sábado, 10 de outubro de 2009

MUSEU ABEL MANTA EM GOUVEIA

Eu tinha 18 anos quando entrei para a Escola de Belas Artes de Lisboa ao Chiado. A vida era um saco de maravilhas e eu estava doido por des´vendá-las e disfrutá-las.

Minha colega e no curso de Arquitectura e amiga do coração para sempre, a Isabel Manta morava no Bairro Alto numa casa fantástica chea de arte por odos os lados.

Sempre que possível eu e outros colegas íamos para lá. Naquele prédio moravam e trabalhavam o avô Abel Manta, a avó Clementina Carneiro, o pai João Abel Manta. Todos pintores! Eu só queria vê-los, ouvi-los, respirar o ar que respiravam.

O avô Manta, nome maior da pintura portuguesa da primeira metade do séc. XX, fumava às escondidas cigarros cravados aos colegas da neta e saía todos os dias de boina e papillon como mandam as regras dos pintores que são pintores. Descia ao Chiado e ficava-se à conversa na Brasileira, entre artistas, escritores e os inevitáveis Pides de serviço.

A avó Clementina pintava e fazia patchworks maravilhosos, alguns desenhados pelo filho João Abel. De vez em quando ia visitar o sobrinho (julgo que sobrinho...) João Pulido Valente condenado a 8 anos de cadeia por crimes políticos. E eu sentava-me ao lado dela a ouvir-lhe as histórias fantásticas dos presos políticos encerrados no forte de Peniche.

João Abel Manta era para mim um guru. E ainda é. Um mestre de quem bebi sempre que pude algum do seu muito saber sobre arte e cultura. João Abel é, além da sua dimensão cultural, um desenhador e um pintor fabuloso e discreto, com uma obra imensa e que só um país analfabeto pode ignorar ou reduzir o conhecimento da sua obra aos (extraordinários) cartoons que verteu para os jornais nos anos breves do 25 de Abril.

E ainda por lá apareciam o José Cardoso Pires, o Rolando Sá Nogueira, o Alexandre O'Neill e vários outros artistas, poetas e escritores.

O que eu aprendi só de os ver e ouvir!

Alguns anos mais tarde, a minha querida amiga Isbel Manta pôs-se a pintar também e, agora, todos os Mantas estão reunidos num Museu de excepcional qualidade em Gouveia. O Museu Abel Manta.



(Abel Manta, auto-retrato)

E não estão lá só os Mantas. Estão também os amigos dos Mantas. João Vieira, Lima de Freitas, Lurdes de Castro, rené Berttholo, Gil Teixeira Lopes, Nikias Skainakis e muitos mais. E ainda os trabalhos que têm ganho o Prémio de Pintura Abel Manta que já leva umas 3 edições, segundo creio. Um luxo!



(Abel Manta, Jogo de xadrez)

Vale a pena ir a Gouveia por imensas razões. A beleza da cidade, a imponência da Serra, tudo o que faz o seu encanto. Mas é crime não ir visitar o Museu Abel Manta pela excecional qualidade do seu espólio que atravessa uma parte significativa da pintura portuguesa do séc. XX.

2 comentários:

Maria disse...

E já agora almoçar no Júlio...

:)
Beijos

Júlio Pêgo disse...

É sempre estimulante saber que a arte mora um pouco por todo o lado. Obrigado pela informação, pois na próxima vez que passar em Gouveia irei visitar pintores que tanto admiro nesse museu.