quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

SE PODES SER CRIANÇA



A criança modela-se.
Ajuda-a a modelar-se oferecendo-lhe tudo quanto tenhas de mais autêntico dentro de ti.
Oferece-te a ti próprio como modelo.
Faz de modelo, não só com o teu corpo de Homem, mas também com o que resta da tua espontaneidade infantil para o Amor.
Homens capazes de Amor são aqueles que foram crianças ou que se reconciliaram com a criança que foram.
Se amas a criança que em ti existe, então podes amar as crianças.
Podes fazer um filho.
Se a rejeitaste ou se com ela és irreconciliável então só podes gostar de bonecos de pasta, autómatos de lata e bugigangas para enfeitar o teu espaço esvaziado. Compra-os na loja, não faças filhos.
Não te ocupes dos filhos dos outros.


Mas se recuperaste essa criança, se tomaste conhecimento de que uma vontade infantil de sentir, experimentar e saber, existe em ti…
Então podes estender os braços à criança que está à tua frente.
Educar é oferecer-se como modelo,
educar é respeitar o seu próprio modelo.
Educar é respeitar a criação do Homem
e do seu Universo.
Educar é respeitar a criança e a criatividade infantil.
Se podes ser infantil, podes ser Homem, podes ser Mestre.


JOÃO DOS SANTOS

em “Ensinaram-me a ler o mundo à minha volta”, ed. Assírio & Alvim

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

LER É PERIGOSO...



Mais um vídeo sobre a Leitura, este produzido pela Universidade de Salvador. Parece-me difícil de imaginar que uma Universidade Portuguesa actual pudesse produzir uma carga ideológica semelhante. O conservadorismo invadiu muitas das nossas instituições. Nem sei se se pode falar de conservadorismo ou apenas de uma certa incapacidade para se ser "perigosamente humano".

domingo, 27 de dezembro de 2009

IMAGINE

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Enviou-me este mail a minha querida amiga Maria Romeiras a dizer:

Boas Festas, pessoal, não resisti a enviar este vídeo, atenção que é ASL, American Sign Language, diferente de LIBRAS do Brasil ou de LGP, Língua Gestual Portuguesa.

A Maria é assim, sempre atenta às necessidades e às expressões dos que precisam de um apoio especial mas que também nos podem oferecer um modo especial de se apropriar da matéria de que é feito o sonho.

Acredito que nenhuma sociedade pode ser verdadeiramente democrática sem que a solidariedade se torne numa prática natural, profunda, extensa e intensa.

Não posso ser verdadeiramente livre se não fizer o possível para que cada um dos meus irmãos seja livre.

Talvez a liberdade só exista no acto de lutar por ela.

BOAS FESTAS

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O PERU DO NATAL



Esta imagem foi-me enviada pelo meu amigo Ricardo Charters de Almeida. Recebo muitas por mail, e mais ainda agora na época do Natal. Muitas delas são desinteressantes e banais. Mas de vez em quando surge uma surpresa como esta.

Fez-me lembrar a velha ternura que sempre tive pelos mais pobres, pelos excluídos, pelos marginalizados. E também pelos perus. É que o Natal para um peru não deve ser a época mais feliz do ano.

faço votos para que o peru da imagem tenha efectivamente escapado à matança natalícia...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

AGARRADOS A UM VERSO



(Do livro "Imagens das Idades do Mundo" de Francisco de Holanda)


Às vezes, os meninos dizem-me que eu tenho cara de Pai Natal. E eu sorrio. Porque gosto de me imaginar a habitar essa figura ternurenta e generosa, saída da bruma das lendas e que veio desabar neste Natal com que vestimos a velha festa do Solstício de Inverno e celebramos a alegria de nascer e renascer vezes sem conta.

Se eu fosse o Pai Natal não ia comprar prendas ao Centro Comercial. Nem carrinhos, nem bonecas, nem perfumes, nem canetas douradas, nem gravatas às riscas, nem telemóveis, nem consolas, nem nada disso.

