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ALDA LARA (1930-1962)
TESTAMENTO
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhamdo algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
ALDA LARA vei muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Freqüentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império
Declamadora,chamou a atenção para os poetas africanos.
O poema publicado acima ouvi-o pela primeira vez na voz do meu querido amigo, jornalista, comentador de econimia e amante de poesia Nicolau Santos.
Gosto muito de dizer que se um homem das bandas da economia gosta de dizer poesia, talvez este mundo tenha uma pequena esperança de salvação...
1 comentário:
Antes de vir aqui estava precisamente a ler sobre Alda Lara.
Este poema ainda não conhecia.
Obrigada!
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