quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A CRIANÇA E A VIDA


Enfermeira e professora, Maria Rosa Colaço publicou um livro único em pleno Estado Novo com poemas de crianças

Pedrada no charco, "A criança e a vida" veio pôr em causa a forma como se promovia a leitura e a escrita junto dos mais pequenos.

O livro atingiu uma imensa popularidade e atingiu até agora 47 edições. No entan to, muitos dos mais jovens professores ignoram a sua existência.


"...Ensinaram-me que , quando se é humilhado naquilo que em nós é claridade e certeza, aprende-se mais depressa o sentido exacto da liberdade, da paz, do ódio,do amor e do ridículo do quotidiano. Eles revelaram-me que a miséria transforma as crianças ,mais que os adultos, em anjos implacáveis de lucidez e que a fome os ateia e lhes faz crescer nos olhos brancas e terríveis asas de sonho ou destruição.E há nestes anjos de fogo uma voz oculta e violenta em que é preciso,é urgente, meditarmos. Ela pode denunciar, construir ou semear, a alegria , a vergonha ou o remorso.
Ela pode ser a semente da Esperança, da Paz entre os homens.
Ela pode ser o Ódio.
Ela pode ser o Amor."

Mª Rosa Colaço



O AMOR

O amor é como duas borboletas que estivessem

Sobre uma rosa, a mias lindas de todas do jardim.

O amor tem que haver.

Se não houvesse amor, não havia nada mais bonito.

O amor são duas estrelas a brilhar, a brilhar.

A rosa e o sol são o amor.

A amor é poesia.

O amor são dois passarinhos a construir a sua casinha.

O amor é não haver polícias.


Inácio da silva Cruz – 10 anos

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A VELHA DA GATA E A GATA DA VELHA



António Fernando dos Santos (Vila Real de Santo António, 1918 - Lisboa, Agosto de 1991), mais conhecido por Tóssan, foi um pintor, ilustrador, decorador e gráfico português.

Ligado ao teatro, à ceografia, desenhador notável, ilustrador de primeira água, declamador delicioso dado a conhecer ao país no programa ZIP-ZIP da RTP.

Dele posso dizer que era um ser humano magnífico, um homem de humor delirante, um amigo fantástico que me apoiou e incentivou quando, jovenzito, me abalancei a dizer poesia em público. Por duas ou três vezes partilhei com ele o palco e guardo uma ternura sem fim desses momentos únicos.




A VELHA DA GATA E A GATA DA VELHA

Uma velha tinha um gato
e o gato tinha uma velha
mas o gato que a velha tinha
tinha a tinha que tinha a velha.

E não era gato, era gata.

A velha da gata
de velha que era,
sofria da telha ou da pinha
e a gata da velha, de tão velha,
já era velhinha.

A velha, de velha, já andava de gatas
e a gata já andava de velhas.
Quando a velha andava de gatas
parecia a gata da velha,
e como a velha dobrava a espinha
a gata queria comer a espinha da velha.

Tudo pela gata ter tinha
e a velha sofrer da pinha.

Quando a gata chorava,
a velha miava.
Ficava sem se saber
qual era a gata ou qual era a velha
que debaixo da cama vinha,
em cima da cama estava,
debaixo da cama dormia,
e por cima ressonava.

A velha tinha fôlego de gata!
E junto à cabeceira
a gaita de foles estava.
Quando a velha gaiteia
tocava na velha gaita,
chorava a gata da velha
por causa dos foles da gaita.

A velha que tinha gôta
caiu no goto da gata
morrendo a gata de gôta,
ficando a velha gótica
sem gôta e sem gata.

Mas como ainda tinha tinha
e sobria da velha telha,
juntou-se a tinha na pinha
e morreu careca a velha

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

AOS QUADRADINHOS


Sidónio Muralha começa a ser redescoberto como poeta e como autor de literatura para crianças. E ainda bem. Vale muito a pena revisitá-lo.


