quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O FUTURO QUE HOUVE E O QUE DEIXOU DE EXISTIR


Cresci a acreditar que era preciso andar para a frente. Amanhã ia ser sempre melhor. Trazíamos utopias no bolso. Ideias que falavam de mudança, de amor, de fraternidade, de solidariedade.

Chorei na passagem de ano de 67 para 68 a ouvir os Beatles a cantarem em directo na RTP (a partir da BBC) "All you need is love".

O amor valia muito nesse tempo. O amor que fazia com que cada pequeno gesto ganhasse força e sentido e caminhasse em direcção à maravilha.

O mercado, a bolsa de valores, o crédito bancário eram coisas velhas, sem alegria por dentro, fora de tudo o que fosse humanidade, amizade, futuro.

E nós estávamos carregados de futuro.

Eu cá talvez ainda esteja. Com esta idade não creio que tenha cura.

Mas assisti ao assassinato de vários sonhos. O da democracia chilena estrangulada pelos homens de Pinochet foi dos mais trágicos.

Luís Sepúlveda fala-nos desse crime. O futuro estrangulado de forma brutal.

Mas há muitas for mas de estrangular o futuro. Estamos a viver há alguns anos uma forma "suave" de matar os sonhos de futuro. As estratégias serão diferentes. Mas os mandantes são sempre os mesmos.

É por isso que os poetas, absolutamente zangados mas irresponsavelmente utópicos, só podem escrever que amanhã tem de ser melhor.



"E TUDO O QUE ESTAVA GRÁVIDO DE FUTURO FICOU, DE REPENTE, ENVENENADO DE PASSADO"

Luís Sepúlveda, “A sombra do que fomos”



2 comentários:

RC disse...

Antigamente chamavam-lhe esperança e a esperança era um nome tão bonito!Representava os sonhos, o tal "amanhã melhor" que refere... Por alguma razão, passou de uma aspiração para nome próprio de muita gente. A minha avó chamava-se Esperança e se fosse viva teria mais de 100 anos.
Hoje em dia não existem muitas Esperanças por aí. Por que será? Estará esta palavra esvaziada de conteúdo? Será que as pessoas vão mesmo perdendo a esperança? Eu acredito que sim.
O amanhã tem de ser melhor, mas... Verdade seja dita, custa-me tanto acreditar nisso.

Filoxera disse...

Curioso.
Li há dias "A aventura de Miguel Littin, Clandestino no Chile" e, ainda há menos dias, "Patagónia Express"
:-)
Beijos.