segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

JOÃO DOS SANTOS

A criança modela-se.
Ajuda-a a modelar-se oferecendo-lhe tudo quanto tenhas de mais autêntico dentro de ti.
Oferece-te a ti próprio como modelo.
Faz de modelo, não só com o teu corpo de Homem, mas também com o que resta da tua espontaneidade infantil para o Amor.
Homens capazes de Amor são aqueles que foram crianças ou que se reconciliaram com a criança que foram.
Se amas a criança que em ti existe, então podes amar as crianças.
Podes fazer um filho.
Se a rejeitaste ou se com ela és irreconciliável então só podes gostar de bonecos de pasta, autómatos de lata e bugigangas para enfeitar o teu espaço esvaziado. Compra-os na loja, não faças filhos.
Não te ocupes dos filhos dos outros.


Mas se recuperaste essa criança, se tomaste conhecimento de que uma vontade infantil de sentir, experimentar e saber, existe em ti…
Então podes estender os braços à criança que está à tua frente.
Educar é oferecer-se como modelo,
educar é respeitar o seu próprio modelo.
Educar é respeitar a criação do Homem
e do seu Universo.
Educar é respeitar a criança e a criatividade infantil.
Se podes ser infantil, podes ser Homem, podes ser Mestre.




JOÃO DOS SANTOS

em “Ensinaram-me a ler o mundo à minha volta”, ed. Assìrio & Alvim

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

SÔDADE DI CABO VERDE

Um blog serve para partilhar paixões. Uma das minhas é Cabo Verde e a sua música. Começou em 79 e é uma paixão cheia de momentos fortes, amigos muitos, sôdade sem fim.

A minha relação com a extraordinária música caboverdeana começou em 79 no convívio com o falecido Cabral, assistente da TAP, e o seu conjunto “Cacimba da Madrugada” que me acompanhou de noite até ao nascer do sol numa serenata memorável de mornas e coladeras até à porta do velho hotel italiano do tempo da 2ª Guerra na Preguiça, Ilha do Sal.

Passa essa paixão pelas noites quentes da Prainha em que ouvi pela primeira vez a voz do Ildo Lobo e a música poderosíssima dos Tubarões com quem depois me cruzei em vários lugares do mundo e claro que também em Cabo Verde.

A Cesária já tinha alguns fans indefectíveis e eu inclusive, muito antes de ter sido descoberta pelo mundo.

Mas houve mais.

Delirei com o violino do Travadinha numa noite louca organizada pelo meu amigo Leão Lopes. Dancei quase até cair com o som do Zézé de Nha Reinalda e dos seus Finaçon .
Tremi ao ouvir gravações de Codé Di Dona.
Ri-me a bom rir com o Bana durante uma bruta briga de gente da terra com marinheiros coreanos na Pracinha do Mindelo e trago sempre muita música dele na memória.
Assisti a uma roda de mulheres da Cidade Velha a tocar batuque com uma força de fazer tremer a terra.
Ouvi e vibrei com a arte do Paulino Vieira por aqui e por ali.
Emocionei-me por ali e por aqui com a voz da minha muito querida amiga Celina Pereira. Abracei o Tito Paris e o Dany Silva e embarquei naquelas vozes que nos levam pelos sete mares do mundo.
Ouvi a jovem Lura e percebi que a música de Cabo Verde é um filão de alma grande que não tem fim.

Apanhei este disco de que vos falo agora. Nancy Vieira. Nunca tinha ouvido falar. É do melhor que tenho ouvido nos últimos anos. Há talvez um mês que o ouço todos os dias. É doce e forte. Vai direito ao coração e ao corpo. Dá para dançar e pensar. Como toda a tanta e tão boa música de Cabo Verde.

NANCY VIEIRA


quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

NA VOLTA DO CORREIO

As palavras têm uma coisa simpática: reproduzem-se. Ou melhor, nós enviamos aos amigos algumas palavras com aquela sabedoria ou falta de sabedoria de que somos capazes e, na volta do correio, recebemos outras palavras, quantas vezes mais saborosas que as nossas.

´
É o que me tem acontecido este Natal. Atirei palavras a eito e tenho recebido textos e poemas de aquecer a alma. Cá vai que me foi enviado pela minha amiga Guadalupe. Bem haja!

