segunda-feira, 28 de setembro de 2009
ALÇAPÃO
O Manuel Cintra é um amigo bissexto. Aparece e desaparece como as andorinhas. Volta e meia regressa ao beiral, ou melhor, ao telemóvel, e atira-me com uma saraivada de poesia que me deixa arrumado.
Digo "deixa arrumado" porque gosto muito do que o Manuel escreve. E da forma como diz o que escreve. Porque o que ele escreve, como o que eu escrevo, não se destina só ao papel dos livros mas também, quiçá principalmente, à festa da voz.
Os livros sigo-lhos há que anos. Quase sempre publicações fora dos grandes circuitos. Guardo-os como pequenas objectos queridos, pequenas preciosidades, magníficos búzios dados à costa na praia da poesia.
O Manuel Cintra move-se fora dos circuitos oficiais e escreve na linha limite do sangue, sempre com um pé nas estrelas e outro no abismo. Grande poesia. Da melhor que por aí se publica.
Este último livro chama-se "Alçapão". Tem momentos de cortar a respiração.
"...eu estou preso no meu corpo e gostaria tanto uma só vez que fosse o meu corpo a estar preso em mim, mas não, há regras para tudo, até para o desejo de não ter regras."
"Queria uma ternura de carne e osso, um beijo só de lábios, um amor defendido por glóbulos brancos como num processo de infecção queria que uma mulher me infetacsse sem eu a ter procurado, queria uma explosão ensurdecedora, a meio do verão, que me cegasse e corroesse até à medula, até perder os ossos e a dor..."
E etc, e etc, & ETC. Quer dizer… A editora é a & ETC. Mais do que uma editora. Uma trincheira antiga de muitos anos na resistência cultural. Às vezes são discutíveis um pouco oblíquas as suas escolhas. Mas até nisso merece o nosso imenso respeito. Porque o discutível deve acontecer justamente para se discutir.
Guardo algumas muitas dos livros da & ETC como momentos grandes da minha leitura. Por isso, faço uma dupla vénia a este livro que guardarei no lugar dos afectos mais fundos.
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1 comentário:
Não conheço este novo livro do Manel. Como sabes vivo na Atlântida e o correio azul nunca chega cá. Talvez até ele já não se recorde de mim, mas eu tenho-o bem dentro da minha memória e do meu coração. Dá-lhe um abraço quando falares com ele. Um outro abraço (Aquele!) para ti.
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