domingo, 22 de agosto de 2010

O QUE EU SEI DOS HOMENS



Ao domingos o suplemento PÚBLICA de O Público entre algumas coisas ligeirotas e dispensáveis (do meu ponto de visata) tem vários desafios para uma leitura interessante e enriquecedora.

Basta falar da coluna assinada pelo Professor Daniel Sampaio ou de uma outra de autoria da minha amiga Ana Sousa Dias que se intitula "O que eu sei dos homens" ou "O que eu sei das mulheres", conforme o entrevistado.

Já me emocionei com algumas das entrevistas da Ana. Entre outras não me esquecerei daquela em que o Fernando Tordo fazia uma comovente declaração de amor à sua mulher.

Hoje saiu a minha amiga e escritora Cristina Carvalho. Já aqui falei dela. Filha dos escritores Natália Nunes e Antonio Gedeão. Conhecemo-nos há 6 meses e ficámos amigos para sempre. E para um sempre que vem de trás e vai até sei lá quando.

A Cristina é uma mulher fantástica e a sua conversa com a Ana é uma delícia. Deixo aqui um cheirinho:

"Não sei nada de religião, não fui educada religiosamente. Admiro, enalteço e faço as minhas orações à natureza.
É a natureza que me comanda a vida, como dizia o meu pai - o sonho comanda a vida e o meu sonho é o universo, que eu não compreendo nem sei. A indizibilidade do universo é a minha religião."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CRAZY

O escritor canadiano David Coupland, grande defensor do mergulho na tecnologia, na informação, na net, afirmou numa entrevista há umas 3 semanas ao Ypsílon afrmava que ter resolvido ou andava informado ou vivia. Penso que o andar informado se referia àqueles que vivem mergulhados no burburinho do momento, os que querem estar ligados a tudo o que se passa no mundo hoje, agora, neste instante. Entre essa tal informação e a vida, Coupland chegou à conclusão que preferia viver.

Não sou um taradinho da informação e da net. Longe disso. Procuro perceber como é que isto funciona. E às vezes, de uma forma muito pouco organizada e premeditada acontecem coisas boas.

Neste calor de Verão, fim de tarde, pus-me a mariscar coisas outras. Saiu esta. Diana Krall, Elvis Costello e Willie Nelson e uma canção maravilhosa.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

NA PAZ DOS ANJOS

Escrevi muitos programas e séries para televisão de que me orgulho. "Zarabadim", "Crianças SOS", "Docas", a adaptação de "Ana e os Sete", 6 anos de colaboração e centenas de sketchs para a "Rua Sésamo", 114 vepisódios de "Nós os Ricos", série original do Mário Zambujal, etc, etc, etc.

"NA PAZ DOS ANJOS" foi a minha primeira telenovela. Escrita com a colaboração do Jorge Paixão da Costa. Uma das grandes aventuras da minha vida.

Foi para o ar em 1994. Os horários mudavam constantemente. Poucas pessoas conheço que a tenham seguido na época. Depois passou inúmeras vezes na RTP Internacional e na RTP Memória. A cada repetição tenho recebido testemunhos de um enorme sucesso em locais inesperados por esse mundo fora onde os portugueses façam da televisão um laço com a sua pátria e a sua língua, Angola, Rússia, Suiça, Estados Unidos, sei lá que mais.

Alguns críticos, dos muito conceituados e tudo, disseram em 1994 cobras e lagartos de "Na Paz dos Anjos" (eu guardo os recortes).

Hoje, muita gente, (o Nicolau Breyner, por exemplo) considera-a como a melhor e mais bem escrita telenovela de sempre.

A história era muito divertida, achava-o eu então e hoje ainda com mais convicção. O elenco era de luxo. João Perry, Guida Maria, Rui Mendes, Manuel Cavaco, Sofia Alves, Florbela Queirós, Isabel Medina, Vítor Norte, Diogo Infante, Ricardo Carriço, Cucha Cavalheiro... Faltarão alguns aqui por certo. Que me perdoem a falta de memória.

