quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O JORRO DA FONTE QUE ME IRROMPE



Salette Tavares teve formação em filosofia, desenvolveu estudos no âmbito da Estética, dedicou-se com mais profundidade a partir de 1949 aos problemas da linguagem e da teoria da arte. Publicou nos anos 60, na revista Brotéria, importantes ensaios de estética. Colaborou nos cadernos Poesia Experimental, estreando-se poeticamente com o livro Espelho Cego (1957). Em 1974 e 1975, realizou happenings em várias galerias, ligando sempre a palavra e a intervenção artística de vanguarda.


SALETTE TAVARES (1922-1994)


NASCENTE


Em gotas de ametista e de mamilo
sorvendo hoje nos favos da romã
escorro vale extenso e, de tranquilo,
o grande olhar de ontem amanhã.

Firme de barco, de terra e de castelo
navegando com o rosto no levante
na paisagem do tempo te congelo
ó múltiplo de ser, ó cada instante!

Com raízes de partida e de chegada
eu bemdigo o dia e dou-lhe a mão
abrindo em flor na crua madrugada
para beber o céu e conhecer o chão.

Na pupila do tempo me suspendo,
espero o rio para invadir o monte
e no fervor da sede e do tormento
sou o jorro da fonte que me irrompe.


1 comentário:

Mar Arável disse...

Roubem-me tudo menos a liberdade