalmente
Yasiko Wing
sofreu golpes no pé.
A caminho do hospital
a infância ensanguentada
infeccionou.
domingo, 22 de março de 2015
O LIMPA-PALAVRAS
Álvaro de Magalhães tem uma obra de enorme qualidade em que trata os meninos como gente adulto e não como patetinhas incapazes de passar além das metas redutoras que lhes querem impor. Este é um poema delicioso que tive o prazer de ouvir na rua do dia 20 durante a peregrinação poética na POESIA À MESA em S. João da Madeira.
O LIMPA-PALAVRAS
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papeis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes a mão para apanhares
a palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
O LIMPA-PALAVRAS
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papeis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes a mão para apanhares
a palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
sexta-feira, 20 de março de 2015
POESIA À MESA
Mais uma edição da "POESIA À MESA", grande festa da poesia anual em S. João da Madeira e de que me orgulho muito de ser cúmplice de há muitos anos.
Este ano são especialmente homenageados Álvaro Magalhães, Ana Marques Gastão, Inês Fonseca Santos, José Régio, Manuel Bandeira e Mário Cláudio.
quarta-feira, 18 de março de 2015
É EVIDENTE
E mais um poema do Sidónio Muralha.
É EVIDENTE
Quem vê um papa-formigas
talvez consiga entender
porque razão as formigas
não foram suas amigas
e nunca poderão ser.
É EVIDENTE
Quem vê um papa-formigas
talvez consiga entender
porque razão as formigas
não foram suas amigas
e nunca poderão ser.
segunda-feira, 16 de março de 2015
HISTÓRIA SEM FIM
E continuamos com poemas do Sidónio Muralha e a continuação da sua biografia.
HISTÓRIA SEM FIM
Do ovo da rola
saiu uma rola
que botou de novo
um ovo de rola
que tinha uma rola
que botou um ovo.
Quebra-se o ovo de rola
sai uma rola do ovo
que bota um ovo de rola
e tudo começa de novo.
Ovo de rola tem rola
tem rola que bota ovo.
(Continuaç~ºao)
No início dos anos 60, Sidónio Muralha chega ao Brasil, país que viria a adoptar até ao fim da vida. Primeiramente, estabelece-se com a família em São Paulo. Nesse cidade, com o escritor Fernando Correia da Silva e o pintor Fernando Lemos (ambos portugueses) funda a Editora Giroflé, a qual irá revolucionar e criar um novo padrão para as publicações dirigidas às crianças. O seu projecto editorial não vinga, mas Muralha vai publicando livros para crianças como A Televisão da Bicharda (1962 o I Prêmio da Bienal do Livro de São Paulo) e para adultos como Esse Congo que foi Belga (1969). A par da sua vida literária continuará trabalhando para a Unilever no Brasil, prestando assessoria financeira e proferindo conferências por todo o país todo. Nos anos 70, Sidónio Muralha regressa a Portugal, primeiro para publicitar a sua antologia de poesia Poemas (1971), depois para celebrar o Portugal libertado pela revolução dos cravos. Em 1976 recebe o “Prêmio Meio Ambiente na Literatura Infantil” pelo seu livro Valéria e Vida, ilustrado por Fernando Lemos e que marcou o início de um profícua parceria com a Livros Horizonte. A sua esposa, Maria Fernanda d’Almeida Muralha, faleceu em 1978. Em 1979, Sidónio Muralha recebeu mais um prémio de literatura infantil, o “Prémio Portugal 79 – Livro para Crianças” pelo seu "Helena e a Cotovia". Nesse mesmo ano, casa novamente com a médica obstetra Dra. Helen Butler Muralha, com quem passou a viver em Curitiba.
A 8 de dezembro de 1982, o poeta e escritor Sidónio Muralha faleceu em Curitiba (Paraná, Brasil). Sidónio Muralha foi um dos precursores do neo-realismo português e um grande divulgador da literatura infantil. Em vida, publicou 21 livros em prosa (contos, um romance, ensaio e depoimento) e versos para adultos e 15 livros para crianças, por editoras portuguesas e brasileiras. É considerado um dos melhores poetas para crianças de sempre em língua portuguesa.