Otros, queridos amigos, já desaparareceram infelizmente: José Gomes, António Assunção, Varela Silva, Armando Cortez, Filipe Ferrer.

Ainda me rebolo de gozo a lembrar figuras como o D. Fernandinho, pelo Luís Aleluia, a sra. Condessa pela Fernanda Borsatti, o padre pelo Zé Pedro Gomes, o industrial de comida para cão pelo António Montês.

Telefonou-me a minha amiga Celeste, benfiquista dos sete costados, a avisar que "Na Paz dos Anjos" tinha começado a ir de novo para o ar na RTP Memória a partir de domingo. Ela também pertenceu à equipa. E diz que voltou a desmanchar-se a rir.

Quem puder, veja. É por volta das 17h00, todos os dias. Julgo que quem puder deitar um olho não vai dar o tempo por mal empregue.

domingo, 8 de agosto de 2010

POESIA E VAGABUNDAGEM

Gosto de me surpreender. Sobretudo na poesia. Um pouco por todo o mundo há poetas de que nunca ouvimos falar. Poetas que vão oferecendo a sua arte a quem os souber encontrar.

A net tem algumas vantagens e uma delas é a facilidade com que nos põe nas mãos informação preciosa se soubermos que é que queremos procurar.

É por isso tão importante a vangabundagem que nos faz andar de livro em livro, de citação em entrevista, de conversa em conversa, de jornal de domingo em site, esse cruzar de ideias, palavras, conceitos, nomes de autores que nos chegam daqui e dali. Consegue-se assim, não raras vezes, algumas dessas tais surpresas que dão mais espessura à nossa vida.

Um livro da espanhola, Belén Gopegui, "O Pai da Branca de Neve", já falei dele aqui, traz nas primeiras páginas um poema do poeta Roberto Fernández Retamar. Não o conhecia. E era uma opena não o conhecer...



Nasceu em 1930. Estudou pintura e arquitectura. Doutorou-se em Filosofia. Recebeu inúmeros prémios como poeta e desempenhou diversos cartgos políticos.


"FELIZES OS NORMAIS"

Felizes os normais, esses seres estranhos.
Os que não tiveram uma mãe louca, um pai bêbado, um filho delinquente,
Uma casa em parte nenhuma, uma doença desconhecida,
Os que não foram calcinados por um amor devorador,
Os que viveram os dezassete rostos do sorriso e um pouco mais,
Os cheios de sapatos, os arcanjos com chapéus,
Os satisfeitos, os gordos, os bonitos,
Os trocistas estridentes e os seus sequazes, os é claro que sim, por aqui,
Os que ganham, os que são queridos até ao cabo,
Os flautistas acompanhados pelos ratos,
Os vencedores e os seus compradores,
Os cavalheiros ligeiramente sobre-humanos,
Os homens vestidos de trovões e as mulheres de relâmpagos,
Os delicados, os sensatos, os finos,
Os amáveis, os doces, os comestíveis e os potáveis.

Felizes as aves, o esterco, as pedras.

Mas deixem passar os que fazem os mundois e os sonhos,
As ilusões, as sinfonias, as palavras que nos destroçam
e nos constroem, os meis loucos do que as suas mães, os mais bêbados
do que os seus pais e mais delinquentes do que os seus filhos
e mais devorados por amores calcinantes.

Deixem-nos no seu lugar o inferno, e chega.

(Tradução de Miguel Serras Pereira)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

STILL CRAZY

Comecei a ler um livro excelente de Belén Gopegui, "O PAI DA BRANCA DE NEVE", onde a autora fala dos normais e dos que não são normais.

Os normais são os que procuram uma vida calma, organizada, com o possível conforto, uma vida sem sobressaltos, sem utopias, sem sonhos desmedidos nem grandes desilusões.