Se eu fosse o Pai Natal levava um verso a cada um. Por que, agarrados a um verso podemos sobreviver às intempéries da vida.

Dava um verso de Neruda a cada desempregado, um de David Mourão-Ferreira a todas as mulheres sem amor, um de Florbela Espanca aos homens distraídos, um de Lorca aos poetas que deixaram secar a maravilha das palavras, um de Cesário aos condutores da Carris com olhos cheios de Tejo, um de Vinícius aos alcoólicos anónimos que dançam sobre o chão da sua imperfeição, um de Sebastião da Gama a cada professor que não se deixa encerrar em 4 paredes e três relatórios, um de Prévert aos gatos que caminham como imperadores no alto dos telhados, um de José Craveirinha a todos os cantores de RAP, um de Gomes Leal aos que naufragam em caixotes pelos cantos da cidade, um de Ferlinghetti aos saxofones que nos fazem subir ao céu, um de Ruy Belo aos que acreditam que ainda tudo é possível, um de Eugénio aos que choram abraçados a uma macieira, um de Sophia aos que habitam o esplendor do mar, e um da Matilde Rosa Araújo a todas as crianças do mundo.


FELIZ NATAL

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ESTÚDIO 8 - DANÇAR É BOM



O ESTÚDIO 8 é a grande aventura do meu filho João e da Raquel que, sendo a minha única nora, acumula com o facto de ser a nora preferida.

Eles dançam. E dançam! E dançam! Como os invejo! E além de dançar, ensinam os outros a dançar.

Abriram há pouco tempo o novo espaço do ESTÚDIO 8 em Odivelas muito perto do Odivelas Parque.

Além das aulas há baile. Quer dizer, noites de dança. Salsa, rumba, bolero, tango, chá-chá-chá, funáná, etc, etc.

A próxima noite de dança é já no domingo.

De que´é que estão à espera? Bora lá!

domingo, 13 de dezembro de 2009

ESTE FACHO É OUTRO FACHO

Teria de ser assim. Fachos há muitos. Como contei aqui, estive na EBI do Facho,Vila Chã, Mindelo (o do desembarque liberal do séc. XIX), concelho de Vila do Conde.

Brinquei com a palavra Facho. Lembra outros tempos, lá isso lembra. Outros tempos e outras gentes.

A professora Teresa Queirós Viana enviou-me a explicação da origem deste facho. Está relacionado com o facto de neste sítio, em tempos idos, ter sido hábito fazer fogueiras que serviam de farol, alertando os barcos para proximidade da costa.

Agradeço á Teresa e aproveito para divulgar o seu belo blog. Há gente por este país fora a dar notícias da vida, das terra, de si própria, em dezenas ou centenas de blogs que merecem ser conhecidos.

Escrever é uma forma fantástica de resistência contra esta sociedade que nos banaliza, que nos espreme de identidade, de pátria, de palavras, que nos rouba da promessa de gente que somos, para nos reduzir a pequenos hamburguers sem passado nem futuro.

Já agora aproveitei para "roubar" ao blog um desenho de um dos seus meninos e um textinho da Luísa Dacosta.

Obrigado, Teresa.

http://buziodovento.blogspot.com/



Praia de Vila Chã com gaivotas,praia, barco, areia, meninos e tudo... (desenho do Alexandre, 5 anos)

O MAR TEM JARDINS...

- É o que lhe digo. O mar tem jardins...Jardins, cheios de búzios, corais e concheiros...A areia é lá tão fina como o pó do oiro. As árvores são maores que pinheiros velhos e os peixes andam de galho em galho, como aqui os pássaros. Como sei? Ora sei, porque sei. Há coisas que a gente sabe com o coração, sem precisar de as ver. (..)

Luísa Dacosta, A-Ver-O-Mar,Crónicas

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LER




Um vídeo forte, eficaz, moderno, apaixonante.

Das editoras Random House e Mondadori.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

LITERACIA


(Desenho - suponho - de Ziraldo)

Somente um em cada cinco portugueses possui nível médio de literacia. O que causa prejuízos directos no potencial de desenvolvimento do país. As conclusões constam de
um estudo apresentado há dias na Gulbenkian.