HISTÓRIA SEM FIM
Do ovo da rola
saiu uma rola
que botou de novo
um ovo de rola
que tinha uma rola
que botou um ovo.
Quebra-se o ovo de rola
sai uma rola do ovo
que bota um ovo de rola
e tudo começa de novo.
Ovo de rola tem rola
tem rola que bota ovo.
(Continuaç~ºao)
No início dos anos 60, Sidónio Muralha chega ao Brasil, país que viria a adoptar até ao fim da vida. Primeiramente, estabelece-se com a família em São Paulo. Nesse cidade, com o escritor Fernando Correia da Silva e o pintor Fernando Lemos (ambos portugueses) funda a Editora Giroflé, a qual irá revolucionar e criar um novo padrão para as publicações dirigidas às crianças. O seu projecto editorial não vinga, mas Muralha vai publicando livros para crianças como A Televisão da Bicharda (1962 o I Prêmio da Bienal do Livro de São Paulo) e para adultos como Esse Congo que foi Belga (1969). A par da sua vida literária continuará trabalhando para a Unilever no Brasil, prestando assessoria financeira e proferindo conferências por todo o país todo. Nos anos 70, Sidónio Muralha regressa a Portugal, primeiro para publicitar a sua antologia de poesia Poemas (1971), depois para celebrar o Portugal libertado pela revolução dos cravos. Em 1976 recebe o “Prêmio Meio Ambiente na Literatura Infantil” pelo seu livro Valéria e Vida, ilustrado por Fernando Lemos e que marcou o início de um profícua parceria com a Livros Horizonte. A sua esposa, Maria Fernanda d’Almeida Muralha, faleceu em 1978. Em 1979, Sidónio Muralha recebeu mais um prémio de literatura infantil, o “Prémio Portugal 79 – Livro para Crianças” pelo seu "Helena e a Cotovia". Nesse mesmo ano, casa novamente com a médica obstetra Dra. Helen Butler Muralha, com quem passou a viver em Curitiba.
A 8 de dezembro de 1982, o poeta e escritor Sidónio Muralha faleceu em Curitiba (Paraná, Brasil). Sidónio Muralha foi um dos precursores do neo-realismo português e um grande divulgador da literatura infantil. Em vida, publicou 21 livros em prosa (contos, um romance, ensaio e depoimento) e versos para adultos e 15 livros para crianças, por editoras portuguesas e brasileiras. É considerado um dos melhores poetas para crianças de sempre em língua portuguesa.
sexta-feira, 13 de março de 2015
OS CAMELOS
O meu querido amigo Maurício Leite trouxe-me do Brasil sete-livrinhos-sete da excelente obra de Sidónio Muralha para crianças. Pois cá vão alguns desses poemas e uma notícia da vida de um homem que vale a pena recordar.
OS CAMELOS
No deserto
no deserto,
cem camelos,
mil camelos.
De longe e de perto
todos dizem ao vê-los:
- Como pode ser deserto
se está cheio de camelos?
Sidónio Muralha foi um escritor português com obra significativa como poeta e autor de histórias e poesia para a infância(Lisboa 1920-Curitiba1982).
Pedro Sidónio de Aráujo Muralha nasceu a 28 de Julho de 1920, no bairro da Madragoa, em Lisboa, filho do jornalista e escritor Pedro Muralha.
Ainda muito jovem colaborou com revistas e publicações literárias de algum modo associados ao que viria a ser o neo-realismo português (como por exemplo "Mocidade Académica" e "Solução").
Em 1941, incentivado por Bento de Jesus Caraça, publicou o seu primeiro livro de poesia: Beco. Integrou o movimento neo-realista e os agrupamentos lisboetas desta corrente literária, onde em conjunto com Armindo Rodrigues, Joaquim Namorado, Fernando Namora ou Mário Dionísio foi uma das figuras de proa. Com a obra Passagem de Nível (Coimbra, 1942) fez parte do chamado Novo Cancioneiro, colecção que reuniu obras poéticas de vários autores contestatários do regime salazarista.