Os outros são aqueles a quem a vida lançou desafios dolorosos, acordou angústias de difícil resolução, atirou para a inquietação dos grandes sonhos porventura irrealizáveis.

Os normais vivem no centro, os não normais vivem nos limites do círculo das suas vidas.

Acho que nunca fui e dificilmente virei a ser dos normais. Não sou igual ao que fui aos 17, aos 25, aos 30 anos. Mas continuo... Still crazy after all these years.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AS CORES DE TUDO




É tempo de pôr algumas leituras em dia. Ou melhor, tempo de reduzir a pilha dos livros que vão ficando adiados. E este ano até os de poesia se deixaram atemorizar face ao sem número de tarefas e procupações.

Este "Livro do sapateiro" estava mesmo no primeiro lugar. É de um poeta que muito aprecio pelo rigor, pela espessura, pela excelência do seu verso.

Além de grande poeta, Pedro Tamen é um homem que tem tido um papel ímpar na nossa cultura desde os anops 50.

Do seu labor de oficial da escrita é indispensável sublinhar o trabalho de tradução concretizado em imensas obras traduzidas de que é sempre bom recordar a extraordinária tradução dos 10 vllumes de "Em busca do Tempo Perdido" de
Marcel Proust

Abri o seu último livro de poesia e fiquei agarrado pelo primeiro poema. São assim os grandes poetas. Pegam em nós e levam-nos para muito alto num súbito golpe de vento.


Iremos procurar a razão da giesta
a razão do amarelo
iremos procurar a razão
iremos procurar
e os olhos tomarão todas as cores
as cores de tudo

Pedro Tamen, “O livro do sapateiro”, D. Quixote

sábado, 31 de julho de 2010

ANTÓNIO FEIO: UMA GARGALHADA PELA VIDA



ZARABADIM foi o primeiro programa que escrevi para RTP. 1985, julgo eu. O texto a meias com a Dulce, com quem na altura partilhava a vida, alguns sonhos e um filho que continuamos a compartilhar.

A música era do Carlos Alberto Moniz, os figurinos do Mário Alberto, os cenários creio que do Fernando Filipe. Actores: José Wallenstein, Ângela Pinto, Francisco Pestana, São José Lapa, Filipe Ferrer e... António Feio, o palhaço que iluminava o fundo do chapéu de um mágico, onde se paasava a acção, com o seu grande sorriso.



Mais tarde, o António e o Zé Pedro Gomes chamaram-me para escrever aquele que foi o texto da primeira "CONVERSA DA TRETA".

Trocámos o último abraço há poucas semanas. Com um sorriso. O António era assim: levava tudo à frente dele na ponta de um sorriso ou de uma gargalhada. E assumiu a doença desassombradamente num grito de amor à vida que nos fica como rara lição.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

PALAVRAS ANDARILHAS 2010



Só quem já esteve nas "Andarilhas" de Beja pode falar do encanto, da intensidade, da magia deste encontro único onde se reunem centenas de pessoas em torno da arte de contar histórias.

Aqui vem ter gente de todo o mundo, homens e mulheres que, apenas pelo encanto da sua voz e das palavras, levam-nos a sítios que nunca tínhamos conhecido.

Estavam em risco, as "Andarilhas" deste ano. Mas, se a economia pode ter crises, a imaginação, a fantasia, a criatividade, essas nunca têm. Por isso a Cristina Taquelim e a sua gente esgatanharam-se e conseguiram pôr de pé mais uma edição de "Palavras Andarilhas".

Darei mais notícias à medida que souber.

terça-feira, 27 de julho de 2010

SERENIDADE ÉS MINHA



A propóito do Alvito e do poeta Raúl de Carvalho, vale a pena lembrar um dos mais belkos (e longos) poemas do nosso século XX de que aqui transcrevo uma parte.


RAUL DE CARVALHO (1920-1984)


SERENIDADE ÉS MINHA


Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura
dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os monstros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita
os cabelos.