Na Suécia, a correspondência é de quatro em cada cinco suecos.

Literacia é a capacidade de ler e compreender o que se lê para resolver problemas concretos. Esta aptidão em Portugal, refere o relatório, é muito baixa. "Portugal apresenta os níveis mais baixos de competências de literacia de entre todos os países observados", referiu o coordenador do projecto, Scott Murray.

"O conhecimento e as competências das pessoas, quando postos aos serviço da produção, são um forte motor do crescimento económico e do desenvolvimento social". Mas, segundo os dados disponíveis para Portugal, a literacia tem no nosso país "um valor económico reduzido no mercado de trabalho".

Segundo o relatório "Portugal tem de dedicar muito mais atenção à literacia.", sublinhando que "...o país pagou um preço significativo por não ter aumentado a oferta de competências de literacia ao dispor da economia" e acrescentado que os alunos portugueses "têm poucos incentivos para investir tempo e esforço no aumento do seu nível de literacia".

Iniciativas como o Plano Nacional de Leitura ou as Novas Oportunidades são encorajadas, mas o relatório sustenta que "são insuficientes".

Convidado a comentar o relatório, o economista João salgueiro contrariou a defesa de mais investimento em Educação. "Se há indicador em que não estamos mal é no volume de recursos que dedicamos à Educação e temos dos piores resultados no desempenho". A causa "está no funcionamento do sistema de Educação e no sistema económico".

É óbvio para mim que os nossos dirigentes continuam a ter pouco fundamentadas sobre o que é a literacia e identificando literacia com ensino.

De facto, vencer o grande atraso da literacia em Portugal implica assumir-se este trabalho como desígnio nacional ao nível dos programas políticos, das estratégias mediáticas, do reconhecimento da sua necessidade por parte das nossas elites políticas e empresariais que tradicionalmente são tão avessas a estas questões.

Como muito justamente afirmou a ministra da Educação, Isabel Alçada, é preciso que "toda a sociedade se mobilize para que a melhor oferta de qualificações corresponda a um reconhecimento da parte do tecido empresarial".

Eu acrescentaria que é também necessário que esse tecido empresarial assuma a literacia como uma questão fundamental que não lhe pode ser alheia.

(A partir de elementos retirados de um artigo de ISABEL TEIXEIRA DA MOTA, Jornal de Notícias)

domingo, 6 de dezembro de 2009

VIOLANTE MAGALHÃES



A minha amiga Violante Magalhães vai fazer a apresentação do livro "NARRATIVAS LITERÁRIAS SOBRE E PARA A INFÂNCIA NO NEO-REALISMO PORTUGUÊS" que resulta da sua tese de doutoramento.

Todos os que foram alunos da Violante sabem bem o que ela tem feito pela clarificação do papel da literatura para a infância na formação e no trabalho dos Educadores de Infância e Professores do 1º Ciclo.

Estou ansioso por conhecer o seu o trabalho agora publicado. E espero que muitos dos seus alunos e ex-alunos também lhe levem o carinho que ela merece.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

COMUNIDADE DE LEITORES EM PORTIMÃO


Biblioteca Manuel Teixeira Gomes de Portimão cria comunidade de jovens leitores


A Biblioteca Manuel Teixeira Gomes pretende criar uma comunidade de jovens leitores, entre os 12 e os 15 anos, que durante o próximo ano proporcionará a descoberta da leitura como uma fonte de prazer e transmissão de ideias.

A participação nesta comunidade, intitulada “A Minha Vida dava um Romance”, permitirá a abertura de caminhos de possível experimentação da escrita como prolongamento e complemento da leitura.

Os interessados, que se devem inscrever na Biblioteca até 30 de Dezembro, também poderão desenvolver hábitos de leitura partilhada e dialogada, com interpretações em conjunto, estimulando a capacidade de entenderem como a leitura pode contribuir para a “escrita” do romance de vida de cada um.

