sábado, 3 de novembro de 2007

POUCOS MAS BONS

Recordo frequentemente a amizade e companheirismo que me uniram e unem ao Carlos Paredes, quer do convívio entre palcos, algumas viagens e espectáculos quer de um tempo em que jantávamos juntos com alguma frequência ali para as bandas de Benfica.

Em baixo uma fotografia na Casa do Alentejo em Lisboa com um outro querido amigo que foi o actor Rogério Paulo.

Hoje relembro do Carlos Paredes esta pequena história que nunca esquecerei.Íamos fazer uma sessão de música e poesia em Vendas Novas, segundo creio. Era domingo, almoçámos umas migas pelo caminho e, quando chegámos, só tínhamos um funcionário da Câmara Municipal para nos abrir o velho Cine-Teatro. Era improvável aparecer público para nos ver, disse-nos ele, porque o sector da Câmara que devia noticiar e divulgar o acontecimento se tinha esquecido de o fazer. Apareceram mesmo assim cerca de 10 pessoas. Não chegavam para encher a primeira fila de uma imensa plateia que teria umas centenas de lugares horrivelmente vazios.

Dizer poesia para uma imensa sala vazia é um arrepio. Eu estava gelado e sugeri ao Paredes que desistíssemos daquela sessão e combinássemos com a Câmara Municipal fazê-la noutra data."Então e estes, amigo Fanha?", perguntou-me o Paredes, apontando para os pouquíssimos presentes. "Estão cá para nos ver, não estão? São poucos mas bons! Vamos a eles!"E o Paredes tocou com o entusiasmo e o empenho com que tocaria numa daquelas grandes salas de concertos da Europa onde também levava a sua maravilhosa arte.

Depois desta grande lição que o Paredes me deu nunca mais pensei em desistir de um compromisso para dizer poesia, nem que tenha apenas um espectador.

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