A propósito dos desmandos da imprensa, de uma certa imprensa, e do efeito por vezes devastador com que os opinantes profissionais fazem da palavra impressa uma forma de poder imoral e discricionário.
Os anos têm a vantagem de trazer alguns pequenos destroços à praia da memória. Cá vão eles, sem comentários:
O PIOR DISCO DO ANO
Em 1976, o álbum “Com as minhas tamanquinhas” de José Afonso (que incluía, por exemplo, “Os índios da meia-praia”) foi considerado por um grupo de críticos da imprensa como o pior disco do ano.
AS MELHORES VOZES DA MUSICA PORTUGUESA
Na primeira metade dos anos 80, um crítico muito na moda então, afirmava do alto da sua sabedoria que as 3 melhores vozes de sempre da música portuguesa eram Amália Rodrigues, José Afonso e António Variações.
“POR ESTE RIO ACIMA”
O hoje considerado unanimemente excepcional “Por este rio acima” de Fausto, quando veio a público recolheu por parte de alguns dos nossos mais distintos críticos musicais um ramalhete de críticas negras que o arrasaram de alto a baixo. Era giro voltar a lê-las.
COITADO DO ZECA TÃO ABUSADO PELA ESQUERDA…
Por meio dos anos 90 surgiu um curioso artigo na nossa imprensa a fazer o elogio rasgado do Zeca como músico e compositor. Só lamentava o articulista que ele se tivesse deixado usar pela esquerda, o que só ensombrecia a a qualidade da sua obra...
OS AUTORES
Lembro-me dos nomes dos autores destas pérolas, mas não estou aqui para fazer ajustes de contas pessoais.
Podia trazer também, dos anos que levo de criador e leitor de jornais, uma longa lista de críticas de teatro imbecis e ignorantes, enterros públicos de filmes e programas de televisão respeitáveis, estendais de total incoerência na análise de livros de poesia e romances.
Não se pense que sou contra a crítica. Não! O pensamento e o exercício da inteligência trazem-me sempre um júbilo especial. A critica é uma atitude nobre quando vem do amor e da paixão pelo cinema, pelo teatro, pela música… Pela vida.
Mas a opinite, que é o que inunda as mais das vezes os nossos jornais, é prima da censura. A opinite usa o lápis azul do silêncio, da opinião avulsa e bacoca, da promoção da “faca sem lâmina a que lhe falta o cabo” como dizia Alexandre O’Neill.
Era engraçado trazer mais algumas destas escriturices a lume. Muitas pérolas podiam ser recordadas. Basta pedir ao Fausto, ao Carlos Mendes, ao Tordo, ao Carlos Alberto Moniz, ao João Lourenço, ao Zé Jorge Letria e a tantos outros, para abrirem o baú dos seus recortes de jornais. Dava para rir. Um riso amargo, é claro. Mas talvez servisse de lição para muitos.
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2 comentários:
"Ça va de soi", como diria aquele senhor de há uns posts atrás...
Pouco atento, confesso, fico surpreendido por ter havido críticas destrutivas que podem ou podiam arruinar a imaginação dos criativos. Dos autores citados, devemos ter o maior respeito pelo legado cultural que nos deram.Ainda bem que resistiram!
Júlio
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