Para isso a comunidade contará com a participação de José Fanha, que será o coordenador das sessões, cabendo-lhe seleccionar previamente os livros, o seu valor comprovado e a variedade dos temas a abordar. O escritor moderará as reuniões e proporá perguntas que estimulem a intervenção de todos os membros do grupo.

Promovida pela Câmara Municipal de Portimão e com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, a comunidade de jovens leitores iniciará a sua actividade em 2010.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

EB1/JI DE FACHO, VILA CHÃ, MINDELO



Desenho do Alexandre.


Na visita a esta escola estiveram também presentes os meninos do Jardim de Infância do Facho, também do Agrupamento do Mindelo.

Quando se visitam estas escolinhas e se contacta com o entusiasmo das professoras e o trabalho que fazem ficamos com a certeza de que a arte de ensinar é capaz de resistir a muito trato que tem sofrido.

(Há nomes que, sem querer e sem nada terem a ver, acordam pesadelos antigos... Esta do Jardim de Infância do Facho... Safa! lagarto, lagarto!)

domingo, 22 de novembro de 2009

PATXI ANDIÓN



(O Patxi Andión há uns anos atrás)


Quando os anos se acumulam, há memórias que nos chegam do passado e que nos deixam dúvidas. Será que o que recordamos aconteceu mesmo? E aconteceu da maneira como nos regressa do longe no tempo, ou a distância alterou os contornos das pessoas e dos acontecimentos?

Vem isto a proósito do Patxi Andion. Cruzei-me com ele em palcos de alguns espectáculos em finais dos anos 70, inícios de 80, quando os nossos companheiros espanhóis, ainda debaixo da ditadura franquista, vinham beber os ares de liberdade do 25 de Abril e traziam as suas canções, o seu riso luminoso, o seu abraço.

Recordo especialmente um grande espectáculo no Pavilhão de Cascais em que falámos muito, trocámos alegrias,e guardei para sempre uma amizade enorme pelo Patxi, pelo seu calor humano, além da admiração pelo excepcional artista que é.

Ele voltou a estar cá em 2007 para cantar no Coliseu na grande festa comemorativa do 25 de Abril. Também lá estive e desencontrámo-nos.

De repente, há dias, aparece-me o Patxi no Facebook. Trocámos umas mensagens e afinal percebi que a memória não me tinha enganado. A mesma alegria, o mesmo abraço, o mesmo companheirismo, a mesma forma de sonhar e de lutar com palavras pelo sonho.

Bem haja! E bem haja este mundo virtual que nos devolve amigos e memórias.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

AINDA A EB23 DE POMBAIS



Mais algumas fotografias da inauguração da Biblioteca José Fanha na EB23 de Pombais em Odivelas. Desta vez as fotografias foram tiradas pelo meu velho amigo e colega António fernandes.









terça-feira, 17 de novembro de 2009

EB1 de MODIVAS



Retratos feitos pelos meninos na Biblioteca EB1 de Modivas, Vila do Conde, antes da minha visita com histórias e versos.



Parece-me que fiquei muito, muito parecido.



Pelo menos na alma.

domingo, 15 de novembro de 2009

ESPELHO



Já aqui falei de "A ONDA" também da americana Suzy Lee, livro notável e que recebeu inúmeros prémios.

Acaba de sair da mesma autora "ESPELHO". Uma pequena delícia que pode tornar-se num instrumento de trabalho inestimável dos professores do 1º e 2º Ciclos.

Cada um destes livros conta uma história em imagens e sem palavras. Uma história aparentemente simples. Mas uma história aberta à reinvenção dos meninos que lhe pegarem.

Cada um pode inventar a sua história para os desenhos daquela menina que no primeiro livro brinca com o mar e no segundo se diverte com um espelho.

Experimentem professores, experimentem, paiss pôr os vossos meninos a descobirem uma história que pode também ser a história deles próprios.

