domingo, 12 de abril de 2009
ESTRANGEIROS QUE ESTAVAM A LER
(Corto Maltese)
A citação que se segue é tirada de um romance que não me entusiasmou excessivamente do jovem siciliano Ottavio Cappellani, “Quem é Lou Sciortino?”
“Na praia de Marzamemi dois turistas estão a ler, sentados nas espreguiçadeiras. Percebe-se que são turistas porque estão a ler.”
Mesmo um livro não nos toque profundamente pode ter alguma coisa importante numa página perdida ao fundo de um capítulo sombrio. Foi o caso. Quando li a frase citada pensei: "Isto podia ter sido escrito por um português..."
Depois, experimentei perguntar o seguinte em várias escolas e bibliotecas: "Temos dois homens numa esplanada. Um lê um livro. O outro apenas apanha sol e bebe uma cerveja. Um é português e o outro é estrangeiro. Qual é o português e qual é o estrangeiro?"
A resposta foi sempre, sempre a mesma: o português é o que não está a ler.
Isto é particularmente angustiante. Não só somos o país de Europa que menos lê como temos de nós próprios a imagem de pessoas que não lêem.
Os que trabalham neste campo, nas queridas Bibliotecas Municipais e Escolares, fazem das tripas coração e, apaixonadamente, inventam mil e uma maneiras de promover o livro e a leitura.
Mas há tanto, tanto a fazer neste campo! Todas as iniciativas são boas. E é fundamental que a urgência da luta contra a iliteracia seja inscrita nas urgências económicas, políticas e culturais deste país.
(Numa biblioteca em França)
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8 comentários:
Pois é, mas o esforço dos que trabalham nas bibliotecas e nas escolas no sentido de promover a leitura através de iniciativa sem dúvida indispensáveis, não sortirá resultados visíveis sem que haja o envolvimento efectivo das famílias. E esse ainda está longe de ser o desejável...
Cumprimentos
Pois... mal vai o país em que é necessário criar um plano nacional de leitura para por as pessoas a ler...
Nós aqui, mesmo sem muito espaço, temos a nossa minibiblioteca e todas as semanas temos tempos reservados na nossa agenda semanal para os livros e a leitura...
e também podemos requisitar livros e levar para casa.
Um abraço a nossa turma
Pois tem toda a razão cara amiga (ou amigo?).
É fundamental que a família leia, que leia aos filhos e ainda que os que trabalham na promoção da leitura sejam eles próprios leitores.
São indispensáveis mediadores de leitura de grande comunicabilidade.
Sabemos, no entanto, que envolver as famílias na batalha da leitura é uma tarefa urgente mas muito difícil.
Talvez seja necessário perceber se todos estamos a falar da mesma coisa quando estamos a falar de leitura.
Depois, podemos criar alguns programas, através de jardins de Infância, escolas, empresas, destinados aos jovens pais.
No entanto, quanto a mim o fundamental é pôr a leitura na moda. Tornar a leitura num desígnio colectivo.
E para isso é indispensável conjugar uma série muito vasta de vontades. Entidades políticas, jornais e sobretudo televisões, personagens mediáticas, autarquias.... E servir tudo isso em doses vastas de paixão, alegria, imaginação e diversidade.
Zé Fanha,
Um grande, grande Bem Haja por todas estas iniciativas!..
Doseadas de paixão, criatividade sorrisos e um sem número de outras emoções. Características que o identificam tão bem.
Viva os Livros e a Leitura!
Beijo grande com muita saudade,
Um meio de promover a leitura terá que partir das editoras,na minha opiniäo.Os livros em Portugal säo dum preco elevado e nem todas as pessoas têm tempo para se dirigir a uma biblioteca.Eu leio muito mas adqueri o habito na Alemanha.Aqui,qualquer pessoa lê num electrico ou autocarro,no jardim púbico ou na piscina enquanto apanha sol.Aqui,um livro está sempre á mäo e os precos säo razoaveis.Um dos motivos porque leio em alemäo.
É verdade Zé Fanha, que a família tem um papel preponderante no gosto pela leitura. Bastariam a um pai ou mãe perderem 5 minutos a ler uma história e deixarem-na num ponto intrigante para que ao outro dia fosse o filho a pedir a leitura.
Nem sempre é «não gostar de ler», mas sim «não saberem se gostam de ler».
Um abraço
Marília
Lido assim, somos nós e os sicilianos os que não lêem pelo que feita a pergunta, na escola, poderiamos ter obtido a resposta que o português era o que bebia a cerveja enquanto o outro não seria o siciliano com certeza. Se, obviamente, conhecessemos os sicilianos.
O melhor mesmo é beber uma cerveja, apanhar sol e devorar um bom livro, tudo feito na esplanada, e já agora uns tremoços para acompanhar. Quem não sabe o que é isso, não sabe nada, nem pode ser bom português, mesmo sendo benfiquista.
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