segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CHEIRO A SOL



E mais um poema de Manoel de Barros. Ando com ele nos bolsos da memória. Há dias assim, em que a poesia não sai do ninho.




Retrato do artista quando coisa: borboletas
Já trocam as árvores por mim.
Insectos me desempenham.
Já posso amar as moscas como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um som de latas velhas se atraca
em meu olho.
Mas eu tenho predomínio por lírios.
Plantas desejam minha boca para crescer
por de cima.
Sou livre para o disfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quero cristianizar as águas.
Já enxergo o cheiro do sol.

Manoel de Barros


1 comentário:

Teresa disse...

Já por várias vezes entrei aqui sem pensar nos livros e sai apaixonada pela leitura!

Exatamente o que penso ser a função de uma biblioteca!

Apesar de Manoel de Barros ser uma paixão antiga, gostei de encontrá-lo aqui!É sempre muito bom ter por perto a sua magnífica poesia.

Tantos e tão bons poetas já aqui li a conseguir o "delírio do verbo"!
Bem Haja por isso!

Beijinho.