sábado, 20 de outubro de 2012

MANUEL ANTÓNIO PINA


O Pina era um amigo, o Pina era um cidadão, o Pina era um brincalhão com as palavras quando escrevia para as outras crianças e também para a criança que era, o Pina era um poeta e quando morre um poeta é uma esperança para nós todos que se apaga.

Adeus pá. Ao menos, agora, não tens de aturar esta parvalheira. Vai meu meu amigo. Até um dia.

(O texto seguinte foi tirado de empréstimo do "Casal das Letras")

«Agora que os / olhos se fecharam /
fico acordado toda a noite /
diante de uma coisa imensa.»

Morreu Manuel António Pina, o poeta, o jornalista, o cronista, o autor de livros para crianças, o dramaturgo, o ensaísta, o advogado – um ser de afetos para quem «O amor é a única coisa capaz de sobreviver e a única coisa por que vale a pena que sobrevivamos. O amor no seu mais vasto sentido, naquele que São Paulo lhe dá na Primeira Epístola aos Corintos, quando diz que vai indicar o caminho que ultrapassa a todos.» Assim nos falou um dia Manuel António Pina numa longa entrevista (da qual recuperamos alguns excertos áudio: aqui ) e também nesse instante inesquecível defendeu a ideia de que «Somos seres para o esquecimento. Eu serei esquecido, o gato que me olha de cima do computador será esquecido. Somos feitos para o esquecimento (...)». Permitimo-nos, no entanto, hoje, num profundo abraço de despedida e de saudade, contrariar o poeta: Manuel António Pina, nunca serás esquecimento. Perdurará a tua «voz acordada». Poderás mais uma vez interpelar-nos «– não é a morte o que as palavras procuram?». Talvez, Manuel. Mas as palavras da tua poesia, da tua vasta obra, são vida. A morte do corpo não te mata. Escuta estes versos teus: «(...) Agora que os / olhos se fecharam / fico acordado toda a noite / diante de uma coisa imensa.»

3 comentários:

Gisela Silva disse...

Tenho lido as muitas mensagens que por aqui vão ficando. O nosso querido amigo merece tudo quanto de bom se diz sobre ele. Que saudade já!
Um abraço carinhoso.

Leonor Lourenço disse...

Obrigada José Fanha por este belo texto. Ele continua na nossa voz.
Leonor Lourenço

Mar Arável disse...


Não morreu o Poeta