quinta-feira, 13 de agosto de 2009

CORRE, CORRE CABACINHA



(Edição Caminho, 1991)


Recolher a tradição oral tem sido o trabalho louvável de muitos escritores. São exemplo disso os Romanceiros recolhidos por Garcia de Resende, Almeida Garrett ou Teófilo Braga. São ainda exemplo disso as recolhas de Leite de Vasconcelos, Adolfo Coelho e outros em relação às histórias ue passaram de boca em boca, de geração em geração, e fizeram o caldo em que se foi construindo o imaginário dos portugueses durante séculos.

Pegar nessa tradição e retrabalhá-la literariamente, oferendo-a às crianças e aos jovens de hoje de forma cuidada e sem atraiçoar o sentido original tem sido um trabalho louvável levado a cabo por inúmeros escritores contemporâneos de que terei de referir António Torrado pela extensão do seu trabalho e pela qualidade que lhe conferiu.

Também Alice Vieira pegou nalgumas desses histórias da tradição e as adaptou e tornou utilizáveis por pais e professores, juntando-as numa excelente colecção em que cada história é ilustrada por um ilustrador diferente.

"Corre, corre cabacinha" é daquelas histórias imbatíveis. Toos nós crianças e adultos fazemos força para que a velhinha, escondida na cabaça, escape ao lobo esfomeado.

Assim, deixamo-nos embalar no ritmo justo, poético e encantatório com que a minha querida amiga Alicinha renovou esta história mantendo-lhe integralmente o encanto original.

Noites e noites a fio li esta história às minhas filhas. E ainda tenho a sua música deliciosa no ouvido:

Não vi velha nem velhinha
não vi velha nem velhão
corre corre cabacinha
corre corre cabação

As ilustrações de Miguel Ribeiro são justas, servem bem o texto, sublinham o lado assustador do lobo e o rolar vertiginoso da cabaça onde a velhinha vai escondida, embora não saiam de um registo tradicional.

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