domingo, 22 de agosto de 2010

O QUE EU SEI DOS HOMENS



Ao domingos o suplemento PÚBLICA de O Público entre algumas coisas ligeirotas e dispensáveis (do meu ponto de visata) tem vários desafios para uma leitura interessante e enriquecedora.

Basta falar da coluna assinada pelo Professor Daniel Sampaio ou de uma outra de autoria da minha amiga Ana Sousa Dias que se intitula "O que eu sei dos homens" ou "O que eu sei das mulheres", conforme o entrevistado.

Já me emocionei com algumas das entrevistas da Ana. Entre outras não me esquecerei daquela em que o Fernando Tordo fazia uma comovente declaração de amor à sua mulher.

Hoje saiu a minha amiga e escritora Cristina Carvalho. Já aqui falei dela. Filha dos escritores Natália Nunes e Antonio Gedeão. Conhecemo-nos há 6 meses e ficámos amigos para sempre. E para um sempre que vem de trás e vai até sei lá quando.

A Cristina é uma mulher fantástica e a sua conversa com a Ana é uma delícia. Deixo aqui um cheirinho:

"Não sei nada de religião, não fui educada religiosamente. Admiro, enalteço e faço as minhas orações à natureza.
É a natureza que me comanda a vida, como dizia o meu pai - o sonho comanda a vida e o meu sonho é o universo, que eu não compreendo nem sei. A indizibilidade do universo é a minha religião."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CRAZY

O escritor canadiano David Coupland, grande defensor do mergulho na tecnologia, na informação, na net, afirmou numa entrevista há umas 3 semanas ao Ypsílon afrmava que ter resolvido ou andava informado ou vivia. Penso que o andar informado se referia àqueles que vivem mergulhados no burburinho do momento, os que querem estar ligados a tudo o que se passa no mundo hoje, agora, neste instante. Entre essa tal informação e a vida, Coupland chegou à conclusão que preferia viver.

Não sou um taradinho da informação e da net. Longe disso. Procuro perceber como é que isto funciona. E às vezes, de uma forma muito pouco organizada e premeditada acontecem coisas boas.

Neste calor de Verão, fim de tarde, pus-me a mariscar coisas outras. Saiu esta. Diana Krall, Elvis Costello e Willie Nelson e uma canção maravilhosa.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

NA PAZ DOS ANJOS

Escrevi muitos programas e séries para televisão de que me orgulho. "Zarabadim", "Crianças SOS", "Docas", a adaptação de "Ana e os Sete", 6 anos de colaboração e centenas de sketchs para a "Rua Sésamo", 114 vepisódios de "Nós os Ricos", série original do Mário Zambujal, etc, etc, etc.

"NA PAZ DOS ANJOS" foi a minha primeira telenovela. Escrita com a colaboração do Jorge Paixão da Costa. Uma das grandes aventuras da minha vida.

Foi para o ar em 1994. Os horários mudavam constantemente. Poucas pessoas conheço que a tenham seguido na época. Depois passou inúmeras vezes na RTP Internacional e na RTP Memória. A cada repetição tenho recebido testemunhos de um enorme sucesso em locais inesperados por esse mundo fora onde os portugueses façam da televisão um laço com a sua pátria e a sua língua, Angola, Rússia, Suiça, Estados Unidos, sei lá que mais.

Alguns críticos, dos muito conceituados e tudo, disseram em 1994 cobras e lagartos de "Na Paz dos Anjos" (eu guardo os recortes).

Hoje, muita gente, (o Nicolau Breyner, por exemplo) considera-a como a melhor e mais bem escrita telenovela de sempre.

A história era muito divertida, achava-o eu então e hoje ainda com mais convicção. O elenco era de luxo. João Perry, Guida Maria, Rui Mendes, Manuel Cavaco, Sofia Alves, Florbela Queirós, Isabel Medina, Vítor Norte, Diogo Infante, Ricardo Carriço, Cucha Cavalheiro... Faltarão alguns aqui por certo. Que me perdoem a falta de memória.

Otros, queridos amigos, já desaparareceram infelizmente: José Gomes, António Assunção, Varela Silva, Armando Cortez, Filipe Ferrer.

Ainda me rebolo de gozo a lembrar figuras como o D. Fernandinho, pelo Luís Aleluia, a sra. Condessa pela Fernanda Borsatti, o padre pelo Zé Pedro Gomes, o industrial de comida para cão pelo António Montês.

Telefonou-me a minha amiga Celeste, benfiquista dos sete costados, a avisar que "Na Paz dos Anjos" tinha começado a ir de novo para o ar na RTP Memória a partir de domingo. Ela também pertenceu à equipa. E diz que voltou a desmanchar-se a rir.

