quarta-feira, 27 de junho de 2012

TEM QUE SER


Ao fim do 9º ano, a minha filha Matilde disse-me que queria ir para Medicina. Avisei-a que era um objectivo ambicioso e que teria de trabalhar muito e bem para lá chegar. Ela respondeu-me: "O que eu quero, eu faço."

Deixou-me sem resposta e babado de orgulho. Logo de seguida, quando olhei para ela, devolvendo-lhe esse orgulho nos meus olhos, encolheu os ombros e disse: "TEM DE SER!"

E eu que estou farto de ouvir dizer a tanta gente" Tem de ser..." fiquei a pensar na diferença. E cheguei à conclusão que a diferença estava na exclamação para um lado e nos 3 pontinhos para outro.


(Miró)

Este país está tão cheio de três pontinhos... Tão cheio de "Assim assim...", "Cá se vai andando devagarinho...", "É preciso aguentar...", "Tem de ser.."

Precisamos tanto de gente que diga "TEM DE SER!" e que o diga na cara de quem nos tira qualidade de vida e dignidade e nos enche de mal viver porque obedece cegamente aos grandes senhores do capital.

É preciso um grande vento de mudança neste país, nesta Europa, neste Mundo. TEM DE SER!


(Picasso)

domingo, 24 de junho de 2012



A Biblioteca Municipal de Tábua é uma daquelas (felizmente muitas) onde somos sempre recebidos por um sorriso dos mais largos.

Porque as pessoas que ali trabalham sabem que estão a fazer bem um trabalho imprescindível ao futuro deste país: promover o livro e a leitura.

Gente que se chama Ana Paula, Filipe, Luís, Cátia, Ana e mais nomes não sei que a minha memória nem sempre me deixa ficar bem.

Eles e todos os que trabalham nesta área andam a navegar contra o economicismo, contra a iliteracia de quem governa, contra a escassez de meios.

Mas estão felizes porque são úteis, porque dentro de cada história, de cada livro, de cada biblioteca há cavalos a correr a galope para dentro da nossa alma.

Estive por lá na V Tábua de Leituras. E aqui fica prova na fotografia com a linda "andorinha" Helena Duque, a querida Luísa Ducla Soares, aminha amiga Carla Maria Rebelo, professora bibliotecária e a filha Matilde.

A festa durou uns dias. Foi bom. Foi muito bom.




sexta-feira, 22 de junho de 2012

XINGANDELE, O CORVO DE COLARINHO BRANCO


Regressando a Luandino Vieira,aqui fica notícia do seu livro:

"XINGANDELE, O CORVO DE COLARINHO BRANCO", ed. Letras e Coisas



É uma história para crianças, talvez. Para homens de coração lavado, certamente. Fala de um corvo que quer ser muito importante e, como tal, respeitado. E termina assim:

"Até hoje, o Senhor Kilombelombe Kia Xingandele, está a morar sozinho na torre do Liceu.

Tenho dito."

Acrescenta ainda o autor:

"Esta fábula urbana foi-me narrada em quimbundo e explicada em português pelo mais-velho António Lamb, natural da Kibala, em 1966, no campo de trabalho de Chão Bom, Tarrafal, Ilha de Santiago, em Cabo Verde."

Fico cá comigo a pensar como é importante ouvir as histórias que os mais-velhor têm para contar.

terça-feira, 19 de junho de 2012

LUANDINO VIEIRA


Há cerca de 15 dias tive o imenso prazer de conhecer Luandino Vieira. Escritor angolano, 14 anos preso no Campo de Concentração do Tarrafal.



Em 1965 a Sociedade Portuguesa de Autores, então presidida por Manuel da Fonseca, atribuiu o Prémio Camilo Castelo Branco ao seu romance "Luuanda". Essa ação fez com que a PIDE levasse a cabo uma famosa acção de desmantelamento da Sociedade.

Depois da Independência, Luandino desempenhou diversos cargos oficiais, até se retirar para Portugal onde vive em Vila Nova de Cerveira.

Entrei aí numa pequena livraria ligada a uma pequena editora que dá a conhecer literatura angolana. E dei com um homem que é para mim um mito.

Relembrei então que lá por volta de 1984 visitei em Cabo Verde o antigo campo de concentração que eraà data uma escola de sargentos do exército caboverdeano.

O comandante era um estudioso da história daquela terrível prisão do estado colonial e fascista português.

Levou-me pelo campo fora e contou-me pequenas histórias, nomeadamente a da janela gradeada onde Luandino, quando preso, dava migalhas de pão aos passarinhos e disso fazia o seu pequeno poema sem palavras mas cheio de amor à vida e aos outros, sejam pássaros, sejam homens.