A Editora Gatafunho continua a publicar livros de grande qualidade, diferentes e criativosque escapam aos modelos mais batidos e ronceiros. bem haja.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O CHEIRO DOS LIVROS



"OS LIVROS SÓ TÊM DOIS CHEIROS: O CHEIRO A NOVO, QUE É BOM, E O CHEIRO A USADO QUE É AINDA MELHOR"

Ray Bradbury, autor de muitos livros de ficção científica entre os quais o famoso e extraordinário "Farenheit 451", em que uma ditadura do futuro tem um corpo de bombeiros para queimar e destruir os livros. O romance foi levado ao cinema por François Trufault e teve como protagonistas Oskar Werner e Julie Christie

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

LÍDIA A MULHER TATUADA




1974

"ZÉ DO TELHADO - 150 ANOS DE AMOR E AVENTURAS"

pelo grupo

LIDIA A MULHER TATUADA E OS SEUS ACTORES AMESTRADOS

Há anos que não via o meu querido amigo Victor Valente (actor, encenador, mágico) com quem partilhei esta aventura tetral tão especial e delirante.

De repente, graças às virtualidades de facebooks e blogs, eis que ele me aparece de mansinho com esta fotografia.

Eu sou o de trás para quem não reconhecer. Menos 30 e tal kilos... E uma irreverência que ainda mora cá no peito.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SE DEUS FOSSE MULHER

Mário Benetti é um excepcional poeta uruguaio. Nasceu em 1920 e morreu há pouco mais de 6 meses.



E agora digam lá se os poetas, alguns poetas, não governavam o mundo muito melhor que muitos políticos?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

QUANDO É QUE O LIVRO COMEÇA?



Há quem goste de um e deteste o outro. Os portugeses que leem e os que não leem repartem-se frequentemente em dois clubes rivais: os que amam José Saramago e os que amam António Lobo Antunes. Amores irredutíveis na maior parte dos casos.

Quanto a mim são dois grandes escritores. Que país pequeno como o nosso se pode dar ao luxo de ter um Nobel e um recorrente candidato ao Nobel?

É claro que podemos não gostar da escrita de um ou do outro mas parece-me pelo menos tolo pretender riscar algum deles do melhor que se tem feito na literatura portuguesa.

Ambos os escritores alimentam de alguma forma esta fogueira tão portuguesa e tão caseirinha ao fazer afirmações que muitas vezes não acrescentam à qualidade das suas obras.

Mas por vezes também nos enriquecem com um comentário ou uma afirmação. E ainda bem. Porque levar-nos a reflectir para além da estrita literatura ou a propósito dela também é função de um escritor.

Por isso, para o bem e para o mal, gosto de ouvir o que dizem. Parei há dias nesta frase de uma entrevista de Lobo Antunes ao Público:

"O LIVRO SÓ COMEÇA QUANDO A GENTE ACABA O LIVRO"




Muito se fala ultimamente de leitura. Mas não estou certo de que falemos todos exactamente do mesmo quando falamos de leitura.

A frase de Lobo Antunes resume uma ideia que me parece importante guardar. O livro vive para alám da leitura. É como uma bomba de profundidade que nos pode fazer reflectir, interelacionar, crescer, perguntar, tremer, rir, mudar...

Isto é, a grande leitura vai para além da leitura. A grande leitura é aquela que nos deixa no coração sementes de inquietação e de mudança.

domingo, 1 de novembro de 2009

BEJA 1978



Em Beja, 1978. Fotografias enviadas pelo Silvestre Raposo. De poema às costas tenho percorrido o país já lá vão 40 anos.

É bom rever as imagens desse tempo de causas inscritas ardente, intensa, ingenuamente nos muros, nas palavras, no coração.

Agora foram-se as causas, as grandes causas, e há muito quem viva apenas para os efeitos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

MINHAS QUERIDAS BIBLIOTECAS

O que é que eu não posso dizer senão repetir uma e outra e outra vez: MINHAS QUERIDAS BIBLIOTECAS!

Esta foi a primeira na EB23 da Venda do Pinheiro:



O site é:

http://centroderecursos-vp.blogspot.com/

domingo, 25 de outubro de 2009

A MINHA AVÓ É QUE IA FICAR FELIZ

Pois é. A minha avó é que ia ficar feliz ao ver o nome do neto ser dado a uma Biblioteca.