Quem puder, veja. É por volta das 17h00, todos os dias. Julgo que quem puder deitar um olho não vai dar o tempo por mal empregue.

domingo, 8 de agosto de 2010

POESIA E VAGABUNDAGEM

Gosto de me surpreender. Sobretudo na poesia. Um pouco por todo o mundo há poetas de que nunca ouvimos falar. Poetas que vão oferecendo a sua arte a quem os souber encontrar.

A net tem algumas vantagens e uma delas é a facilidade com que nos põe nas mãos informação preciosa se soubermos que é que queremos procurar.

É por isso tão importante a vangabundagem que nos faz andar de livro em livro, de citação em entrevista, de conversa em conversa, de jornal de domingo em site, esse cruzar de ideias, palavras, conceitos, nomes de autores que nos chegam daqui e dali. Consegue-se assim, não raras vezes, algumas dessas tais surpresas que dão mais espessura à nossa vida.

Um livro da espanhola, Belén Gopegui, "O Pai da Branca de Neve", já falei dele aqui, traz nas primeiras páginas um poema do poeta Roberto Fernández Retamar. Não o conhecia. E era uma opena não o conhecer...



Nasceu em 1930. Estudou pintura e arquitectura. Doutorou-se em Filosofia. Recebeu inúmeros prémios como poeta e desempenhou diversos cartgos políticos.


"FELIZES OS NORMAIS"

Felizes os normais, esses seres estranhos.
Os que não tiveram uma mãe louca, um pai bêbado, um filho delinquente,
Uma casa em parte nenhuma, uma doença desconhecida,
Os que não foram calcinados por um amor devorador,
Os que viveram os dezassete rostos do sorriso e um pouco mais,
Os cheios de sapatos, os arcanjos com chapéus,
Os satisfeitos, os gordos, os bonitos,
Os trocistas estridentes e os seus sequazes, os é claro que sim, por aqui,
Os que ganham, os que são queridos até ao cabo,
Os flautistas acompanhados pelos ratos,
Os vencedores e os seus compradores,
Os cavalheiros ligeiramente sobre-humanos,
Os homens vestidos de trovões e as mulheres de relâmpagos,
Os delicados, os sensatos, os finos,
Os amáveis, os doces, os comestíveis e os potáveis.

Felizes as aves, o esterco, as pedras.

Mas deixem passar os que fazem os mundois e os sonhos,
As ilusões, as sinfonias, as palavras que nos destroçam
e nos constroem, os meis loucos do que as suas mães, os mais bêbados
do que os seus pais e mais delinquentes do que os seus filhos
e mais devorados por amores calcinantes.

Deixem-nos no seu lugar o inferno, e chega.

(Tradução de Miguel Serras Pereira)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

STILL CRAZY

Comecei a ler um livro excelente de Belén Gopegui, "O PAI DA BRANCA DE NEVE", onde a autora fala dos normais e dos que não são normais.

Os normais são os que procuram uma vida calma, organizada, com o possível conforto, uma vida sem sobressaltos, sem utopias, sem sonhos desmedidos nem grandes desilusões.

Os outros são aqueles a quem a vida lançou desafios dolorosos, acordou angústias de difícil resolução, atirou para a inquietação dos grandes sonhos porventura irrealizáveis.

Os normais vivem no centro, os não normais vivem nos limites do círculo das suas vidas.

Acho que nunca fui e dificilmente virei a ser dos normais. Não sou igual ao que fui aos 17, aos 25, aos 30 anos. Mas continuo... Still crazy after all these years.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AS CORES DE TUDO




É tempo de pôr algumas leituras em dia. Ou melhor, tempo de reduzir a pilha dos livros que vão ficando adiados. E este ano até os de poesia se deixaram atemorizar face ao sem número de tarefas e procupações.

Este "Livro do sapateiro" estava mesmo no primeiro lugar. É de um poeta que muito aprecio pelo rigor, pela espessura, pela excelência do seu verso.

Além de grande poeta, Pedro Tamen é um homem que tem tido um papel ímpar na nossa cultura desde os anops 50.

Do seu labor de oficial da escrita é indispensável sublinhar o trabalho de tradução concretizado em imensas obras traduzidas de que é sempre bom recordar a extraordinária tradução dos 10 vllumes de "Em busca do Tempo Perdido" de
Marcel Proust

Abri o seu último livro de poesia e fiquei agarrado pelo primeiro poema. São assim os grandes poetas. Pegam em nós e levam-nos para muito alto num súbito golpe de vento.


Iremos procurar a razão da giesta
a razão do amarelo
iremos procurar a razão
iremos procurar
e os olhos tomarão todas as cores
as cores de tudo

Pedro Tamen, “O livro do sapateiro”, D. Quixote