Vem, serenidade,
com o país veloz e virginal das ondas,
com o martírio leve dos amantes sem Deus,
com o cheiro sensual das pernas no cinema,
com o vinho e as uvas e o frémito das virgens,
com o macio ventre das mulheres violadas,
com os filhos que os pais amaldiçoam,
com as lanternas postas à beira dos abismos,
e os segredos e os ninhos e o feno
e as procissões sem padre, sem anjos e, contudo,
com Deus molhando os olhos
e as esperanças dos pobres.

(..................................................................)

Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.

E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.

E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome,
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros,
na chaminé do sangue.

Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
Um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retrácteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.

Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.

Vem, com teu frio de esquecimento,
com tua alucinante e alucinada mão,
e põe, no religioso ofício do poema,
a alegria, a fé, os milagres, a luz!

Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é demais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.

Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente,
Serenidade, és minha.

domingo, 25 de julho de 2010

NA TERRA DOS "BONS DIAS"



O Alvito é uma das terras do meu encanto.

O branco do casario, o castelo transformado em pousada, a planície, como um mar amarelo e verde a perder de vista.

Amo a quietude, a pedra do calor de Julho e Agosto, o cante que se solta das tabernas ao fim do dia.

Sinto-me irmão dos vestígios mouros e godos, do fortíssimo renascimento presente na Matriz e em dezenas de portais de pedra nas casinhas da Vila.

Esta é, também o sei, a terra de um belíssimo poeta que é bom relembrar sempre, Raul de Carvalho, nascido em 1920 e falecido em 84. O Adriano Correia de Oliveira cantava o seu poema



Aqui vieram procurar sossego e algum retiro grandes amigos meus. O Alípio de Freitas, o Xico Fanhais, o Camilo Mortágua. Gosto mutio de os visitar e pegar-me à conversa com eles para lhes ouvir as histórias da vida.

Mas é gente inquieta. Às vezes estão, outras não. O Xico anda por aí a cantar, O Alípio foi ao Paraguai e à Bolívia para ver ao vivo as voltas que as novas democracias estão a dar por lá. O camilo anda sempre metido em projectos e sonhos. O AP Braga, cantor de baladas nos anos 60, aparece por aí ao fim de semana.



Uma das coisas que adoro no Alvito (e julgo que é hábito de todas as pequenas terras alentejanas) é o hábito das pessoas, por mais que passem umas pelas outras, dizerem quantas vezes for preciso: bom dia, boa tarde, boa noite.

Ao primeiro bom dia fico alapardado, espantado, confrontado com a solidão urbana, que ainda trago aos ombros, de não ver os seres humanos à minha volta e não lhes falar.

Mas rapidamente me integro na respiração da terra e reencontro o prazer de dizer bom dia, boa tarde, boa noite.

Bom dia, Alvito.

Bom dia a todos, vizinhos do planeta terra.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

COISAS DE POETA



Há algumas semanas dei comigo a fazer horas. A ter horas para fazer. Ou melhor, a ter horas para não fazer nada. E mergulhei no espaço maravilhoso e raro da minha infância que é o Jardim da Estrela.

Andei por ali, meio vagabundo, a deixar que o verde me entrasse pelos olhos, a gozar o esplendor das ávores e arbustos, das flores, da relva e das sombras, da brisa e dos risos das crianças. E foi muito bom porque é sempre bom mergulhar nos jardins da cidade e porque é tão raro fazê-lo nesta vida ofegante que levo e muitos de nós levamos.

Era o princípio de uma tarde sábadado daquelas que fazem de Lisboa uma cidade mágica. Há muito que não gozava de um momento de tão tranquila entrega.

A dado momento parei encantado frente a um arbusto grande carregado de umas flores de que ainda não consegui saber o nome. São brancas e grandes, com um palmo de comprimento e a forma de sinos alongados.

Parecia uma chuva de flores... Pensei que lhes podia chamar "campainhas do céu".