Em 1943, desembarca no Congo Belga, em exílio voluntário, para onde partiu com Alexandre Cabral. Nesse país, chegou a ser diretor geral da Unilever Internacional (em Lisboa, Sidónio Muralha estudara Ciências Económicas e Financeiras, mais tarde, cursou Administração de Empresas na Universidade de Louvain, na Bélgica). Em 1944, casou, por procuração (ela em Portugal, ele no Congo) com Maria Fernanda d’Almeida. O casal terá quatro filhos: Alexandre, José Ricardo, Beatriz e Mário Jorge. No Natal de 1949 volta a Portugal, publicando nesse ano a segunda edição de Beco - Passagem de Nível em volume conjunto e no ano seguinte uma obra magistral do seu percurso poético Companheira dos Homens. Ambas as edições de autor contaram com ilustrações da capa do pintor Júlio Pomar com quem manteve uma duradora amizade. Ainda em 1950, com desenhos de Júlio Pomar e músicas de Francine Benoit publica o seu primeiro livro de poemas para crianças: Bichos, Bichinhos e Bicharocos.
No ano de 1960, face aos acontecimentos tumultuosos na vida social do Congo Belga, a família Muralha regressa à Europa fixando residência em Bruxelas durante dois anos. Neste período, continua a trabalhar para a Unilever, viajando constantemente pelo mundo, Muralha estagia e trabalha em Bafatá, (Guiné-Bissau), Ostende, Dakar, Londres e Paris.
No início dos anos 60, Sidónio Muralha chega ao Brasil, país que viria a adoptar até ao fim da vida.
(Continua)
domingo, 8 de março de 2015
FRANCISCO
Estudante de arquitectura, no final dos anos 60, sempre que podia ia até casa da minha colega e grande amiga Isabel Manta, ali ao Bairro Alto, a dois passos da Escola de Belas Artes.
Era e continua a ser uma casa muito especial. Uma casa de arquitecto, de artista, uma casa de livros e música, de palavras e encontros. A casa do pai, o arquitecto, pintor, desenhador, cartoonista João Abel Manta, um homem pelo qual eu tinha e continuo a ter uma imensa admiração.
Foi lá que, fascinado, ouvi os primeiros discos de Jazz, de João Gilberto e da Bossa Nova. Foi lá que fiquei embasbacado perante serigrafias de Rauschenberg. Foi lá ainda que convivi de longe com pessoas como o pintor Rolando Sá Nogueira, o poeta Alexandre O’Neill, o escultor Fernando Conduto, o romancista José Cardoso Pires. E todos nós, os amigos da Isabel, ficávamos a ouvi-los à distância, porque éramos uns miúdos e ainda não tínhamos bagagem para meter o bedelho.
Os anos foram passando e aquela casa continuou a ser para mim um ponto de referência, um lugar de inteligência e bom gosto, onde tudo tinha o seu lugar e a sua razão de ser e não havia nenhuma cedência ao arrebique ou ao enfeite que enche o olho e esvazia o sentido.
Conheci e falei muitas vez com o avô e a avó da Isabel, o pintor Abel Manta e a avó, também pintora, Clementina Carneiro de Moura Manta, que me deixava em brasa quando me contava as visitas a um sobrinho preso pela PIDE no Forte de Peniche
A pouco e pouco, com muito respeito e admiração, fui-me tornando amigo do João Abel Manta. Os seus cartoons e cartazes foram uma das mais ácidas críticas à ditadura ronceira de Salazar e, também, a mais perfeita língua a falar e a rir durante os tempos fantásticos do 25 de Abril. Os seus desenhos para as primeiras capas do JL são absolutamente admiráveis, a sua pintura menos conhecida do que merece será fundamental quando se quiser fazer um balanço do Portugal em que vivemos durante muitas das últimas décadas.
A vida aproximou-me e afastou-me da Isabel. Mas, com mais ou menos proximidade, a profunda amizade continuou sempre.
Até que um dia a Isabel me telefonou a pedir que eu escrevesse uns poemas, coisa pouca, para juntar a uns “trabalhitos” do pai. Para um presente de Natal à filha, a Ana. E ao marido dela, o João. E à filha, a Maria, e ao filho, o Francisco.
Tudo isto porque o Francisco que tinha 3 anos sofre de paralisia cerebral e toda aquela família o estimula, o embala, o faz crescer e ultrapassar os limites impostos pela doença. E aquelaes “trabalhitos” e poemas seriam, de alguma maneira, a prenda de Natal para todos.