XADREZ

É branca a gata gatinha
É branca como farinha.
É preto o gato gatão
É preto como o carvão.
E os filhos, gatos gatinhos,
São todos aos quadradinhos.
Os quadradinhos branquinhos
Fazem lembrar mãe gatinha
Que é branca como a farinha.
Os quadradinhos pretinhos
Fazem lembrar pai gatão
Que é preto como carvão
Se é branca a gata gatinha
E é preto o gato gatão,
Como é que são os gatinhos?
Os gatinhos eles são,
São todos aos quadradinhos.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

HÁ CASOS ASSIM

O António Torrado é um querido amigo e um mestre. A escrita dele transborda de ternura e, sobretudo, de ironia.

ANÚNCIO -I

Quarenta poetas
que dizem que são,
quarenta poetas
no cais da estação

Quarenta poetas
são mais do que as uvas!
Que dor, que tormenta,
perderam as luvas.

Quarenta poetas
de finas bengalas
e mais finos versos
perderam as malas.

Quarenta poetas
quem lhes leva a palma?
Quarenta poetas
perderam a calma.

Quarenta poetas
nervosos, com pressa…
E vai um poeta
perdeu a cabeça.

Perdeu a cabeça,
perdeu, de repente,
no cais da estação…
O caso é urgente.

A quem encontrar
avise para mim.
Fui eu que a perdi.
Há casos assim!

António Torrado, “À Esquina da rima Buzina”

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O MELHOR QUE ACONTECEU


Quem se lembra da maria Rosa Colaço? Quem se lembra das suas histórias e poemas? Quem se lembra desse extraordinário livrinho que se chama "A CRIANÇA E A VIDA" que ela fez com os seus alunos?

DIA DE ANOS DO PEDRO

No ano em que eu nasci
tanta coisa aconteceu!
Caiu chuva, houve sol
e muito pão se comeu.

No ano em que eu nasci,
já outros corriam mundo,,
já outros estavam em guerra,
já barcos iam ao fundo.

No ano em que eu nasci
a vida, tal como hoje,
é uma luz, é um vento
que passa por nós e foge.

Nesse dia tão distante,
descobri que é bom viver.
Hei-de fazer dos meus dias
Todos, dias de nascer!

No ano em que eu nasci
não tinha medo de nada:
o colo da minha Mãe
era o ninho, era a estrada!

Mas no ano em que eu nasci
o melhor que aconteceu
fui eu! Fui eu! Fui eu
Fui eu!

Maria Rosa Colaço, “Versos diversos para meninos travessos”

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

DÓI-DÓI

Era uma querida e linda amiga, a Matilde Rosa Araújo. Faz-nos muita falta com a sua doçura e a sua simplicidade


AVENTURA PEQUENINA

É tão linda a palavra dói-dói!
Dóis… Dós…
Mas um dói-dói dói.
Dói!
Que pena o dói-dói doer
Até o menino chorar.
Mas que foi?
É um dói-dói pequenino
No joelho
Do menino,
Que pulou,
Caiu,
E se feriu.
Pulou,
Caiu,
Esfolou,
Mas já passou…

Matilde Rosa Araújo, “Anjos de pijama”


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A BRUXA

Conto da Luísa Ducla Soares.

Já o tinha anunciado aqui. Mas só agora consegui publicar a gravação.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DLIM-DLIM

Mário Castrim sempre foi um homem de fortes convicções, atraindo facilmente as controvérsias, mas também autor de alguns belíssimos textos para crianças. Como este poema.

DLIM-DLIM

Nasce a menina
dlim-dlim
não é Jesus
dlim-dlim
nem Jesuíina
dlim-dlim
ela é a filha
de uma vizinha
não teve burro
nem vaquinha
porque em Lisboa
era difícil
ser assim.

De qualquer modo
dlim-dlim.

sábado, 2 de novembro de 2013

AS PEDRAS FALAM?


Da poesia para adultos à poesia para crianças vou trazer por aqui alguns poemas mais esquecidos ultimamente.

Para quem trabalha com crianças e para as crianças que resistem no peito de alguns adultos.

Desta vez da minha muito querida amiga Maria Alberta Menéres.


AS PEDRAS FALAM?

As pedras falam? Pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam

Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?

As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.

Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como as aves
e nem mais tarde regressam.

Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.

Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.

As pedras falam? Pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.