sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A CRIANÇA EM RUÍNAS





na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. Mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


José Luís Peixoto

5 comentários:

Tiago Carvalho disse...

Sempre que oiço alguém dizer este poema, sempre que leio este poema fico com pele de galinha, o coração quase que pára.

Caçadora de Emoções disse...

Este poema mexe mesmo com o nossos sentimentos e emoções!
Ficamos rendidos a ele...

Beijos,

Maria disse...

Fico arrepiada com este José Luís Peixoto. Na verdade acho que tudo o que ele escreve me arrepia. É intenso.

Obrigada.
Beijos

Júlio Pêgo disse...

Poema notável que nos remete para a solidão, perda e o luto. A ausência e a morte física é o outro lado íntimo da memória afectiva intemporal.

Rita Carrapato disse...

Impossível alguém ficar indiferente a este poema, assim como, sou incapaz de ficar indiferente a alguns de "A Casa, a Escuridão".

Abraço

Rita