Foi o que aconteceu na EB23 de Pombais, Odivelas, onde me escolheram para patrono da sua Biblioteca. Com inauguração oficial, placa de metal e tudo. Uma festa calorosa e doce. E eu, babado, pois claro, por me sentir tão integrado nesta família que vai crescendo pelo país fora e que procura espalhar por toda a parte a festa da leitura e o amor ao livro.



(A mesa da inauguração com a presença, entre outros, da Vereadora Fernanda Franchi em representação da Presidente Susana Amador)

A avó Berta Emília é que ia mesmo ficar toda satisfeita. Cresci com ela. E na sua casa havia livros e livros e livros. E foi ela que me contou histórias e me levou à leitura e à paixão pelos livros. Por isso, sempre que entro numa Biblioteca é como se entrasse na casa dela. Na casa de mim pequenino.




(Com a minha amiga Ana Manuela Gralheiro, filha do escritor Jaime Gralheiro e directora do Agrupamento de Escolas D. Dinis)

Já lá vão, com esta, 4 escolas que me deram a honra e o prazer de me escolher para patrono: a EB23 da Venda do Pinheiro, a EB1 nº 3 do Cacém, a EB1 do Olival Basto e, agora, a EB23 de Pombais.

Às vezes nã as visito tão frequentemente quanto desejava Mas estão sempre no meu coração.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O QUE É A FELICIDADE?




Para ficares a saber o que é a felicidade, disse o grande bode, vou contar-te a história de Selma, a ovelha que todas as manhãs ao nascer do sol comia uma boa porção de erva...



... e ensinava os filhotes a falar até ao meio dia...



... na parte da tarde dedicava-se ao desporto radical...




E não vou contar tudo mas tenho a certeza de que se lerem este livrinho da Gatafunho irão ficar rendidos aos ensinamentos que o grande bode tira da vida de todos os dias da espantosa ovelha Selma.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

AS PROFISSÕES INVISÍVEIS



Falo hoje dos livros e dos que trabalham para os produzir e que raramente são referidos. Os que têm profissões invisíveis. Ou que se tornam invisíveis para o público.

Os que faziam o papel, os que fundiam os tipos de chumbo, os tipógrafos, os compositores, os revisores. Entre os primeiros houve grandes artistas capazes de ir à procura do tipo, da letra, do efeite único. Hoje esse trabalho é feito pelo computador. Os revisores ficaram. São fundamentais para a qualidade de um livro e quanto melhor é o seu trabalho mesnos se vê.

Podíamos citar outros: os que leem e escolhem os livros que vêm do estrangeiro, os que adaptam os textos das bandas desenhadas, os tradutores, os capistas... E devo estar a esquecer-me de outros tantos que merecem também o nosso reconhecimento e a nossa ternura.

É preciso lembrar que todos eles, os que têm estas profissões invisíveis, trabalham para nos dar esse voo de ave, esse garante da liberdade de pensamento que é o livro.

Não fora o livro tão perigoso e não teria havdo e continua a haver uma terrível sanha de todos os ditadores para o destruir. ""A história da destruição dos livros", recentemente saída, e escrita pelo venezuelano Fernando Báez (Ed. Texto) fala-nos bem desse rio negro do obscurantismo.

domingo, 18 de outubro de 2009

A CABANA DOS PARODIANTES EM SALVATERRA

Cresci como muita gente a ouvir os Parodiantes de Lisboa à hora do almoço

A memória deles está na Cabana dos Parodiantes gerida pelo Fernando, filho de um dos irmãos Andrade que fizeram rir este país durante décadas.

O espólio dos Parodiantes está a pedir tratamento sério e, se calhar, um museu que guarde e nos permita revisitar as gravções dos programas, as publicações e as figuras impagáveis dos velhos Parodiantes como O Patilhas e Ventoinha, o Jack Tachas, o Cara Linda e outros tantos



A Cabana dos Parodiantes em Salvaterra de Magos é um café e restaurante onde se vendem os famosos "Barretes de Salvaterra", doces deliciosos, dizem-me, que eu sou diabético e muito bem comportado.