Parado à frente daquelas flores começavam as palavras a bailar-me na cabeça à procura de formar esse comboiinho por vezes inquieto e revolto, por vezes doce e amável, a que se chama poema.

De tão distraído, nem reparei numa menina de 8/9 anos que arrancava uma daquelas belíssimas flores. Reparei depois na jovem avó que me sorria pouco à vontadde como quem pedisse desculpa do rapinanço da neta.

Eu sorri à menina de dentro do meu devaneio e disse-lhe que levava na mão uma campainha do céu. A menina atirou a flor pelo ar e comentou desinteressada: "Isto é mas é um espanador!"

Fui andando a pensar que a poesia não é tão fácil de abraçar cmo eu gostava. E a lembrar-me daquela magnífica frase do Maio de 68: "Cuidado: Os ouvidos têm paredes!"

terça-feira, 20 de julho de 2010

MÁRIO QUINTANA



Mário Quintana, poeta brasileiro, nascido em Alegrete, 1906, e falecido em Porto Alegre, 1994, foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro, deixou uma vasta obra de textos, pensamentos e poesia, pelo conjunto da qual recebeu em 1980 o prêmio Machado de Assis da academia Brasileira de Letras.


O AUTO-RETRATO

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A CRIAÇÃO



"E EIS QUE,

TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA,

OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DA CRIAÇÃO."


Mário Quintana

sábado, 17 de julho de 2010

A BONDADE, A INTELIGÊNCIA, O CONHECIMENTO

Um amigo meu teve a notícia feliz do nascimento do segundo neto. E foi assim que lhe deu as boas vindas dirigindo-se a ele e ao irmão:

"Queremos todos que sejam felizes, conheçam a vidaas dificuldades da mesma, e que saibam que studar custa , mas que é fantástico saber, é fantástico conhecer.

Queremos todos que saibam que a vida, esta vida, é a relação e a combinação do eu e do tu e que ninguém é capaz de tudo mesmo que a fama e o dinheiro julguem conquistar este mundo e o outro.

Queremos todos que os nossos netos saibam ser humildes nas vitórias e solidários nas derrotas e que saibam que aqueles que julgam ser o centro do mundo não têm nem a consciência do transitório, nem a percepção do efémero.

Queremos todos que entendam que têm de contar com as circunstâncias e a sorte e que a liberdade individual consiste, em regra, na limitação do poder do destino.

Queremos também que percebam, que percebam sempre, que inteligência e bondade se confundem. Sempre se confundiram e sempre se confundirão Qualquer que seja o percurso da vida profissional que se exerça.

Queremos, enfim, que interiorizem, que nunca se esqueçam que, ao contrário do que se escreveu, há difertença, há verdadeira diferença entre a Gioconda e uma garrafa de Coca-Cola. mesmo que só esta última seja patrocinadora de um Mundial de futebol!"

O meu amigo, e camarada de Colégio Militar, chama-se Fernando Seara e o texto veio publicado no jornal A Bola no último domingo, dia 11 de Julho de 2010.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

AS FADAS VERDES




Outro livro da Matilde Um livro que corre pelo maravlhoso, não o maravilhoso fantástico, mas o maravilhoso concreto da natureza e da vida. Porque aqui as Fadas têm a ver com a natureza e, especialmente, da floresta. As Fadas são o Silêncio, o Rosmaninho, a Pinha, a Romã, a Garça, o Amor, a Borboleta, a Manhã, etc, etc, etc.

A Matilde deixou-nos a felicidade de olhar em redor e viver com alegria coisas simples que às vezes andam tão afastadas das nossas preocupações. E deixou-nos essa felicidade com palavras cheias de música e delicadeza.

FELICIDADE

O lagarto estendido ao sol
Disse: O Sol seja louvado!
E o Sol brilhou mais ainda:
Lagarto!Muito obrigado!

A rã no charco da noite
Disse: Que lindo ]e o luar!
E a Lua brilhou mais ainda
Rã! Que lindo o teu coaxar!

