Para meu mal, a poesia não ocupou o lugar determinante que costumo reservar-lhe na minha vida.
A verdade é que a poesia portuguesa anda tristonha. Pouca alma e muita circunstância sem lírica.
É verdade que, ultimamente, não tenho acompanhado tudo o que se publica com a proximidade que gosto. Às vezes é difícil. As publicações de poesia são cada vez mais clandestinas. E isso é comum pela Europa fora com a talvez exceção de Espanha.
É particularmente triste que Portugal, país de poetas desde sempre, ande tão afastado dos Camões e tão dado aos inteligentes "Gaspares".
Já andámos de braço dado com os grandes. Agora... Isto é tudo da 3ª Divisão Regional. Sinais dos tempos...
De poesia vou folheando o que apanho. Tento deitar o olho aos poetas falados nas recensões literárias dos jornais. Apanho um poema aqui, um verso ali, mas nada que me deixe a tremer, a voar, a viver melhor. Nem pior. A coisa parece-me mesmo cinzenta. Talvez, redigo, talvez a culpa seja da minha falta de atenção. Ou talvez não.
Veremos. Porque em arte é o futuro que quase sempre serve de medida à qualidade. Os astros de falso brilho sucedem-se com frequência para logo um pouco mais à frente se apagarem.
E aqui vão algumas das excepções que apanhei na minha rede de apanhar poetas:
Luís Filipe Castro Mendes é um belo e discreto poeta que tem um magnífico domínio oficinal. Mestre no soneto, reconhece-se na sua poesia a influência da lírica camoneana praticada por outros poetas como Natália (mais barroca que camoneana, David Mourão-Ferreira, Manuel Alegre, o próprio Ary dos Santos, Vasco Graça Moura ou Joaquim Pessoa.
Neste livro surpreende-nos pelo abandono dessa lírica mais musical para abraçar um outro escrever,mais lento e tecido em torno de uma reflexão melancólica sobre a vida e o passar do tempo, sobre o mundo e os outros que com o poeta se cruzam, tendo sempre como pano de fundo uma espécie de maravilhosa e inquieta viagem através da Índia.
É um livro para ler e reler. para mastigar. para deixar que a sua beleza nos entre no peito e aí faça ninho.
Não é frequente grandes poetas terem reconhecimento em vida. As nossas elites são demasiado cegas e ingratas. Mas, por vezes, e inesperadamente,acertam.
O prémio Pessoa atribuído ao Pina, como carinmhosamente os amigos o tratam, é justíssimo. E este livro é o primeiro publicado depois desse prémio.
A exigência da sua escrita, a música vigiada, o rigor com que aborda o acto de escrever, tornam a sua poesia e este livro em particular indispensáveis no registo do que de melhor se tem escrito na poesia portuguesa.
O Mia é um excelente amigo, um belo escritor, um homem que tem enriquecido a língua portuguesa.
Parece-me que está a cair fora das modas dos nossos opinistas de jornal. Por isso mesmo é preciso lê-lo. E relê-lo. Dá-lo a ler aos nossos jovens. Passá-lo de mão em mão. Infectar a vida com o seu olhar luminoso. E agradecer-lhe tudo aquilo que generosamente nos oferece na volta de cada poema.
Fora dos circuitos académicos e jornalísticos, aproveitando muitas vezes as possibilidades da blogosfera, vão aparecendo poetas a que é urgente dar atenção. Poetas que é preciso inscrever entre o que de melhor acontece na poesia portuguesa.
É o caso da Licínia Quitério que vai crescendo de poema para poema e de livro para livro. Vai no terceiro e nós agradecemos os livros e o blog (O SÍTIO DO POEMA) onde a sua poesia vai vendo a luz do dia em cada dia e conquistando uma roda de amigos, cúmplices e admiradores.
Não é frequente um primeiro livro ter a força deste livro de Mário Domingos. Experimentem lê-lo. Já não é um jovenzinho nos seus primeiros versos, este jurista, mas traz-nos a frescura de quem pega na matéria de que é feita a vida e a vai tornando em poesia.
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1 comentário:
Tenho andado com o Tradutor de Chuvas :-)
Leio, pouso, volto sempre...
Beijinhos.
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