Com as paredes cobertas pelas memórias dos velhos Parodiantes, a Cabana é lugar de uma tertúlia que já leva cerca de 50 sessões e por onde tem passado gente famosa.



Há poucas semanas fui eu o convidado. E foi uma noite deliciosa pela hospitalidade do Fernando, pela condução do diálogo pelo Zé Peixe, jornalista da Lusa, pelo calor humano de todos os presentes.

Fico a agradecer à Paula Cruz Rodrigues que me fez o convite para este tão caloroso lugar de memória.

Para quem estiver interessado fica aqui o endereço do site da Cabana:
http://www.cabanadosparodiantes.com/htmls/conteudos/EkFlZkulAARejJKpsf.shtml

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ÁRVORE

E a propósito da criatividade vocabular brasileira, um poema de um poeta delicioso e que é um mestre na forma como usa e desusa a palavra e o sentido com a liberdade que só têm os meninos e os sábior.





MANOEL DE BARROS (1916)


ÁRVORE


Um passarinho pediu a meu irmão para ser a sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhe ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor
o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as
árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se
transformara, envaidecia-se quando era nomeada para
o entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos
brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela
permanência em árvore porque fez amizade com muitas
borboletas.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A RAINHA DO CINE ROMA



A criatividade verbal brasileira tem momentos fabulosos. Trago uma frase tirada de um livro que estou a ler tão apaixonada como apavoradamente. "A RAINHA DO CINE ROMA". Passa-se entre os meninos de rua de Salvador e mostra-nos que mesmo no fundo da desumanidade ainda há pequenas luzinhas que brilham.

O autor nem é brasileiro. Mas aprendeu bem os requebros da língua. É mexicano, escreve para jornais alternativos e trabalha com os adolescentes de rua no Brasil.

A frase, fabulosa e bem representativa da atitude de sobrevivência dos meninos de rua, é:

"JACARÉ QUE HESITA, VIRA BOLSA"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

VI MARATONA DA POESIA DE SINTRA



A MARATONA DA POESIA DE SINTRA tem já 6 anos. Passou pela Biblioteca Municipal - Casa Mantero, pelo Palácio Valenças e, este ano, em finais de Setembro, foi na Vila Alda.

Tivemos sessões para meninos do 1º Ciclo e para jovens do 2º e 3º Ciclos.

Houve poesia dita e partilhada pelos meninos e pelos jovens, com especial relevo para os jovens da Escola António Sérgio onde se tem feito um trabalho continuado e de grande qualidade em torno da poesia.

Tivemos contadores e histórias como o Ângelo Torres e a Ana Lage. A escritora Carla maia de Almeida leu o seu último livro.



A noite do último dia foi dos adultos.

A sala esteve cheia. Participaram dezedores diversos como o Jorge Lino, o Moisés, a Romana. Poetas como o Pedro Mota ou o António Ferra, o César, o Portinha

E muitos outros homens e mulheres que quiseram partilhar o prazer de dizer ou/e de dar a conhecer as suas produções poéticas.

A assistir e a oferecer-nos bocadinhos da sua arte, esteve o Rão Kyao.



Foi uma noite muito calorosa e tão participada que tentaremos repeti-la com maior frequência. Porque as coisas boas devem repetir-se. E a poesia agradece.

domingo, 11 de outubro de 2009

OS BEATLES E A CALVÍCIE




Nas visitas às escolas, os meninos e jovens costumam fazer-me perguntas.

Algumas são muito repetidas: Quando é que escreveu o seu primeiro livro? Quando é que resolveu que queria ser escritor? Qual é o livro que mais gostou de escrever?

Algumas menos interessantes como: Qual é o seu clube de futebol? Resolvi deixar as filiações futebolísticas fora destas conversas porque o ambiente de alarvidade à volta da clubite começa a sair do âmbito dos adultos e a estar demasiado presente nos mais pequenos.

