domingo, 28 de setembro de 2008

RILKEANA




Eines ist, die geliebte zu singen


Como cantar o amado?

Quem ama
fica cheio de não-saber
não pára de procurar

Entrevendo o fulgor do êxtase
percorre o rio de sangue
conhece os horrores da guerra íntima
toda vermelha e crua
fértil em rupturas
incessante nos ataques

Não
nenhum rosto materno sobre o nosso debruçado
nos consolaria
se houvesse esse rosto
essa ternura impossível de entender

Nada nos pode consolar
do excessivo peso do amor
que oprime como a noite
cheia de não-saber
como tudo o que é divino
e inventado

De facto
não amamos como as flores
totalmente simples na sua entrega
Quando amamos
deixamos de ser o que somos
transfigurados pelo desejo
que mata
destrói
violenta tudo

E perscrutando a noite
que a si própria se escava e aplaina
amando
fitamos a intermitência das estrelas
deslumbrados por um brilho extinto
que fere com lentidão sideral
o ermo íntimo do nosso coração

Inatingível sempre
e como tal desejado
o verdadeiro amado


Ana Hatherly

4 comentários:

Rita Carrapato disse...

Muitas são as formas como os poetas cantam e descrevem o amor. Esta arrepiou-me.

Obrigada por ter trazido esta autora que desconhecia completamente.

Boa tarde de Domingo

Beijinhos

Rita

Mar Arável disse...

Boa memória a tua

e o prazer que ela nos dá

Caçadora de Emoções disse...

O Amor, sempre o Amor!
O mais Belo dos sentimentos, o mais Poderoso, que faz mover o Mundo, mas é tudo menos pacífico!
Gostei muito deste poema, da forma como Ana Hatherly usa e abusa das palavras...
Obrigada por o ter partilhado connosco.

Beijos e um grande sorriso :)

dona tela disse...

Uma semana muito fixe para si.