segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

OS RESUMOS DA LITERATURA

Cada vez mais a literatura é reduzida a resumos.

Chega-se ao fim do 12º ano, por vezes, sem ter lido um livro inteiro. Apenas resumos.

Pergunto-me se alguns professores terão lido mais que resumos das obras que trabalham com os seus alunos.

No último número do “Magazine Littéraire”, num artigo intitulado “Como ensinar a literatura”, afirma o seu autor que o ensino de literatura no liceu, cada vez mais técnico, está a negligenciar a especificidade e a beleza das obras. Eu diria que ngligencia o cheiro, o tacto, o som, a alma das obras

O jornal “O Sol” e o jornal “El País” estão publicar resumos de grandes obras da literatura com o desejo (por certo louvável da parte de alguns dos envolvidos) de que as crianças se familiarizem com os Grandes Romances da Literatura.

Mas tenho dúvidas. Muitas dúvidas. Pergunto-me se, em nome da vulgarização de certos livros, não se estará a afastar o futuro leitor do prazer maior, sumptuoso, fantástico da sua leitura.

E pergunto-me ainda se todos falamos da mesma coisa quando estamos a falar de “LER”. Que tipo de leitura pretendemos que os nossos jovens conquistem?

Disse-me um amigo que via as pessoas a ler mais nos transportes públicos. Lêem o “Destak”, o “Metro”… Será que isso significa ler mais em geral ou apenas ler mais esse tipo de leitura?

Perguntei-me o que fazemos quando nos dedicamos à leitura e fiz uma lista de respostas que poderia continuar muito para além deste espaço.

Lemos por entretenimento. Lemos á superfície. Lemos no fundo. Lemos de lado. Lemos de frente.

Lemos à procura de emoções. Lemos para aprender, para viajar, para ser, para sobreviver, para, para rir, para chorar.

Lemos para nos conhecermos a nós próprios, para nos ficcionarmos, para nos descobrirmos.

Lemos para nos descentrarmos. Lemos para nos entendermos com o outro, com o diferente. e para descobrirmos que fazemos parte de um mundo muito mais vasto do que a nossa rua.

Será que tudo isto, ou mesmo parte, uma pequena parte de tudo isto, cabe num resumo?

5 comentários:

Caçadora de Emoções disse...

Zé Fanha,
Sem dúvida que concordo consigo!Uma postura destas minimiza o prazer da leitura, retira-lhe o verdadeiro sentido. Mas, eu sou suspeita porque esta sempre fez parte de mim! Temos que ser mais tolerantes, procurando aceitar que o Mundo e os outros não correspondem aos nossos sonhos. Um abraço, Paula

Luís Santiago disse...

Fanha,

este pedaço de prosa tocou diversos pontos. Na verdade nas escolas já não se obriga a ler como antigamente. Hoje há o msn, o telemóvel, os computadores, a televisão, tanta coisa que nem há tempo para uma coisa tão simples como ler. Somos (eu assumo essa responsabilidade) culpados destes novos tempos. Ler é partilhar acima de tudo. E a juventude de agora gosta de partilhar?
Um abraço,
Luís

samuel disse...

Zé Fanha

Para responder resumidamente, não!

Mestre Filipe e as Suas Marionetas disse...

Olá Boa Tarde,

Começo por vos felicitar pelo vosso blog, felizmente há cada vez actividades nas Escolas, Jardins-de-infância, Bibliotecas Escolares, etc., e cada vez mais participação de Bibliotecários, Professores, Educadores e Pais. Precisamos sempre de mais educação, cultura e informação, e os blogs são um bom meio para isso.

Aproveito para vos convidar a espreitar o blog www.mestrefilipe.blogspot.com e conhecerem o nosso trabalho. E claro se acharem interessante a colocar um link na vossa página.

Ate sempre.

mcm disse...

oi Fanha!
cada um lê com a espessura da sua essência, logo cada um vê com os olhos da sua interioridae que é sempre um misto de genético, adquirido e por si próprio desmultiplicado.
como fazer pão sem sementes,água e fermento?
teremos que retornar aos clássicos, eles tinham lá tudo. falta-nos dissecar as suas camadas, uma a uma.
tal como na moda, tudo é déjá vue.
só falta mesmo, ter competências para ver.
pergunta-se então?
de que vale dizermos que somos todos iguais, se o que vêmos é tão dramaticamente diferente?