Cada vez mais a literatura é reduzida a resumos.
Chega-se ao fim do 12º ano, por vezes, sem ter lido um livro inteiro. Apenas resumos.
Pergunto-me se alguns professores terão lido mais que resumos das obras que trabalham com os seus alunos.
No último número do “Magazine Littéraire”, num artigo intitulado “Como ensinar a literatura”, afirma o seu autor que o ensino de literatura no liceu, cada vez mais técnico, está a negligenciar a especificidade e a beleza das obras. Eu diria que ngligencia o cheiro, o tacto, o som, a alma das obras
O jornal “O Sol” e o jornal “El País” estão publicar resumos de grandes obras da literatura com o desejo (por certo louvável da parte de alguns dos envolvidos) de que as crianças se familiarizem com os Grandes Romances da Literatura.
Mas tenho dúvidas. Muitas dúvidas. Pergunto-me se, em nome da vulgarização de certos livros, não se estará a afastar o futuro leitor do prazer maior, sumptuoso, fantástico da sua leitura.
E pergunto-me ainda se todos falamos da mesma coisa quando estamos a falar de “LER”. Que tipo de leitura pretendemos que os nossos jovens conquistem?
Disse-me um amigo que via as pessoas a ler mais nos transportes públicos. Lêem o “Destak”, o “Metro”… Será que isso significa ler mais em geral ou apenas ler mais esse tipo de leitura?
Perguntei-me o que fazemos quando nos dedicamos à leitura e fiz uma lista de respostas que poderia continuar muito para além deste espaço.
Lemos por entretenimento. Lemos á superfície. Lemos no fundo. Lemos de lado. Lemos de frente.
Lemos à procura de emoções. Lemos para aprender, para viajar, para ser, para sobreviver, para, para rir, para chorar.
Lemos para nos conhecermos a nós próprios, para nos ficcionarmos, para nos descobrirmos.
Lemos para nos descentrarmos. Lemos para nos entendermos com o outro, com o diferente. e para descobrirmos que fazemos parte de um mundo muito mais vasto do que a nossa rua.
Será que tudo isto, ou mesmo parte, uma pequena parte de tudo isto, cabe num resumo?
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5 comentários:
Zé Fanha,
Sem dúvida que concordo consigo!Uma postura destas minimiza o prazer da leitura, retira-lhe o verdadeiro sentido. Mas, eu sou suspeita porque esta sempre fez parte de mim! Temos que ser mais tolerantes, procurando aceitar que o Mundo e os outros não correspondem aos nossos sonhos. Um abraço, Paula
Fanha,
este pedaço de prosa tocou diversos pontos. Na verdade nas escolas já não se obriga a ler como antigamente. Hoje há o msn, o telemóvel, os computadores, a televisão, tanta coisa que nem há tempo para uma coisa tão simples como ler. Somos (eu assumo essa responsabilidade) culpados destes novos tempos. Ler é partilhar acima de tudo. E a juventude de agora gosta de partilhar?
Um abraço,
Luís
Zé Fanha
Para responder resumidamente, não!
Olá Boa Tarde,
Começo por vos felicitar pelo vosso blog, felizmente há cada vez actividades nas Escolas, Jardins-de-infância, Bibliotecas Escolares, etc., e cada vez mais participação de Bibliotecários, Professores, Educadores e Pais. Precisamos sempre de mais educação, cultura e informação, e os blogs são um bom meio para isso.
Aproveito para vos convidar a espreitar o blog www.mestrefilipe.blogspot.com e conhecerem o nosso trabalho. E claro se acharem interessante a colocar um link na vossa página.
Ate sempre.
oi Fanha!
cada um lê com a espessura da sua essência, logo cada um vê com os olhos da sua interioridae que é sempre um misto de genético, adquirido e por si próprio desmultiplicado.
como fazer pão sem sementes,água e fermento?
teremos que retornar aos clássicos, eles tinham lá tudo. falta-nos dissecar as suas camadas, uma a uma.
tal como na moda, tudo é déjá vue.
só falta mesmo, ter competências para ver.
pergunta-se então?
de que vale dizermos que somos todos iguais, se o que vêmos é tão dramaticamente diferente?
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