Quando chegaram os “trabalhitos” do João Abel Manta não eram “trabalhitos” eram trabalhões, uma sequência de 31 colagens intervencionadas em torno do rosto do Francisco.
Fiquei eufórico, primeiro. Vou escrever para colocar as minhas palavras ao lado de trabalhos do João Abel! Mas logo depois fiquei muito aflito. Como escrever para a família daquela criança? Com que voz? Em que língua? O que é que eu podia encontrar em mim que permitisse construir uma ponte de palavras e silêncios entre o meu ofício de poeta e aquele menino que eu nem conhecia?
Em tempos, o meu filho João, formado em Pintura, deu aulas de Educação Visual (!) a meninos com paralisia cerebral e dizia-me: “Pai, aqueles meninos são lindos!” E eu pensava “Bolas! O meu filho é ainda mais poeta do que eu!”
Mas mal conheci o Francisco, percebi que o meu filho tinha toda a razão. Num ápice fiquei apaixonado pelo Francisco, pela sua inteligência, pela sua alegria transbordante, pela expressão dos seus olhos carregados de misterioso entendimento do mundo em seu redor.
Depois, foi uma busca do menino que ainda posso ter dentro de mim e das minhas palavras. Do menino que gostaria de ter tido uma mãe, um pai, uma avó, um bisavô assim à sua volta. De um menino feliz, carregado do talento de descobrir coisas novas, coisas estranhas, de mil cores, coisas por vezes inatingíveis, por vezes assustadoras, coisas maravilhosas que vai conhecendo e interligando numa mantinha de sentidos e emoções.
Deste passeio de mim para o Francisco foram nascendo os poemas. Pequenos apontamentos, sorrisos, inquietações, ironias, brisas, brincadeiras breves, jogos de palavras, caminhos possíveis entre um homem e um menino muito especial tornados em livro graças ao talento do excelente designer que é o Zé Brandão e ao interesse, amabilidade e empenho da Fundação Calouste Gulbenkian.
E só tenho de agradecer à vida por me dar a oportunidade de aprender um pouco mais deste ofício de construtor de pontes de palavras que vão da mão que escreveu ao olhar deslumbrado dos meninos e dos homens que, por serem diferentes, nos permitem aperfeiçoar a nossa tão frágil humanidade.
De ti para mim vêm as palavras pelo ar
e dizem quase tudo, mãe.
Por dentro das palavras que me envias
moram aves e sereias,
moram pedras e baleias
e estrelas do mar sem fundo.
Pega nos teus lábios, mãe.
Faz nascer de novo o mundo.
domingo, 1 de março de 2015
O LIVRO DOS CANSAÇOS
A a minha amiga Licínia Quitério é uma excelente poeta que tem vindo a tornar-se mais profunda e brilhante a cada livro que publica, aliando a emoção e o trabalho da palavra numa voz sólida e forte mas também profundamente feminina.
"O LIVRO DOS CANSAÇOS" foi apresentado ontem sábado 28, na "nossa" Biblioteca da Ericieira.
Os poetas morrem cedo
Morrem com a luz da madrugada
ou com a noite a que chamam madrugada.
Não se sabe que idade têm
os poetas quando morrem.
Têm a idade do primeiro ou do
último poema que foram.
Os poetas morrem muito.
Quando morrem acrescentam
estrelas às estrelas.
Morrem e brilham os poetas.
Licínia Quitério
"O LIVRO DOS CANSAÇOS" foi apresentado ontem sábado 28, na "nossa" Biblioteca da Ericieira.
Os poetas morrem cedo
Morrem com a luz da madrugada
ou com a noite a que chamam madrugada.
Não se sabe que idade têm
os poetas quando morrem.
Têm a idade do primeiro ou do
último poema que foram.
Os poetas morrem muito.
Quando morrem acrescentam
estrelas às estrelas.
Morrem e brilham os poetas.
Licínia Quitério
domingo, 15 de fevereiro de 2015
OMBELA
Durante duas semanas andei envolvido no 1º ENCONTRO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL DA LUSOFONIA
Foram dia muito intensos e com intervenções de grande qualidade.
