terça-feira, 8 de dezembro de 2009

LITERACIA


(Desenho - suponho - de Ziraldo)

Somente um em cada cinco portugueses possui nível médio de literacia. O que causa prejuízos directos no potencial de desenvolvimento do país. As conclusões constam de
um estudo apresentado há dias na Gulbenkian.

Na Suécia, a correspondência é de quatro em cada cinco suecos.

Literacia é a capacidade de ler e compreender o que se lê para resolver problemas concretos. Esta aptidão em Portugal, refere o relatório, é muito baixa. "Portugal apresenta os níveis mais baixos de competências de literacia de entre todos os países observados", referiu o coordenador do projecto, Scott Murray.

"O conhecimento e as competências das pessoas, quando postos aos serviço da produção, são um forte motor do crescimento económico e do desenvolvimento social". Mas, segundo os dados disponíveis para Portugal, a literacia tem no nosso país "um valor económico reduzido no mercado de trabalho".

Segundo o relatório "Portugal tem de dedicar muito mais atenção à literacia.", sublinhando que "...o país pagou um preço significativo por não ter aumentado a oferta de competências de literacia ao dispor da economia" e acrescentado que os alunos portugueses "têm poucos incentivos para investir tempo e esforço no aumento do seu nível de literacia".

Iniciativas como o Plano Nacional de Leitura ou as Novas Oportunidades são encorajadas, mas o relatório sustenta que "são insuficientes".

Convidado a comentar o relatório, o economista João salgueiro contrariou a defesa de mais investimento em Educação. "Se há indicador em que não estamos mal é no volume de recursos que dedicamos à Educação e temos dos piores resultados no desempenho". A causa "está no funcionamento do sistema de Educação e no sistema económico".

É óbvio para mim que os nossos dirigentes continuam a ter pouco fundamentadas sobre o que é a literacia e identificando literacia com ensino.

De facto, vencer o grande atraso da literacia em Portugal implica assumir-se este trabalho como desígnio nacional ao nível dos programas políticos, das estratégias mediáticas, do reconhecimento da sua necessidade por parte das nossas elites políticas e empresariais que tradicionalmente são tão avessas a estas questões.

Como muito justamente afirmou a ministra da Educação, Isabel Alçada, é preciso que "toda a sociedade se mobilize para que a melhor oferta de qualificações corresponda a um reconhecimento da parte do tecido empresarial".

Eu acrescentaria que é também necessário que esse tecido empresarial assuma a literacia como uma questão fundamental que não lhe pode ser alheia.

(A partir de elementos retirados de um artigo de ISABEL TEIXEIRA DA MOTA, Jornal de Notícias)

4 comentários:

angelina maria pereira disse...

Muito preocupantes estas conclusões mas, infelizmente, não me surpreendem... Desde que os políticos descobriram que a educação era um 'filão' bom de explorar...A degradação acontece porque o paradigma da sociedade está a mudar mas a escola teima em ficar no passado...
Já agora, a ilustração é mesmo de Ziraldo!

Margarida Tomaz disse...

Um tema mais do que oportuno! Só me tem parecido que a política educativa reinante confunde literacia com letramento, não para bem deste, mas a bem do vazio da tecnologia. Digo isto porque tenho constatado que a palavra literacia, nas acções e formações que por aí andam, anda sempre agarrada às novas tecnologias...

Por outro lado, não nos podemos esquecer que o edifício escolar foi literalmente devassado. Os professores foram arrasados e são eles que ensinam a ler, num mundo cada vez mais avesso à leitura... Hoje a autoridade falha até para falar de livros... Repor a autoridade é essencial. Como? Não sei...

JOSÉ FANHA disse...

Querida Margarida,

Estou totalmente de acordo consigo quanto se identifica literatia com novas tecnologias.

Chegámos à televisão em 1958/59 sem ter passado pela alfabetização generalizada.

Chegamos ao computador e à net sem ter passado pela leitura.

Sabendo nós que a net é um meio recente, mal estudado ainda, e que prima pela quantidade de incorrecções, erros e falsidades que veicula, a verdade é que sem um trabalho prévio e fundo relativamente à leitura, pode ser um erro grave chegar à net sem instrumentos para verificar a fiabilidade dos seus conteúdos.

E esses instrumentos são dados, como é óbvio, pela leitura.

Beijinho

Júlio Pêgo disse...

O tema é muito actual.Com este vertiginoso desenvolvimento tecnológico assistimos à proporção inversa da falta de tempo para reflexão e ganho em sabedoria.Contudo, assistimos à abertura de imensas janelas do conhecimento que devem ser aproveitadas.