Junto a essa janela, a pedido do comandante, acabei a dizer poesia aos homens do aquartelamento.

Como é fácil de calcular foi um momento único na minha vida. Revivê-lo com Luandino foi ainda mais.





sábado, 16 de junho de 2012

IDEIAS NOVAS

A falta de luz nestes dias enche muita gente de escuridão, de desespero, do sentimento de falhanço na vida. Estamos no reverso do 25 de Abril em que todas as portas se abriam à nossa frente.

"Adivinhar o presente
isso é que é mais complicado
tem o acesso bloqueado"

Sérgio Godinho, do álbum "Mútuo consentimento"

Sei pouco de política. Sei apenas das pessoas e das suas emoções. E este país está emocionalmente nas lonas.

Os nossos governantes continuam a dar cabo do país na sequência de outros que começaram a dar cabo do país,em colaboração com aqueles que ganham muito com este miserável esfrangalhanço que já dura há anos.

É claro que eles dão cabo da vida a muita gente com etes cortes na saúde, nas reformas,etc, etc. Mas não creio que fiquem muito preocupados. Porque essa muita gente junta não tem cara nem nome. Talvez fosse diferente se vissem o rosto de cada um dos pobres naufragados nos naufrágios que tão laboriosamente lhes têm provocado.

Olho por vezes para as fotografias destes governantes e penso que até talvez não sejam más pessoas. Têm famílias, pais e mães, filhos. Um ou outro terá a sua ou o seu amante. Leituras muito poucas, naturalmente. Vão ao futebol. Até talvez tenham alguns sentimentos subtis embora embotados. Gostam sobretudo de aparecer muito lustrosos nos noticiários. Alguns arranjam-se bem na vida. Outros nem por isso. Vários deles devem ser até uns tipos porreiros para os copos.

Não creio é que sejam tão inteligentes que tenham inventado sozinhos toda esta escuridão. Alguém os ensinou. Alguém os comanda. Eles não são más pessoas. Talvez apenas pouco dotados. Bons paus mandados. Muito obedientes mas sem nenhumas ideias próprias.



Por isso deixo aqui as palavras de António Nova, Reitor da Universidade de Lisboa, citado por Nicolau Santos, no Expresso de hoje, dia 16:

"Precisamos de ideias novas que nos deem um horizonte de futuro. Precisamos de alternativas. Há sempre alternativas. A arrogância do pensamento inevitável é o contrário da liberdade.E nestes estranhos dias, duros e difíceis, podemos prescindir de tudo, mas não podemos prescindir nem da Liberdade nem do Futuro."

quinta-feira, 14 de junho de 2012

BARREIRO




Mais duas escolas. Ests no Barreiro. Terra mítica da resistência. No tempo da Lisnave, da Siderurgia, das Sociedades recreativas,do teatro popular.

Primeiro na Escola 2/3 D. Luís de Mendonça Furtado.

Depois na EB1 nº 4.

E aqui foi na rua, o lugar nobre da poesia.

Foi bom





segunda-feira, 11 de junho de 2012

SORRI

Às vezes o riso é também uma bela forma de resistir às agruras da vida, ao desemprego, à exploração, ao facto de sermos tão pequeninos como os brincos dos nossos jogadores, tão pequeninos como os disparates dos nossos eleitos disparatantes, tão pequeninos como a falta de dignidade frente às exigências dos grandes que mandam discricionariamente neste mundo.

Charlot foi um mestre da grandeza.

E nós somos grandes, como os romances dos nossos maiores romancistas, e os poemas dos nossos grandes poeta, e os projectos dos nossos grades arquitectos, e a arte dos nossos grandes artistas, e a inteligência dos nossos grandes pensadores, e a ciência dos nossos grandes cientistas, todos eles raramente a dar a cara na pantalha da (des)informação.

Por tudo isto e muito mais:

quarta-feira, 6 de junho de 2012

AO TELEFONE


Um boi encontra um carneiro e pergunta-lhe:

-Então? Como vai isso?

-Cá se vai andando, com a cabeça entre as ovelhas.

Á autoria deste diálogo é do Manuel Freire e do Chico Fanhais e muitos amigos concordarão por certo que é um bom retrato deste país.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

SÁTÃO


Vou andando pelo país. Pelas escolas do país. A contar histórias e a dizer poemas. A falar de livros e leituras. Alegremente. Com algum cansaço quando vai chegando o fim do ano.

Muito poderei contar destas viagens. Do esforço de professores que, por vezes, em condições difíceis. Da alegria dos meninos, da nossa relação frequentemente muito intensa em volta da magia das palavras.

Desta vez fui a Sátão. Em cima, fotografias da visita à EBI Ferreira de Aves. Em baixoà a EB1 de SátãO.