E o sapo verde, a saltar
No chão sozinho saltou
E à Terra disse baixinho:
Terra! Que feliz eu não sou!

terça-feira, 13 de julho de 2010

O LIVRO DA TILA




Este livro foi um marco importante na poesia para crianças.

Com quase nada, uma brisa, uma ideia pequenina, mais duas ou três palavras transparentes, a Matilde conseguia fazer passar pelos poemas a deliciosa respiração da sua escrita tão delicada e doce.

HISTÓRIA DO SENHOR DO MAR

Deixa contar...
Era uma vez
O Senhor Mar
com muita onda...
Com muita onda...

E depois?
E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...

A menina adormeceu
Nos braços da sua mãe.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A NOSSA MATILDINHA



Era assim que nós, os outros escritores para a infância, tratávamos com um carinho sem fim a "nossa" Matilde Rosa Araújo.

Era a nossa decana, dizia com frequência o António Torrado. E ela, um dia, com o seu humor delicadíssimo, respondeu ao António: "De cana, não, filho! De bengala, de bengala..."

A Matilde, que em cada livro tinha sempre uma dedicatória especial para a minha flha Matilde, punha a criança à frente de tudo. E é bom lembrar isso neste tempo em que a criança se tornou, por vezes, num empecilho, outras vezes num produto do super-mercado da fama.

Li por aí que era a fada-madrinha da literatura para a infância. E era. Uma inspiração muito forte para todos nós, pais, professores ou escritores.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

AMADORA EDUCA



No final do ano lectivo várias Câmaras celebram a Educação. Na Amadora chama-se AMADORA EDUCA e representa um grande esforço. Fazem-nos pensar estas festas que educar e ensinar pode ser sempre uma festa. Poder pode... Nem sempre é. Mas isso são rosários de utras contas. Porque festa é festa e os lamentos ficam para outra altura.



A Câmara escolheu um livro meu, "O DIA EM QUE A BARRIGA REBENTOU" para oferecer aos seus meninos. Por isso, f também uma festa ir até lá contar-lhes de viva voz uma história que mete uns passarões chamados Bisnaus que comem muito e mal.

CANTAR O TEMPO DA REPÚBLICA



O meu amigo João Balula Cid e o comum amigo Carlos Guilherme resolveram pegar nas canções que se cantavam nos palcos dos teatros, na revista, na rua, durante os anos da República.

A juntar, na parte interior aparece um desenho delicioso do Cid, Augusto, primo do Cid, João.

O resultado é uma graça.

O João e o Guilherme andam por aí a fazer espectáculos a mostrar estas canções ao vivo. O próximo é nos Paços do Conselho de Condeixa, no próximo dia 5, pelas 18h00.

vale a pena ir assistir.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

CAMARADA



Há canções que nos acompanham pela vida. Ficam a ressoar. Adormecem. Reaparecem aqui e ali, trazendo um gosto doce peito. É o caso desta que traz uma palavra muito especial.

Há palavras que se gastam e perdem o sentido. Foram tantas as que já vi desapossadas da sua verdade. Uma delas é esta: Camarada. Vem de um tempo antigo e belo, o tempo da plena solidariedade. É uma palavra muito bonita, camarada...

C'est un joli nom Camarade
C'est un joli nom tu sais
Qui marie cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai
Pendant des années Camarade
Pendant des années tu sais
Avec ton seul nom comme aubade
Les lèvres s'épanouissaient
Camarade Camarade

C'est un nom terrible Camarade
C'est un nom terrible à dire
Quand, le temps d'une mascarade
Il ne fait plus que frémir
Que venez-vous faire Camarade
Que venez-vous faire ici
Ce fut à cinq heures dans Prague
Que le mois d'août s'obscurcit
Camarade Camarade

C'est un joli nom Camarade
C'est un joli nom tu sais
Dans mon cœur battant la chamade
Pour qu'il revive à jamais
Se marient cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai