sábado, 25 de outubro de 2008

LUÍS GARCÍA MONTERO





OS FILHOS



Por favor, não tragam ruído
à tranquilidade deste poema
escrito com a mão
do que fecha a porta ao apagar
a luz.
Os meus três filhos acabam de adormecer.
Necessito de silêncio para pensar
neles.


Cores indeléveis num lápis
de traçado infantil,
voltam a desenhar
- mas desta vez a sério –
uma árvore, uma casa, a memória
de uma luz acesa
com sabor a Dezembro,
os cristais do medo
e a ilusão do futuro
debaixo do sol dos dias…..

Um filho é o segundo país onde nas-
cemos.
Com a sua falta de idade faz-nos
repetir aniversários
e devolve-nos
ao mundo do relógio,
às chamadas telefónicas
que são uma raiz
na margem do tempo.

Um filho ensina-nos a perguntar
com voz de água
a verdade decisiva da terra.
Sermos como juncos, e em amor flexíveis,
não assegura respostas
nem confirma o repouso.

Elisa, Irene, Mauro,
cada qual com o seu porto e com a sua
chuva,
luzes cintilantes de um mesmo rio.
Ninguém revele, por favor,
que acabo de escrever-lhes um poema.
Os filhos crescem com espinhos.
Nunca sei imaginar o que podem dizer do que digo,
o que podem pensar do que
penso,
o que podem fazer com o que faço

Luís Garcia Montero

(Tradução José Fanha)

4 comentários:

Vera disse...

Lindo!!!

Maria disse...

Com toda a humildade que sei ser difícil a tradução de poesia digo: está lindo, este poema!
Obrigada!

Um beijo

Caçadora de Emoções disse...

Um poema verdadeiramente belo!!!
Obrigada.
Bom resto de domingo, e um melhor início de semana.

Abraços e um grande sorriso :)

Júlio Pêgo disse...

Ser poeta e pai de três filhos na actualidade escassa, é obra! Obrigado pela tua amável divulgação de mais um autor que merece conhecer melhor.
Júlio