NO CAMINHO DA UTOPIA

A utopia está lá no horizonte.
Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.



Eduardo Galeano (Escritor uruguaio)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

NATAL


PALAVRAS DE NATAL

Escrever é uma festa, uma aventura, um mergulho, uma viagem.

Escrever é uma cana de pesca que lançamos para dentro e para fora de nós. O anzol vai por ali abaixo e na volta vêm emoções, afectos, dores, sonhos, ilusões, utopias.

Quando escrevemos, estamos a abrir novos espaços, galáxias, continentes, oceanos fantásticos que só existem através das palavras.

Quando escrevemos tudo é possível. Podemos inventar o mundo e inventarmo-nos a nós próprios. Podemos chamar alguém que está longe ou já partiu para regressar ao nosso convívio no canto da saudade e da memória.

Por tudo isto, em certas épocas, desatamos a escrever a quem amamos. Às vezes nem temos tempo para parar um pouco a dar espessura e verdade às palavras que enviamos. Ou falha-nos a imaginação no meio da lufa-lufa da vida. Ou tornamo-nos presas do mecanismo mais ou menos perverso que envolve o mecanismo das comemorações. Socorremo-nos então de frases feitas, cartões, e-mais enviados e reenviados.

O Natal é assim. Tornou-se assim? Ou foi sempre assim? Não sei.

Sei que para mim, repito, escrever é uma festa. E com esta festa comemoro a outra, a do Natal. Nascem palavras. Nascem ideias. Nasce e renasce a vida. Uma festa para viver por dentro do coração.

E nesta festa, em volta das palavras, relembro-vos a todos, amigas e amigos queridos, mais antigos ou mais recentes, gente com quem marchei braço a braço para conquistar a liberdade, para sonhar, para partilhar o novelo dos afectos e o fogo das paixões, amigos ao lado de quem mergulho nos mistérios da vida, com quem partilho o deslumbre, a inquietação ou a desobediência.

A todos gostava de juntar num grande abraço e lembrar um poema do David Mourão-Ferreira, dos mais singelos que conheço.

SURDINA DE NATAL PARA OS MEUS NETOS

Ó David Ó Inês
Vamos ver o Menino
inda mais pequenino
que vocês


Vamos vê-lo tapado
sob o céu do futuro
com a sombra de um muro
a seu lado


Vamos vê-lo nós três
novamente a nascer
Vamos ver se vai ser
desta vez


David Mourão-Ferreira

sábado, 22 de dezembro de 2007

A ESCRITA E A VIDA

A minha amiga Margarida Graça trouxe-me esta frase do professor Jorge do Ó:



"A escrita pode ser a hipótese de a vida ser uma obra de arte."



Vale a pena "mastigar" estas palavras até ao osso. Pode ser uma boa história de Natal

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A BRINCAR COM COISAS MUITO SÉRIAS

As palavras são o mais maravilhoso brinquedo que me deram em pequeno.

Sempre gostei de brincar com palavras. Esticá-las e dobrá-las na oficina da escrita. Fazer equilibrios instáveis com a música delas. Trocar-lhes o sentido. Despenteá-las. Inventar comboinhos de rimas e delírios. Dar a volta às composturas e bem pensâncias com que nos querem encerrar, diminuir e tornar em senhores muito amestrados.

Brincar ao absurdo talvez seja um acto de total liberdade. Acto maior do ser criança. E de ser poeta.

TRICOLÉ

TRICOLÉ


Caçador que vai à caça
à caça do tricolá
à ida bebe café
à volta só bebe chá.

Caçador que vai à caça
à caça do tricolé
à ida vai a cavalo
à volta já vem a pé

Caçador que vai à caça
à caça do tricoli
à ida vai pelo longe
à volta vem por aqui.

Caçador que vai à caça
à caça do tricoló
à ida vai de comboio
à volta vem de trenó.

Caçador que vai à caça
à caça do tricolu
à ida vai de casaco
à volta vem todo nu.


(de José Fanha, em "Cantigas & cantigos para formigas e formigos, a publicar)

SE TU VISSES O QUE EU VI

SE TU VISSES O QUE EU VI


Se tu visses o que eu vi
na Rua do Lá Vai Um
uma velha muito velha
tropeçou e catrapum!