Raras são as perguntas realmente diferentes que me fazem nestas visitas. Na EB23 de Vila Nova de Tazém, Gouveia, o Bruno do 5º ano saiu do mais banal ao perguntar-me qual era a minha banda favorita. Falei-lhe da minha última paixão: os Oquestrada. Quis saber outra. Falei-lhe naturalmente da banda cuja música foi o pano de fundo da minha adolescência e continua a ser o pano de fundo da minha memória mais afectiva: os BEATLES!

"Aaaaaaaaaaaaaaaah!" Fez-se luz no rosto do Bruno. "Por isso é que o sr. é um bocadinho careca!"

Devo confessar que não percebi logo o alcance do comentário.

"Careca, porquê?"

"Porque os fãs dos Beatles arrancavam o cabelo enquanto os ouviam tocar!"

sábado, 10 de outubro de 2009

MUSEU ABEL MANTA EM GOUVEIA

Eu tinha 18 anos quando entrei para a Escola de Belas Artes de Lisboa ao Chiado. A vida era um saco de maravilhas e eu estava doido por des´vendá-las e disfrutá-las.

Minha colega e no curso de Arquitectura e amiga do coração para sempre, a Isabel Manta morava no Bairro Alto numa casa fantástica chea de arte por odos os lados.

Sempre que possível eu e outros colegas íamos para lá. Naquele prédio moravam e trabalhavam o avô Abel Manta, a avó Clementina Carneiro, o pai João Abel Manta. Todos pintores! Eu só queria vê-los, ouvi-los, respirar o ar que respiravam.

O avô Manta, nome maior da pintura portuguesa da primeira metade do séc. XX, fumava às escondidas cigarros cravados aos colegas da neta e saía todos os dias de boina e papillon como mandam as regras dos pintores que são pintores. Descia ao Chiado e ficava-se à conversa na Brasileira, entre artistas, escritores e os inevitáveis Pides de serviço.

A avó Clementina pintava e fazia patchworks maravilhosos, alguns desenhados pelo filho João Abel. De vez em quando ia visitar o sobrinho (julgo que sobrinho...) João Pulido Valente condenado a 8 anos de cadeia por crimes políticos. E eu sentava-me ao lado dela a ouvir-lhe as histórias fantásticas dos presos políticos encerrados no forte de Peniche.

João Abel Manta era para mim um guru. E ainda é. Um mestre de quem bebi sempre que pude algum do seu muito saber sobre arte e cultura. João Abel é, além da sua dimensão cultural, um desenhador e um pintor fabuloso e discreto, com uma obra imensa e que só um país analfabeto pode ignorar ou reduzir o conhecimento da sua obra aos (extraordinários) cartoons que verteu para os jornais nos anos breves do 25 de Abril.

E ainda por lá apareciam o José Cardoso Pires, o Rolando Sá Nogueira, o Alexandre O'Neill e vários outros artistas, poetas e escritores.

O que eu aprendi só de os ver e ouvir!

Alguns anos mais tarde, a minha querida amiga Isbel Manta pôs-se a pintar também e, agora, todos os Mantas estão reunidos num Museu de excepcional qualidade em Gouveia. O Museu Abel Manta.



(Abel Manta, auto-retrato)

E não estão lá só os Mantas. Estão também os amigos dos Mantas. João Vieira, Lima de Freitas, Lurdes de Castro, rené Berttholo, Gil Teixeira Lopes, Nikias Skainakis e muitos mais. E ainda os trabalhos que têm ganho o Prémio de Pintura Abel Manta que já leva umas 3 edições, segundo creio. Um luxo!



(Abel Manta, Jogo de xadrez)

Vale a pena ir a Gouveia por imensas razões. A beleza da cidade, a imponência da Serra, tudo o que faz o seu encanto. Mas é crime não ir visitar o Museu Abel Manta pela excecional qualidade do seu espólio que atravessa uma parte significativa da pintura portuguesa do séc. XX.