No final tivemos a apresentação do novo livro de ONDJAKI com ilustração de Rachel Caiano.
É uma beleza e começa assim:
"Dizem os mais-velhos
que a chuva nasceu
das lágrimas de Ombela,
uma deusa que estava triste."
Foram dia muito intensos e com intervenções de grande qualidade.
No final tivemos a apresentação do novo livro de ONDJAKI com ilustração de Rachel Caiano.
É uma beleza e começa assim:
"Dizem os mais-velhos
que a chuva nasceu
das lágrimas de Ombela,
uma deusa que estava triste."
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
APALPAR MANHÃS
“apalpar manhãs”
sonhei que estava enamorado pela palavra antigamente.
eu sorria muito nesse sonho – fossem gargalhadas. aproveitei a ponta desse sorriso e fiz um escorrega. deslizei. tombei no início de uma manhã.
pensei ver duas borboletas mas [riso] eram duas ramelas. peguei nas duas: o peso delas dizia que eu estava acordado. [a partir do tom amarelado das ramelas é possível apalpar manhãs].
então vi: nos dedos, na pele do corpo por acordar, estavam manchas muito enormes: eram manchas de infância
gosto muito desse tipo de varicela.
ONDJAKI
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
DEPOIMENTO
Maria Teresa Horta desenvolve uma música muito própria ligada à própria música do corpo, sendo uma das poetas que traz o corpo e o desejo de uma forma clara e livre para dentro do poema.
MARIA TERESA HORTA (1938)
DEPOIMENTO
Eis que desço
as mãos
os dedos nus
Eis que empunho
o vidro
pela face
Eis que te utilizo
e te
destruo
Eis que te construo
e te
desfaço
Eis o gume novo
desta
pedra
Eis a faca aberta
na
manhã
as árvores
ocultas
nas palavras
o couro – a violência
o trilho
a lã
Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria
da toalha
o fuso – o feltro
o fundo da memória
Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda
a espada
a sela
a sede
a vela
Eis que deponho
aquilo
que me ganha
e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto
MARIA TERESA HORTA (1938)
DEPOIMENTO
Eis que desço
as mãos
os dedos nus
Eis que empunho
o vidro
pela face
Eis que te utilizo
e te
destruo
Eis que te construo
e te
desfaço
Eis o gume novo
desta
pedra
Eis a faca aberta
na
manhã
as árvores
ocultas
nas palavras
o couro – a violência
o trilho
a lã
Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria
da toalha
o fuso – o feltro
o fundo da memória
Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda
a espada
a sela
a sede
a vela
Eis que deponho
aquilo
que me ganha
e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
CANTO DO GÉNESIS
E de novo Fiama.
CANTO DO GÉNESIS
Ao princípio era a luz, depois o céu
azul porque a luz se embebe
nas camadas do ar que olhamos.
Ao princípio era a Paixão e engendrou
Do seu sangue os animais, da sua
Cruz as plantas. Era, ao princípio,
O animal-vegetal minúsculo, oculto
No Paraíso, mas omnipresente
desde o ante-princípio. E da argila
ou terra adâmica formou-se a Natureza
e o Homem, banhados pela luz
que recortou linhas e volumes vagos.
Ao princípio era o martírio
e a bênção daquele que trabalha
e seu corpo e o seu pão de sol a sol.
E os frutos fulguraram nessa luz
Quando as águas se apartaram
e o mar, até hoje, quebra e requebra a onda
para eu ouvir o som do início.
CANTO DO GÉNESIS
Ao princípio era a luz, depois o céu
azul porque a luz se embebe
nas camadas do ar que olhamos.
Ao princípio era a Paixão e engendrou
Do seu sangue os animais, da sua
Cruz as plantas. Era, ao princípio,
O animal-vegetal minúsculo, oculto
No Paraíso, mas omnipresente
desde o ante-princípio. E da argila
ou terra adâmica formou-se a Natureza
e o Homem, banhados pela luz
que recortou linhas e volumes vagos.
Ao princípio era o martírio
e a bênção daquele que trabalha
e seu corpo e o seu pão de sol a sol.
E os frutos fulguraram nessa luz
Quando as águas se apartaram
e o mar, até hoje, quebra e requebra a onda
para eu ouvir o som do início.
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