Se tu visses o que eu vi
no Beco do Fala Só
um juiz do tribunal
às costas da bisavó!

Se tu visses o que eu vi
na Travessa da Sofia
um soldado da marinha
a casar-se com uma enguia!

Se tu visses o que eu vi
no Largo do Navegante
três macacos macacões
ao colo de um elefante!

Se tu visses o que eu vi
num canto da minha rua
um poeta barrigudo
a deitar versos à lua!


(de José Fanha, em "Cantigas & cantigos para formigas e formigos", a publicar)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A PORTA QUE ABRE O LIVRO

Os marcadores são a porta que abre o livro e nos pisca o olho. "Entra!" diz o marcador. Outras vezes sussurra-nos: "Vá... Já estás a cair de sono!" e pede-nos para fechar o livro e deixá-lo também a ele, marcador, descansar na sua cama de letras.

Fez-se um concurso de frases sobre a leitura na EB 23 da Venda do Pinheiro. Ganharam estas três que e estão por baixo.

A Sandra António fez a ilustração. Saiu uma colecção de marcadores muito divertidos. Tudo por iniciativa da responsável pelo Centro de Recursos, Jacqueline Duarte.



(aproveite quem gosta de marcadores e visite http://biblioteca-eb23ctx.blogspot.com/ onde há tempos houve uma magnífica exposição justamente de marcadores)

LER É COMO COMER SOPA DE LETRINHAS


Frase de Inês Mota

EB23 Venda do Pinheiro

LER É EXCITANTE


Frase de Micael Morais

EB23 da Venda do Pinheiro

LER É ENTRAR POR UMA PORTINHA DE SONHOS ONDE A FANTASIA É BEM VINDA


Frase de Carolina Fonte
Escola EB23 da Venda do Pinheiro

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

DO MIA COUTO

AVESSO BÍBLICO


No início,
já havia tudo.

Mas Deus era cego
e, perante tanto tudo,
o que ele viu foi o Nada.

Deus tocou a água
e acreditou ter criado o oceano.

Tocou o chão
e pensou que a terra nascia sob os seus pés.

E quando a si mesmo se tocou
ele se achou o centro do Universo.
E se julgou divino.

Estava criado o Homem.

(em "idades cidades divindades", ed. Caminho, 2007)

PARA O MIA COUTO

Para o Mia Couto
.
Elefantemos portanto.

Deixemos esta precária pele
aprender outros saberes.

Deixemos
portantomente
o olhar do paquiderme
ensinar ao passarinho
as paisagens do deslumbre
das escritas mais antigas.

Permitamos que o vento sopre.
E que a pedra exista.
E que o sol dispare a sua fúria
Em todas as direcções.
E que a lua se entretenha
no seu jogo de brilhar.

Elefantemos portanto.

Ou,
melhor dizendo,
permitamos que um silêncio muito antigo
venha
carregado de silvos e sussurros
venha
conduzir-nos a palavra
pelas veredas impalpáveis
do mistério.

(em "Elogio dos peixes das pedras e dos simples", José Fanha)

UMA FESTA INQUIETA, TERNA, DIVERTIDA

Há cerca de 3 meses meti as mãos à net nesta aventura de partilhar memórias, afectos, imagens, notícias, visitas a escolas e bibliotecas, textos, poemas, sei lá que mais... Tudo o qu viesse á rede e fosse peixe.

Pensei, no entanto, que aquilo que me motivava podia não ter interesse para outros. Pensei que recordar momentos de uma vida de vagabundagem activa pelas artes e pelo espectáculo podia ser um exercício de egocentrismo pateta e balofo.

Tive, portanto, alguma dúvida àcerca da utilidade disto tudo. Pus um contador de visitas para ver o que é que acontecia. Ao fim de um mês contabilizei uma média de cerca de 40 visitas diárias.

Aí comecei a pensar que esta sequência organicamente desorganizada pode fazer sentido para outras pessoas. Pode dar notícia do que se passa fora dos centros. Pode lançar sementes. Pode acordar memórias que se juntem a outras memórias. Sei lá... Se os que passam de visita por aqui deixarem uma palavra pode até transformar-se num fórum.

Uma pequenina festa inquieta, terna e divertida. Se assim for já é uma vitória e uma vitória muito saborosa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

UM ERRO

Publiquei um poema escrito por duas meninas, Margarida e Raquel, enviado entre outros de outros meninos pela Professora Rita Carrapato.

Erro meu porque a Margarida Raquel eram afinal duas meninas, a Margarida e a Raquel. Aqui fica a emenda e aproveito para publicar mais dois poemas de meninos da mesma escola de Évora. Merecem que muitas pessoas lhes deixem aqui uma palavra de ternura porque os seus trabalhos poéticos são verdadeiramente comoventes.

MARGARIDA E RAQUEL

Sol,
tocaste a tua melodia para mim.
Quando ela acabou
o Outono acordou.
Tocaram à porta os trovões
o vento tocou na sua harpa
e as nuvens emocionadas
choraram e disseram:
“Cada nota musical
é uma letra do Outono!”
Os trovões foram-se embora,
uma borracha os apagou.
A chuva ficou com febre,
fechou a porta do olhar
e adormeceu
até ao amanhecer.


Margarida e Raquel, Escola EB 1, Av. heróis do Ultramar, Évora

HELENA E RAQUEL

As cores do Outono
são como um coração morto.

Um dia sonhei que estava
num campo só de flores
e estava a chorar…

…Apanhei muitas flores
daquelas que se sopram
e voa tudo…tudo…


Helena e Raquel, Escola EB 1 da Av. Heróis do Ultramar, Évora

DANIEL GEADAS

Não sei o que sinto.
Ninguém sabe o que sinto.
Mas o meu coração descreve
lágrimas impossíveis de tocar.
Será que sei do que estou a falar?

Daniel Geadas, Escola EB1 da Av. Heróis do Ultramar, Évora

domingo, 9 de dezembro de 2007

ADEUS PAI

Aqui vai mais uma fotografia pescada do baú das memórias boas. É do belíssimo filme "ADEUS PAI" de Luís Filipe Rocha.

Aqui eu fazia de RODINHAS, um homem que tinha perdido as pernas na guerra de África, um homem que fazia guerra contra os pretos e, afinal, tinha sido um preto a salvar-lhe a vida.

Uma personagem que reflecte a forma muito peculiar como os portugueses andaram pelo mundo.

Quem não viu o filme não o perca se o encontrar. Não por mim. Mas por tudo o resto. Uma história muito simples, muito emocionante e supreendente sobre as relações entre um pai e um filho. Para todas as idades.

O RODINHAS


sábado, 8 de dezembro de 2007

HISTÓRIAS

HISTÓRIAS

Conta-me uma história
carregada de orientes
músicas suaves
e perfumes.

Uma história envolta em pérolas
princesas
e peixes deslumbrantes.

Senta o meu olhar na tenda do deserto
sob a grande lua.
Peço: mostra-me os teus mapas irreais.
Fala-me do mar
ilhas misteriosas
a pimenta e a canela.

Desenha com palavras o brilho dos topázios
e o deslumbre sonoro
das intensas noites tropicais.

Não te contenhas. Voa.
Tece palavras e milagres.
Inventa-te anil vermelha e violeta.
Rouba à terra as cores ferruginosas.
Rouba aos rios o seu leito luxuoso de calhaus rolantes.
Toca os meus lábios com a seda sequiosa dos teus lábios.

Conta-me uma história
de ladrões felizes.

("Tempo azul", José Fanha)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

LER, PENSAR, PARTILHAR A LEITURA EM ÉVORA

Em Évora reune-se um grupo que podia ser mas não é exactamente uma Comunidade de Leitores. Um grupo de professores que pretendem reflectir sobre a leitura e as formas de incrementar a leitura e a sua partilha entre os alunos de uma escola e fora do espaço curricular.

Mais do que isso. Trata-se de um grupo que procura lançar a prática da partilha de leituras entre professores e pais. Partilha das ficções que cada um constrói na leitura de um mesmo livro, partilha de inquietações e sonhos que vêm à tona das palavras quando pomos em comum este vício bom que é ler.

Como é natural, um grupo que quer pensar sobre leitura, tem de ler. Por isso, é a partir da prática da partilha de leituras que procuramos entender e criar um modelo de organização e de dinâmica novas Comunidades de Leitores que daqui se pretende que venham a nascer.

A iniciativa é patrocinada pela Câmara Municipal de Évora. A casa que nos alberga é a Escola EB23 André de Resende. E, mais cedo ou mais tarde, este caminho terá de dar frutos. Desse caminho continuarei a dar notícias.

ESCOLA EB 23 ANDRÉ DE RESENDE DE ÉVORA


ESCOLA EB 23 ANDRÉ DE RESENDE DE ÉVORA


Escola EB23 André de Resende, Évora

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

DOCAS

Escrevi os textos para o "DOCAS", programa de humor da TVI, em 1996.

Em cada um havia um convidado. Neste dia foi esse actor imenso que se chamava Henrique Viana.

Quinze dias antes desta fotografia eu tinha partido o esterno e duas costelas num acidente de automóvel. As dores eram bastantes mas não resisti ao gozo de posar neste preparo ao lado do Henrique.

Deixou-nos há pouco tempo e deixou muita saudade a quem teve a felicidade de trabalhar com ele.

HENRIQUE VIANA


domingo, 2 de dezembro de 2007

A POESIA E OS MENINOS

Trabalhar a poesia com meninos, ajudá-los a descobrir que podem habitar outra dimensão das palavras, pode ser extremamente gratificante.

No entanto, por vezes, a poesia é confundida com a rima ou com a quadra, ou seja, com a forma. E a forma pode ser e pode não ser o caminho para chegar à poesia. A forma pode até ser inimiga da poesia. Pode espartilhá-la e esvaziá-la. Mas também lhe pode dar uma ressonância própria e encantadora. Depende da mão que a escreve e da voz que a torna em ouro.

Numa sala da Escola EB 1 da Venda do Pinheiro, meninos houve que me disseram que a poesia era o maravilhoso e o fantástico. Aí temos um caminho para a poesia. Também não será o único. Há outros que passam pela descoberta da largueza que as palavras nos concedem, pelo prazer de virar o mundo ao contrário através da força insurrecta que o verso tem, pelo diálogo com as dores e as alegrias guardadas na memória, e tantos outros caminhos, todos eles pequenos ou grandes rios
do grande mar da poesia.

Comecei a falar de poesia com os meninos da Escola EB1 da Av. heróis do Ultramar de Évora. A professora Rita Carrapato continuou. estão aqui alguns dos resultados.

JOÃO MATALOTO e GONÇALO

O SOL


O sol brilha
como uma fantasia
e como duas rolas a cantar.


João Mataloto e Gonçalo, Escola EB1, Av. heróis do Ultramar, Évora

DÉBORA

O mar é sereno
e quando vêm aquelas tempestades enormes
ele fica nervoso
como um rei exaltado.
Mas… com a companhia da brisa
o mar acalma e dorme em paz.



Débora, Escola EB1 da Av. Heróis do Ultramar, Évora

MARGARIDA RAQUEL

Sol,
tocaste a tua melodia para mim.
Quando ela acabou
o Outono acordou.
Tocaram à porta os trovões
o vento tocou na sua harpa
e as nuvens emocionadas
choraram e disseram:
“Cada nota musical
é uma letra do Outono!”
Os trovões foram-se embora,
uma borracha os apagou.
A chuva ficou com febre,
fechou a porta do olhar
e adormeceu
até ao amanhecer.



Margarida Raquel, Escola EB1 da Av. Heróis do Ultramar, Évora

sábado, 1 de dezembro de 2007

A FADA PALAVRINHA

Desde o ano de 2006 que tenho colaborado com o projecto "A FADA PALAVRINHA" do Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Évora que visa estabelecer uma relação regular quer presencial quer por net de um escritor com um grupo de meninos de uma escola do 1º Ciclo.

O primeiro grupo com que trabalhei foi o da sala da Professora Rita Carrapato na EB 1 da Av. Heróis do Ultramar em Évora. Estabelecemos uma relação tão forte e doce que passado um ano e estando já a trabalhar com outra Escola e outro professor, sempre que vou a Évora não deixo de visitar os meus amigos e de me surpreender com os trabalhos que fazem quer em poesia quer em desenho.

Aqui deixo alguns exemplos de desenhos a partir do livro "O DIA EM QUE A MATA ARDEU" w um grande abrço de agradececimento pelo muito que me têm dado estes meninos e a sua professora.

O DIA EM QUE A MATA ARDEU


O DIA EM QUE A MATA ARDEU